Yuriko Koike 11 de Janeiro de 2015 às 20:42

Mais quatro anos para Abe

Nas eleições de Dezembro, o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, do Partido Liberal Democrata (LDP, nas signas em inglês), e o seu parceiro de coligação, o Partido Komeito, ganharam 326 dos 475 lugares da Dieta, mantendo a sua maioria constitucional na Câmara Baixa do Parlamento. Foi uma conquista extraordinária – que o Japão não testemunhava há décadas.

Os partidos da oposição do Japão não ofereceram uma alternativa convincente para as políticas do governo de Abe. O Partido Democrático do Japão (DPJ, nas siglas em inglês), que liderou o governo há menos de três anos, foi mesmo incapaz de apresentar candidatos suficientes para disputar cada assento. A sua estrada de volta à relevância política parece longa e sombria.

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É claro que, no âmbito do sistema eleitoral de partido único, os partidos menores no Japão estão em clara desvantagem. De facto, uma vitória esmagadora na ascensão de Abe pode muito bem levar a que alguns desapareçam completamente da vida política. 

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O único partido da oposição que obteve ganhos significativos na votação recente foi o Partido Comunista Japonês, que quase triplicou os seus lugares, de oito para 21. O JCP tem procurado recentemente posicionar-se como "oposição confiável" ao LDP – embora nunca tenha provado ser particularmente "confiável", pelo menos não na promoção de políticas realistas.

 

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Tendo isto em conta, os ganhos do JCP foram provavelmente impulsionados mais pelo desejo dos eleitores descontentes de assinalar a sua frustração com Abe. De facto, nestes distritos onde a eleição colocou os candidatos do JCP e LDP um contra o outro, muitos cidadãos não se deram ao trabalho de votar. Isto contribuiu para um recorde de baixa afluência às urnas de 52% - um defeito real na vitória do LDP.

 

O principal actor na eleição foi, sem dúvida, o próprio Abe cuja ousada estratégia macroeconómica, chamada "Abenomics", atraiu uma atenção considerável desde que foi iniciada há dois anos. Mas três outros actores também tiveram papéis importantes para assegurar a vitória de Abe.

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O primeiro foi a Arábia Saudita. Numa reunião da OPEP nas vésperas da eleição, o principal produtor do grupo, a Arábia Saudita, arquivou os planos para restringir a produção de petróleo para compensar a rápida descida dos preços a nível mundial, permitindo-lhes continuar a cair. Isso tem trazido benefícios consideráveis à importação de petróleo das economias avançadas – incluindo o Japão.

 

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Se os sauditas decidissem reduzir a produção, o Japão teria sofrido o duplo golpe do aumento dos preços do petróleo e uma repentina depreciação acentuada do iene. Isso teria exposto o governo de Abe a uma crítica generalizada, particularmente em centros da indústria automóvel.

 

O segundo actor importante na campanha de Abe foi a China. O aparecimento de mais de 200 navios que pescam o precioso coral vermelho ao redor das ilhas japonesas de Ogasawara, em Novembro, abriu os olhos a muitos japoneses para os riscos do crescente poder da China. Tal cepticismo sobre as intenções pacíficas da China intensificou as críticas do DPJ para o que muitos consideram uma abordagem excessivamente branda à gestão das relações com a República Popular.

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O terceiro actor importante foram os sindicatos do Japão. O actual problema que enfrenta o Abenomics, já que pretende salvar a economia do Japão da deflação, é que o aumento dos salários não tem mantido o ritmo com o aumento do imposto sobre o consumo de Abril de 2014 (de 5% a 8%) ou a subida dos preços de importação associados a um iene mais fraco.

 

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Os representantes das organizações laborais nas negociações salariais, que são conduzidas todas as primaveras, frequentemente vêm de sindicatos que apoiam o DPJ. Mas o próprio Abe tem suplantado os sindicatos na exigência de maiores aumentos das empresas, ajudando-o a atrair significativamente mais votos dos membros dos sindicatos nesta eleição do que em 2011.

 

Estas intervenções dos três actores ajudaram Abe a assegurar mais quatro anos no poder. Depois de décadas de rotação na liderança, com oito primeiro-ministros em apenas dez anos, o Japão tem finalmente um governo estável. Embora o sistema parlamentar do Japão se distinga do dos seus vizinhos, isto alinha mais de perto com as normas na região, onde os responsáveis presidenciais servem por seis anos na Rússia e cinco anos na Coreia do Sul e da China. (O líder da Coreia do Norte, claro, não tem termo fixo para o seu mandato.)

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Abe tem agora mais capital político – e, portanto, mais liberdade de manobra - do que talvez qualquer líder japonês desde o final da Guerra do Pacífico. Deve usá-lo para seguir com a promessa do Abenomics, decretando finalmente as reformas estruturais de que o Japão precisa para revigorar a sua economia. Com um mandato tão poderoso, não pode haver desculpas.

 

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Yuriko Koike, ex-ministra da Defesa do Japão e conselheira para a segurança nacional, foi presidente do Partido Liberal Democrata do Japão e é deputada na Dieta Nacional (Parlamento japonês).

 

Direitos de Autor: Project Syndicate, 2014.
www.project-syndicate.org

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Tradução: Raquel Godinho

 

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