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O Financeiro:
04 de Março de 2005 às 13:59

A Cidade da Roupa Branca

Parte I – elenco dos figurões da cidade
«Um dia mais tarde virão a saber a que negócio cada um destes figurões se dedica... » - promete!

Vagueando ao volante do seu Chevrolet Corvette de 1957, impecavelmente branco (como os colarinhos do dono), estofos em pele vermelha, João fazia um balanço, por certo martelado e não auditado, da sua vida. Um percurso marcado pela indecisão, onde a única coisa certa desde todo o sempre havia sido a sede de fazer dinheiro, muito dinheiro, sem esforço. O convívio com os amigos tinha-lhe oferecido um vasto leque de opções. Se tivesse que os segmentar – pensava - conseguia identificar quatro grupos: os Financeiros e os Funcionários, por um lado, e os Falsários e os Finórios, por outro.

Os Financeiros caracterizavam-se por expediente que consistia em sacar dinheiro sem se notar, aproveitando- se do jogo desmaterializado do deve e do haver. Os segundos, os Funcionários, aproveitando-se do ambiente potencialmente idóneo das organizações que os acolhiam, socorriam-se da sua condição de um entre vários, gerindo e girando dinheiro de muitos - ambiente deveras propício à confusão e aos ganhos daí decorrentes.

João esboça agora um sorriso ao lembrar-se das aventuras vividas com os amigos Financeiros, classe na qual se inclui. Consegue arrumá-los em seis perfis distintos, para além do seu: os que com base em informações frescas, obtidas de forma ilegítima, fazem grandes negociatas; os que prestam informações falsas acerca dos seus activos, fabricando mais valias a partir do nada; os que prometem lucros fulminantes a uns, omitindo que os pagarão com o dinheiro sacado através da mesma conversa a outros; os que pedem emprestado já com a intenção de não pagar; os que fabricam factos para ganhar a legitimidade de subtrair dinheiro a seguradoras; e, finalmente, os que, indo directo ao assunto, recorrem a truques com meios de pagamento, acabando por pagar sem custos.

E o que dizer dos Funcionários, rapaziada que todos os dias se dirige para os seus empregos com aquele ar certinho de quem não anda a larapiar? Bom, aí João conhecia toda a espécie de malandragem...

Os que, em benefício próprio ou ao serviço de interesses alheios, se especializavam em sabotar as suas organizações ou em sacar informações confidenciais; os que, investidos de um certo estatuto e de confiança, abusavam desse estatuto e dessa confiança para, através da satisfação de interesses alheios, inflação de remunerações ou apropriação de activos, aumentar a sua riqueza pessoal; e, finalmente, aqueles que se concentravam no exterior, especializando-se na pilhagem de clientes ou na corrupção. Tudo uma gatunagem, portanto.

Quanto aos outros tipos, os Falsários e os Finórios, João optava por um convívio com reservas. Tratava-se de amigos relativamente aos quais já convinha manter uma certa distância, porque, em virtude de uma forma de actuação eventualmente mais «personalizada» (ou menos anónima do que a do sistema financeiro ou das organizações), eram mais propensos a atrair a guarda.

Pensaria neles mais tarde. Agora deleitava-se a imaginar aquilo que seria a sua cidade ideal, enquanto o barulho grave do oito cilindros do seu Chevy o embalava nesta sua viagem sem destino.

16h - marcava o seu Blancpain Extra-Plate. O telefone toca. Era Pedro, um dos Falsários com quem mantinha intensas relações comerciais. Pedro dizia ter uns sacos para entregar. Eles bem sabiam de quê.

Pedro já tinha feito de tudo enquanto falsificador: roubava identidades alheias; inventava documentos emoeda, vendia gato por lebre (fossem bens ou serviços prestados); negociava quadros inautênticos e outros tipos de «arte»; e, como se não bastasse, era um incorrigível batoteiro! Um rico menino, sem dúvida.

«Hoje tirei o dia para desenferrujar a máquina; não é dia de ir buscar sacos» - dissera a Pedro. João possuía já uma considerável fortuna e podia dar-se ao luxo de rejeitar alguns serviços. No entanto, sabia que a sua Louis Cartier tinha ainda muitos cheques para assinar - pagando as extravagâncias de que se havia tornado dependente. Sabia, ainda, que necessitava de um retorno acrescido que o compensasse dos riscos que corria. Com efeito, no meio em que circulava era preciso ter muito cuidado. Relacionar-se com os tipos com quem «trabalhava» diariamente podia colocá-lo em maus lençóis num abrir e fechar de olhos.

Os Finórios eram os piores.

Baseando a sua actuação numa habilidade fora do comum para convencer, os Finórios encarnavam um conjunto de personagens que incluía Impostores, Cúmplices, Oportunistas, Dealers, Vendedores e até Mágicos e Feiticeiros (estes acabando por ser vítimas do seu próprio feitiço).

«Um dia mais tarde virão a saber a que negócio cada um destes figurões se dedica... » - promete!

Vamos, então, ficar à espera...

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