O adeus em paz que Eduardo dos Santos devia ter
"Eu acho que é muito tempo, até demasiado". Este foi o comentário feito pelo próprio José Eduardo dos Santos, em 2013, numa entrevista à TV Band, quando o questionaram sobre a sua longevidade na Presidência de Angola.
Demasiado tempo pela circunstância de o país ter vivido um longo período de guerra civil, mas também porque nem o próprio mostrou vontade de promover a alternância, nem o seu partido, o MPLA, se movimentou nesse sentido.
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A cristalização de José Eduardo dos Santos no poder e a corte que se foi criando à volta, sobretudo a partir de 2002, com o fim da guerra civil, ajudou a criar um quadro de clientelismo que se transformou num obstáculo ao desenvolvimento de Angola.
O seu legado está longe de ser consensual, mas será preciso esperar pela forma como Angola irá evoluir nos próximos anos, tanto política como socialmente, para fazer um juízo definitivo sobre a sua liderança.
Eduardo dos Santos abrigou uma elite que se aproveitou dos cofres do Estado, mas também foi capaz de instituir a paz no país de forma definitiva, conseguindo que fossem sendo saradas as feridas profundas da guerra civil.
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A estabilidade em Angola transformou o país numa referência no plano regional e este estatuto também tem o seu dedo.
Os últimos dias de vida do antigo presidente foram marcados por um conflito entre parte da sua família e o seu sucessor, João Lourenço. O que se ouviu e leu acabou por relegar para segundo plano a memória de José Eduardo dos Santos.
O adeus a José Eduardo dos Santos devia ser enquadrado num ambiente de dignidade que tem faltado.
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O "arquiteto da paz" não merecia esta guerra.
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