A espada do califado
Ao criar o Califado, numa zona do tamanho da Grã-Bretanha, entre o Iraque e a Síria, o Estado Islâmico está a ser um sismo na velha ordem da região. Este Estado nasceu das sementes da Al-Qaeda e dos erros de análise colossais do Ocidente e das elites sauditas e do Kuwait. Tudo isto choca com o grande plano de Barack Obama de sair do Iraque. Agora, com a frente comum onde cabem a NATO, a Arábia Saudita e o Irão, os Emiratos Árabes Unidos e os curdos, para já não falar da Rússia e do regime de Bashar al-Assad, os EUA voltam a ter de liderar a luta contra um inimigo mais perigoso e poderoso.
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O Estado Islâmico quer impor o Califado através da espada. Com que mata e aterroriza os seus inimigos. Mas usa os métodos da modernidade, da Internet às Ak-47 para cumprir os seus desígnios. Entre o passado e o presente, o Estado Islâmico quer construir pelo terror as novas leis do Médio Oriente. E elas passam pelo fim da partilha e desenho de fronteiras que o acordo Sykes-Picot criou em 1916. Ao criar o Califado, numa zona do tamanho da Grã-Bretanha, entre o Iraque e a Síria, ao mesmo tempo que já ameaça as fronteiras do Líbano, o Estado Islâmico (EI) está a ser um sismo na velha ordem da região. Não é por acaso que uma das primeiras medidas do seu califa, Abu Bakr al-Bagdadi, foi a destruição dos postos fronteiriços entre a Síria e o Iraque. É esta ameaça que está a juntar velhos inimigos e a fazer com que Barack Obama, cuja principal missão era a retirada do Iraque, tenha de pensar no regresso a todo aquele terreno minado. A acção do EI desencadeou, na sequência da Primavera Árabe e da queda de muitas ditaduras, uma alteração dos equilíbrios que construíram o Médio Oriente após a I Guerra Mundial. Por um lado a centralidade (ou não) da zona no contexto do petróleo e do gás natural. Por outro a questão da reentrada, ou não, do Irão na comunidade internacional. Se o acordo sobre o nuclear for firmado entre o Irão e os EUA, Teerão terá um poder crescente face aos seus vizinhos sunitas. Por isso a solução das guerras no Iraque e na Síria é tão importante. A ofensiva do EI parece uma acção que proclama que todos os que não são sunitas são heréticos, numa vertente radical do wahhabismo saudita, mas a sua importância no contexto geopolítico da zona é muito maior.
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