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David Zamith
13 de Setembro de 2007 às 13:59

O crime compensa?

É pacífico que a Segurança, a par da Justiça ou da Educação, constitui um pilar central de suporte a qualquer sociedade moderna e democrática. Não espanta, por isso, que nos tempos mais recentes se multipliquem as vozes alarmadas e pessimistas sobre a sol

Não espanta, por isso, que nos tempos mais recentes se multipliquem as vozes alarmadas e pessimistas sobre a solidez dos alicerces da nossa democracia e da nossa modernidade, vozes essas confrontadas com o verdadeiro ambiente de “far west” que parece dominar certo tipo de negócios escurecidos pela calada da noite.

Para o cidadão comum torna-se preocupante, arrepiante mesmo, acompanhar noticiários repletos de tiroteios, assaltos e espancamentos atribuídos a pistoleiros a soldo de interesses económicos milionários e ilegítimos, como são o tráfico de droga, de armas ou de mulheres.

É espantoso verificar que, a fazer fé nos jornais, todo este submundo criminal estará perfeitamente identificado e até enquadrado pela participação activa e conivente de elementos das forças policiais. Mais: que tem a direcção de empresários bem conhecidos, alguns deles verdadeiras figuras públicas, proprietários de estabelecimentos de diversão ou de restauração que nunca foram sequer licenciados pelas entidades competentes, conforme a ASAE fez o favor de nos elucidar, para vergonha das tais entidades (in)competentes!

Como estamos num país europeu, quero crer que muito disto não passará de exagero jornalístico em busca de uma subida de audiências. Que estaremos apenas perante acções de vingança entre grupos restritos de marginais em luta pelo seu ganha-pão. Enfim, que a máfia se move por outras paragens?

Aliás, o novo ministro da Administração Interna já veio dizer que as estatísticas não elucidativas, que os índices de criminalidade estão baixos e recomendam-se. Ora, todos sabemos que os ministros e as estatísticas não mentem. Mesmo quando o ministro ainda chegou ao cargo há pouco tempo e revela um tique persistente para a desvalorização das realidades mais incómodas. Mesmo quando um cidadão come um frango inteiro e outro não come nada e a estatística nos assegura que cada um deles comeu meio frango.   

Mas, à cautela, convirá não facilitar nestas questões da Segurança. Será pois desejável que o ministro se habitue a desconfiar mais das estatísticas e avance com medidas concretas que devolvam a autoridade às forças policiais e lhes assegurem condições para o exercício das suas cada vez mais complexas missões.

Por carência óbvia de estruturas e de meios humanos para o combate ao crime, Portugal corre o risco de se tornar num paraíso para todo o tipo de gangs organizados que deixaram de conhecer fronteiras nestes tempos de globalização. Há pois muito a fazer para atalhar os perigos da insegurança latente, a começar pela recuperação de um policiamento de proximidade. E não se pense que o esforço estará apenas reservado ao ministro da Administração Interna. Qualquer estratégia de combate ao crime só vingará desde que assente numa correcta e aprofundada política de prevenção.

Pode parecer um lugar-comum, mas também aqui tudo começa nos bancos da escola. Desde logo na inversão da actual tragédia que se verifica com o insucesso e o abandono escolar, na correcção de medidas que apelam à preguiça, como o rendimento mínimo, ou na concretização de um plano de estudos capaz de formar cidadãos com valores éticos e morais e com competências para o mercado de emprego real. Ou seja, para os empregos que existem e não para aqueles que gostaríamos que existissem.

Porque uma sociedade nunca será verdadeiramente livre enquanto vigorar, como hoje acontece em Portugal, a ideia de que o crime compensa.

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