Leonel Moura leonel.moura@mail.telepac.pt 07 de Dezembro de 2012 às 12:15

Para o mar e em força

Primeiro os projetos, depois o dinheiro. Este sábio princípio, que está na base de muitos empreendimentos nos mundos empresariais e da cultura, foi invertido.

Primeiro os projetos, depois o dinheiro. Este sábio princípio, que está na base de muitos empreendimentos nos mundos empresariais e da cultura, foi invertido. No Portugal de Passos Coelho estamos agora num primeiro o dinheiro e depois, se sobrar alguma coisa, os projetos. Como não sobra nada, está tudo parado.

A miséria é sempre deprimente. Para os que a sofrem diretamente, sobretudo, mas também para os outros, ricos e remediados, que se confrontam com ela a cada passo. Quem se atreve, por estes dias, a festejar um qualquer sucesso sabendo que muitos dos seus compatriotas não têm o suficiente para comer, quanto mais para terem uma vida digna? A miséria, quando generalizada, como é o nosso caso, arrasta toda a sociedade para a depressão e a paralisia. É fácil dizer que as crises são oportunidades ou que é preciso continuar a pensar positivo, mas a paisagem que nos rodeia apela à prostração. Quantos de nós somos obrigados a um suplemento de força de vontade para perseverar nas nossas atividades? Para tentar fazer mais e melhor quando só se ouvem queixumes plenamente justificados?

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O país precisa de projetos. Algo que possa motivar e estimular a sociedade inteira. E não falo do futebol ou de pequenos e temporários desafios mundanos. Mas de algo suficientemente importante, duradouro e sustentável a médio e longo prazo.

Dei assim por mim a pensar o que Portugal podia estabelecer como grande projeto nacional e geracional. Cada um de nós tem as suas manias e vocações. A minha, como sabem os que leem esta coluna, vira-se para o futuro, com um particular interesse pelas novas tecnologias.

Considero, desde há muito tempo, que o mais importante projeto da humanidade, nesta era em que nos coube viver, é a exploração espacial. Mas aí não temos qualquer hipótese. Não há dinheiro nem "know-how" relevante. Portugal tem, por isso, que ficar pela Terra, e talvez, melhor dito, em particular pelo mar.

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A ligação de Portugal com a temática dos Oceanos é óbvia. Pela história e pela geografia. Nos últimos anos criaram-se comissões e entidades dedicadas ao assunto. Penso, entre outros, no importante papel do Professor Mário Ruivo. Algumas universidades, como a do Algarve, têm desenvolvido importantes estudos sobre a matéria e temos hoje especialistas internacionalmente reconhecidos. Também no campo político não tem faltado a participação ativa. Mário Soares, por exemplo, presidiu à Comissão Mundial Independente para os Oceanos no âmbito das Nações Unidos, a qual elaborou importantes documentos. Falta agora dar um novo impulso a este destino.

Não podendo, nem devendo, contar com o Estado, é à chamada sociedade civil que cabe dar forma a um projeto nacional de valorização da temática dos mares. Não se trata de pensar exclusivamente na questão da exploração dos recursos, vulgo pescas. Bem pelo contrário, já que estas se vão tornando num problema, mais do que numa solução. Estamos hoje conscientes da importância dos oceanos nas questões climáticas e do equilíbrio ecológico, mas também como campo de novas oportunidades de conhecimento e de exploração lúdica não predadora. Dois domínios de investigação e de investimento são, para mim, evidentes. O turismo subaquático e o desenvolvimento de uma robótica marinha. Portugal tem todas as condições para se tornar pioneiro nestes dois campos. É só uma questão de foco e decisão informada.

Nota: a semana passada (muito a propósito) critiquei a posição da maioria dos deputados europeus portugueses que votaram contra uma lei comunitária de proibição de um método bárbaro de pesca que consiste em cortar as barbatanas de tubarões e atirá-los de novo vivos para o mar. Recebi das deputadas do Bloco de Esquerda, Marisa Matias e Alda Sousa, a informação de que na verdade votaram a favor da lei. Devo assim um pedido de desculpa a estas duas deputadas. O erro fica contudo a dever-se a deficiente informação do próprio parlamento europeu que até hoje continua a indicar um distinto sentido de voto no "site". Já agora, segundo me dizem, a deputada Edite Estrela também se absteve, o que não sendo bom, não é tão mau.

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Este artigo de opinião foi escrito em conformidade com o novo Acordo Ortográfico.

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