Puerilidades
Nas últimas semanas, ainda que susceptíveis de múltiplas interpretações, vários indicadores económicos começaram a revelar sinais positivos.
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Em simultâneo, a França socialista, desligou o farol da oposição e decidiu fazer como todos os outros socialistas europeus subscritores do Tratado Orçamental: aplicar austeridade. O objectivo anunciado é o equilíbrio das contas públicas francesas e o crescimento sustentável. O efeito lateral, por cá, foi sublinhar a irrelevância da alternativa que o PS dizia ser.
Somando a isto a pequena segurança de a Europa estar a precisar de um ano menos negro para continuar a adiar soluções de fundo, os mercados, mesmo mais severos connosco do que com os outros estão mais brandos no uso do azorrague e vão dando corpo à ideia da possibilidade de um programa cautelar que não seja exactamente um mal disfarçado segundo resgate.
Em suma, depois de "um anus horribilis", o PSD podia arregaçar mangas e retomar a liderança do País e, mais importante, retomar o seu devido lugar no Governo.
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Em três ou quatro dias, duas iniciativas políticas disparatadas – a inútil convocação de um referendo sobre um tema no final do seu processo legislativo e uma picardia politiqueira com Marcelo Rebelo de Sousa – bem podem ter deitado a perder o capital de confiança que parecia estar finalmente a reconstruir.
Comecemos pelo devido registo de interesses. Sou daqueles que acham sempre e em qualquer circunstância que a atribuição de direitos está acima da orientação sexual de cada um tal como a raça, credo ou outro qualquer dos preceitos constitucionais relativos à garantia da igualdade.
Por isso, enquanto deputado, não hesitei em votar a favor do direito ao casamento das pessoas do mesmo sexo, como agora, se porventura houvesse referendo, votaria sim nas duas perguntas. Mesmo à que, deliberadamente, se lá colocou para baralhar, confundir e já agora, trabalho fácil, convocar a homofobia.
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Segundo registo. Não fora a reacção de domingo – outra desistência, confesso, chateou-me – e votaria em Marcelo Rebelo de Sousa se se candidatasse a presidente da República.
Mas não é por as iniciativas da direcção do PSD contrariarem o que penso – acontece muito e não tem mal nenhum, – que me suscitam esta perplexidade.
É pelo que revelam de puerilidade e desejo quase mórbido de conflito inútil para dentro e fora do partido.
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A primeira é particularmente grave porque quebra um traço distintivo do PSD. Ainda recentemente, enquanto Sócrates obrigou todo o PS a votar a favor do CPMS, Manuela Ferreira Leite manteve a liberdade de cada um dos eleitos decidir pela sua cabeça e convicção pessoal
E isso, esse exercício de liberdade, sempre valorizou a percepção que os eleitores tinham do PSD. A percepção é, claro, menos importante que a substância efectiva dessa raiz de liberdade, que de forma incompreensível se perdeu, isso sim, num precedente grave, pela mão do único presidente do Partido que esteve na JSD. Aceitar a tese que foi a JSD a autora da proeza seria desrespeitar quer a JSD, quer o PSD e perder tempo a discutir o que não aconteceu.
Da mesma maneira, o coloquialismo com que se escreve sobre cata-ventos a propósito da definição de um perfil presidencial surpreende tanto como a reacção de Marcelo. Não sei se ambos perceberam aquilo que, de fora, se viu… O presidente do PSD embirra por escrito com o candidato mais bem colocado da direita e este aproveita para enterrar a carapuça e, mais do que aparentemente, sair de cena.
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Triste cena para a semana em que os funcionários públicos se confrontaram com o OE de 2014 e que os mercados ainda não aliviaram verdadeiramente a vida a ninguém… Isto sim, é importante, o resto são brincadeiras de crianças mal-educadas que ninguém valoriza e desdouram o resto de bom que se podia esperar de uma moção de estratégia para esse futuro de independência que, nos intervalos da traquinice, nos prometem.
Advogado, militante do PSD
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