“O guarda espreitava o contrabandista e o contrabandista espreitava o guarda”
António Galrito, antigo guarda-fiscal, senta-se em frente ao Guadiana. Aos 84 anos, recorda os tempos em que andava de lancha a fiscalizar os “marítimos” que atravessavam o rio. Depois passou para um jipe. Não aceitava presentes de contrabandistas. “Eu tinha de cumprir um dever perante a guarda-fiscal, fiz um juramento que havia de ser fiel ao governo, e fui sempre fiel. Éramos amigos da mesma maneira, mas cada um no seu trabalho… O Xico Afonso tinha uma taberna, uma casa de negócios aí nos Guerreiros do Rio, e a gente ia lá comer e conversar, ó, tantas vezes”. António Galrito é um dos casos da reportagem “Os homens do contrabando”, publicada no Negócios.
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A maior parte dos contrabandistas eram da minha idade, tiraram bilhete de saída e não voltaram mais… Agora há poucos. E guardas-fiscais também já não há muitos. Nasci ali no Marmeleiro, a três quilómetros, vinha aqui a Alcoutim quase todos os dias. A minha vida foi sempre aí no rio, enquanto guarda-fiscal. Foram 35 ou 36 anos. Comecei em 1960, tinha 27 anos. O meu primeiro ordenado foi de 750 escudos. Antes, trabalhei muito no campo, lavrando, semeando trigo, aveia, tremoço. O dinheiro que se ganhava vinha da azeitona, da alfarroba e de frutos que a gente vendia. Fabricava-se o pão, tínhamos o azeite. Não se comprava quase nada, sabe?
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