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Pedro Santos Guerreiro psg@negocios.pt
03 de Novembro de 2011 às 11:19

A explosão do euro

Quando, no Verão, o Negócios identificou George Papandreou como um dos Mais Poderosos da Economia Portuguesa, alguns leitores acharam a escolha bizarra. Hoje já não o acharão. Este referendo grego, nesta data, é uma arma de destruição maciça.

Quando, no Verão, o Negócios identificou George Papandreou como um dos Mais Poderosos da Economia Portuguesa, alguns leitores acharam a escolha bizarra. Hoje já não o acharão. Este referendo grego, nesta data, é uma arma de destruição maciça.

"Tudo o que acontecer a George Papandreou terá reflexos imediatos no nosso país", escrevíamos a 7 de Julho, numa frase que acabava suspensa: "Se corre mal na Grécia..." A Grécia arrisca-se a acabar muito mal. A ir ao fundo. E a levar-nos com ela. Papandreou ou tem a inteligência muito à frente do resto do mundo, ou tem a parvoíce muito à frente do resto do mundo. Para já, comporta-se como um pirómano, porventura sádico, sobre o euro.

Referendar austeridade quando se está a meio dela não é um exercício de democracia directa, é uma insensatez. Anunciá-lo dias depois de a Europa ter, mal ou bem, dado um passo atrás face ao abismo é, além do mais, uma traição aos líderes europeus. As urnas de voto de um país são as urnas funerárias de uma comunidade. Como se viu nos últimos dois dias nos mercados. Vede o custo da dívida da Itália, da Espanha, da França. Vede a exposição dos seus bancos a empréstimos do BCE.

Para a Europa, a Grécia é um problema pequeno em si mesmo. O perdão à sua dívida é um arredondamento no sistema financeiro internacional. O que salva aquele país, como aliás Portugal, da pulsão de amputar o membro doente para salvar o corpo é o risco de contágio. Se não fosse o receio de que a crise da pequena dívida grega se transmute em crise da enorme dívida italiana, há muito estaríamos numa quarentena financeira.

Com este referendo, a Grécia está não só a testar os limites, como a provocar os líderes europeus para uma solução radical. Como um louco que faz chantagem sobre quem o quer salvar, apontando uma pistola à sua própria cabeça, fazendo-se a si mesmo refém. O anúncio deste referendo é uma demonstração de que não é só do centro para a periferia que a Europa está a partir-se, é também da periferia para o centro. Com a diferença de que a periferia é o elo mais fraco da relação.

Neste momento, milhares de cabeças estarão a pensar como se consegue excluir a Grécia do euro sem destruir o euro e, nisso, a própria União Europeia. Até aqui, a resposta sempre foi: "não se consegue". Estamos juntos para o bem e para o mal. Mas quando Papandreou decide pensar se pergunta aos gregos se querem mais austeridade ou não (como se a alternativa fosse essa, quando não é), é a Europa inteira que se aproxima do abismo. Portugal é, obviamente, o seguinte.

A solução aprovada na semana passada de perdão à Grécia, com alavancagem do Fundo de Estabilização, e que obriga os bancos a incorporar menos-valias nas dívidas públicas de outros países, foi uma jogada de enorme risco. Porque "alavancar" quer dizer pedir dinheiro à China, que diplomaticamente já mandou a Europa passear. E porque se quebrou o cinto de castidade da dívida pública dos Estados europeus. Mas era uma bala, disparada para tentar acertar num alvo distante. A Grécia pegou nessa bala e começou a jogar à roleta russa.

No mito de Creta, o minotauro foi encurralado num labirinto arquitectado por Dédalo, cujo filho, Ícaro, morreu quando, em fuga, voou próximo de mais do Sol, derretendo o mel de abelhas com que colara asas feitas de penas de gaivota. É muito difícil à Europa sair deste labirinto que ela própria criou, perseguida pelo monstro da dívida. Mas é fácil a Grécia impor um suicídio colectivo.

Ainda vamos a tempo de evitar o abismo, mas precisamos de bom senso na Grécia e provavelmente de mais intervenção do Banco Central Europeu. Sempre tememos que o euro implodisse. Estávamos errados. Ele não implode, ele explode. E não deixa pedra sobre pedra.

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