A sustentabilidade pode já não dominar tantos discursos de CEO como há alguns anos, mas a Bain & Company garante que a transição das palavras para os atos está em marcha. Na terceira edição do relatório The Visionary CEO’s Guide to Sustainability 2025, a consultora conclui que os líderes empresariais estão a adotar medidas concretas, sobretudo em áreas onde a rentabilidade é visível.
Em 2024, mais de metade (54%) dos CEO associava a sustentabilidade a valor para o negócio, um crescimento de 18 pontos percentuais face a 2018. “Hoje poderão falar menos sobre o tema, mas o que não expressam em palavras traduzem-no em ação. Passaram do ‘dizer’ ao ‘fazer’”, sublinha Francisco Sepúlveda, partner da Bain & Company em Lisboa.
A análise, que avaliou 35 mil declarações de executivos entre 2018 e 2024, conclui também que tanto empresas como consumidores estão a pressionar para soluções mais sustentáveis. No mercado empresarial, optar por fornecedores sustentáveis é preferência para mais de metade dos compradores, enquanto 70% prevê reforçar essa escolha até 2028.
Do lado do consumidor final, quatro em cada cinco valorizam profundamente a sustentabilidade, ainda que enfrentem barreiras como os custos elevados e a falta de informação clara. Curiosamente, os baby boomersrevelam maior adoção de novos hábitos sustentáveis do que a Geração Z, sobretudo devido à sua maior capacidade financeira.
A inteligência artificial (IA) surge ainda como uma das ferramentas mais promissoras para acelerar a agenda verde, com cerca de 80% dos executivos inquiridos a considerar que a IA representa uma grande oportunidade para reduzir consumo energético, minimizar desperdícios e melhorar a segurança no trabalho. “A inteligência artificial deixou de ser opcional. É hoje essencial para desbloquear impacto sustentável”, reforça Diogo Rebelo, senior manager da consultora.
Ainda assim, a tecnologia traz riscos que não podem ser ignorados quando o tema é a sustentabilidade. Num cenário de forte crescimento, os centros de dados e aplicações de IA podem vir a emitir até 810 milhões de toneladas métricas de CO2 por ano até 2035, o equivalente a 2% das emissões globais.
O relatório identifica igualmente que 25% das emissões industriais de dióxido de carbono já podem ser eliminadas de forma lucrativa, devido a medidas como maior eficiência energética, design circular e cadeias de abastecimento mais próximas. Outros 32% podem vir a tornar-se rentáveis a médio prazo, dependendo de políticas públicas e avanços tecnológicos.
No balanço final, a consultora conclui que sustentabilidade e rentabilidade caminham cada vez mais juntas. “As organizações que atuam de forma sustentável fazem-no porque obtêm retornos tangíveis e atrativos”, remata Francisco Sepúlveda.