Embora tema que o sector esteja preso num mau equilíbrio que carece de novas políticas e atitudes, estou convencido que é possível fazer melhor jornalismo com os jornalistas que temos. Pelo meu lado deixarei a partir desta semana de contribuir para essa mudança. Aceitei um novo desafio, também de serviço público, que abraço com o entusiasmo que já me falta no jornalismo. Para lá levo o muito que aprendi, e a gratidão aos que me ensinaram e ajudaram, jornalistas, fontes e, claro, os leitores.
Mário Centeno tem revelado imaginação a encontrar soluções políticas que satisfaçam o acordo entre PS, PCP e Bloco de Esquerda, o que só pode jogar a seu favor para um cargo como o de Presidente do Eurogrupo. Além disso, atingiu as metas a que se propôs, identificou bem os erros do passado e as prioridades nesta fase do ciclo económico.
Já só uma hecatombe travaria a que se prepara para ser a legislatura com o maior crescimento desde a entrada no euro. Sendo natural que o Governo e os partidos que o suportam estejam satisfeitos, isso não significa que tenham conseguido pôr em marcha as alterações de que Portugal precisa. Longe disso.
O que mais apreciava no Pedro era a sua capacidade de desenvolver um quadro de análise e de pensamento autónomo, partilhando textos e ideias como desafios honestos às suas ideias e às dos outros. Perdemo-lo e ficámos-lhe em dívida. Talvez a possamos ir pagando exercitando a curiosidade, o pensamento livre e a exigência na promoção dos melhores.
O OE passa ao lado da catástrofe, mas ainda há tempo para emendar o erro. Do Governo e de Bruxelas não se espera menos que um plano de emergência para recuperação das áreas ardidas. Afinal, se tivemos tantos milhares de milhões para resgatar bancos, será com certeza possível encontrar umas centenas de milhões para resgatar as regiões afectadas por um desastre desta dimensão.
Sem a troika e sem a crise, Pedro Passos Coelho não conseguiu formular uma ideia clara para o desenvolvimento do país. Seja qual for a liderança que emergir dos escombros eleitorais, poderá contar com uma preciosa e inesperada ajuda de um plano de reforma de direita que será apresentado no final de 2018.
A decisão de tirar Portugal do “lixo” já era defensável desde o final do programa de ajustamento em 2014. As agências de “rating”, mais do que definidoras de uma tendência, são antes seguidoras dos sinais que vão emanando dos mercados.
O laboratório português revela que os "bail-ins" também têm um lado negro, nomeadamente sobre as PME; mostra que a linha vermelha das perdas para os credores parece está a ser traçada nos obrigacionistas seniores; lembra que os abusos dos bancos continuam a vir bater à porta dos contribuintes; e, finalmente, atesta que vale a pena explorar e desafiar os limites das regras europeias, que são mais flexíveis do que por vezes nos dizem. Haja engenho e vontade política.
Enfim, gostaria que em vez de se concentrarem nos 2,4% da despesa que dizem respeito a cativações e à dotação provisional, o debate e o interesse dos parlamentares se focasse na criação de mecanismos que garantam exigência e eficiência na gestão dos restantes 97,6%. Seria bom, talvez depois do Verão.
Não é fácil dizer que se vira a página da austeridade ao mesmo tempo que se obtém um dos maiores excedentes primários da Zona Euro. Fazê-lo com a economia e o emprego a crescer parece até uma manifestação da famosa "consolidação orçamental amiga do crescimento". Com este desempenho Centeno ainda acaba no Eurogrupo.
Marco Buti, o economista-chefe da Comissão, partilhou há poucos dias a sua análise sobre o momento da Zona Euro. Uma das conclusões que se pode tirar do texto é que algum bom senso e razoabilidade está felizmente a dominar as análises de Bruxelas, o que pode ajudar a melhores políticas em Portugal.