Pedro Santos Guerreiro psg@negocios.pt 19 de Junho de 2008 às 13:59

Quem manda aqui?

Quem manda na PT, Henrique Granadeiro ou Zeinal Bava? Na Mota-Engil, é António Mota ou Jorge Coelho? E na Galp, Murteira Nabo ou Ferreira de Oliveira? Resposta: na PT manda Zeinal, na Mota-Engil é António Mota e na Galp nenhum dos dois, manda Américo Amorim. O primeiro é CEO, o segundo é chairman, o terceiro é patrão.

Francisco Murteira Nabo deu uma entrevista a uma nova revista da Deloitte, a “Governar”, que tem um título exemplar: “A nossa cultura trata o chairman como um corta-fitas”. Di-lo o chairman da Galp. Mas mais do que confessional (“se a estratégia´ é servida fria’, então a actividade do conselho de administração afigura-se-me diminuída, pouco útil, sendo a sua existência apenas uma formalidade”), a entrevista é um inspirador tiro de partida para perceber as guerras de protagonismo e poder que demasiadas vezes estragam a sociedade em vez de melhorar o seu governo. Foi por haver dois galos na capoeira que houve o sacrifício de um deles na TAP (saiu Cardoso e Cunha, ficou Fernando Pinto), um despedimento salomónico na Caixa Geral de Depósitos (Mira Amaral e António de Sousa) e um colapso no BCP (Jardim Gonçalves e Teixeira Pinto).

Para Murteira Nabo, o segredo da boa coexistência entre chairman e CEO é uma definição clara da fronteira de competências, haver frontalidade e lealdade, transparência, comunicação e trabalho de equipa. Ou seja, aquilo que quase sempre falta.

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A desmultiplicação do conselhos de administração em comissões executivas, comités de auditoria gerais, de vencimentos, de supervisão fez-se quase sempre por razões formais e não substanciais. Para cumprir regras da CMVM, mostrar imagem, fazer marketing; para estender o mesmo controlo por mais camadas. A proliferação de administradores independentes é ela mesma usada para agradar accionistas ou amarrar assalariados, que praticam pouco a sua independência. Escolhem-se chairmen não porque têm perfil mas porque é preciso reformar o CEO. Muitas vezes corre mal: nem todos têm a capacidade de abnegação de trocar o gabinete da “penthouse” pelo escritório ao pé do elevador e assistir às decisões de que discorda e que até aí eram tomadas por si.

A primeira infância do governo de sociedades em Portugal (a fase da moda) está a terminar e o balanço não é bom. Aliás, em que empresas se pratica a distinção que Murteira Nabo advoga na mesma entrevista, de que as questões operacionais da empresas são do CEO e as estratégicas partem do chairman (que as acumula com as de supervisão)? Tirando empresas de matriz familiar (como a Mota-Engil, como a Sonae), muito poucas.

Uma delas é a EDP Renováveis. O patético episódio do “quem é o presidente executivo da empresa?”, no amanhecer da empresa entrar em Bolsa, pode ter sido uma birra ou um golpe de marketing, mas o modelo espanhol que lhe subjaz é a expressão directa do desejo de Murteira Nabo: a estratégia é do chairman António Mexia, a execução quotidiana é da CEO Ana Maria Fernandes. E não há, nem nunca houve, nenhuma dúvida disso, nem com os accionistas, nem entre os dois gestores.

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Numas empresas, chairman é corta-fitas, com funções de representação e vacuidades na supervisão. Noutras, é o chefe que decide e que manda o CEO, espécie de director-geral, executar. Em quase todas, as assembleias gerais são decididas por meia-dúzia de grandes accionistas, com pouca representação e mesmo pouco interesse dos pequenos accionistas. Mas as empresas só adoptarão boas regras de governação se acontecer uma de duas coisas: quando forem obrigadas ou quando começarem a ganhar dinheiro com isso. O resto são fitas.

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