A bassula e a dignidade
Quero falar da infantil onda negra de 1967, que invadia a minha rua, às “cinco en punto de la tarde”.
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Já vou falar da bassula, mas deixem que abra a boca de espanto - mesmo à hora da minha morte, ainda hei-de estar a abrir a boca em buelos e expletivos ualalás! A maka que estamos com ela é esta, como é que Jean-Paul Sartre conseguia subir aos ramos da mangueira do meu quintal, em Luanda? A artrite reumatóide já o apertaria por essa altura, e trepar, diga o que disser Simone de Beauvoir, nunca foi o seu forte. Mas subia e lá estava, três metros acima do chão, ao meu colo, a deliciar-se com os aromas das inflorescências paniculadas, que é como se chama ao que não chegam a ser flores numa mangueira. Eu tinha uns promíscuos 14 anos e, além de Sartre, comecei a ter ao colo também o refinadíssimo Somerset Maugham e o todo-o-terreno John Steinbeck. Precocidades taradas, portanto.
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