Virgolino Faneca tem um plano para ajudar os catarianos
Caro Tamim
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O senhor xeque, muito humildemente, endereçou-me uma carta, pedindo que eu esclareça o público em geral sobre o Qatar e a sua magnífica política, para que o rótulo de país apoiante do terrorismo se desvaneça.
Confesso-lhe, senhor xeque, que a minha reacção inicial foi a de o mandar catar, mas rapidamente concluí que este jogo de palavras básico serviria tão-só para provocar um ligeiro e condescendente sorriso nos dilectos leitores, descurando o essencial, o cabal esclarecimento dos factos. E este desiderato, claro, não se consegue com piadas foleiras sobre o mundial de futebol no Qatar, um país com enorme historial futebolístico e um clima ameno propício à prática deste desporto. Nem tão-pouco meditando no facto de o Qatar ter organizado, em 2015, um campeonato do mundo de andebol onde apresentou nove jogadores naturalizados e os árbitros pareciam também ter sido naturalizados catarianos.
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O que efectivamente gera uma indómita vontade de rir é ver a Arábia Saudita acusar o Qatar de apoiar o terrorismo, o que é o mesmo que o roto dizer para o nu porque não te vestes tu.
Neste contexto, xeque Tamim, a minha missiva serve para o ajudar a definir um novo posicionamento do seu país, um extraordinário conceito criado pelo agora desaparecido Jack Trout - podia escrever, pela boca morre o peixe (porque "trout" na língua de Shakespeare significa truta na língua de Camões), mas seria um graçola estúpida e potencialmente desrespeitosa para com o finado e por isso não a faço - pelo que remeto três propostas tendentes a materializar a estratégia que me encomenda. A primeira é a de mudar o posicionamento geográfico do país, pedindo para fazer parte da Oceânia. Se esta medida se revelar inexequível, existe uma segunda possibilidade de remediar a arrelia da Arábia Saudita cedendo-lhes, por exemplo, o patrocínio das camisolas do Barcelona, oferecendo-lhes um clube de futebol inglês ou mesmo o Harrods, o género de presentes que poderá ajudar o magnânimo rei Salman a reconsiderar.
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Caso esta última iniciativa se gorar, existe ainda uma terceira via, que consiste em recorrer aos serviços do senhor Trump, um mago da diplomacia, que lhe poderá vender "a tia-avó materna de todas as bombas não nucleares" e mais "uma série de bonito material militar" (Presidente dos EUA, "dixit"), acessórios com os quais poderá reforçar os seus poderes argumentativos.
Se todas estas estratégias falharem, o melhor é o xeque Tamim considerar a hipótese de vir residir para Portugal, um país muito hospitaleiro, com um clima soalheiro, vastos espaços desérticos para montar tendas e que já não maltrata infiéis para aí desde o século XII. Também estamos habilitados a organizar corridas de Fórmula 1, de cavalos, camelos e galgos e caçadas de falcões e gostamos muito de turistas. Em última análise, até podemos organizar testes de condução para as senhoras sauditas que, como é sabido, no seu país estão inibidas de conduzir, uma acção que poderá contribuir para o degelo das relações entre sauditas e catarianos.
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Xeque Tamim, se vier para Portugal poderá até participar livremente nos debates estruturantes que estão a acontecer no nosso tranquilo país, como a gravidez da namorada do Ronaldo, o português dos D.A.M.A ou o estado de saúde de Manuel Luís Goucha. E não se preocupe com os "posts" da Maria Vieira. Está tudo controlado. É vir, com todo o seu dinheirinho, que nós lhe daremos bom uso.
Um bacalhau seco deste seu,
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Virgolino Faneca
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