Um país desfeito a golpes
"Por nada deste mundo." Do lado de lá do telefone, um político guineense comenta a situação do país, mostra esperança na libertação do primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, e do presidente da República interino, Raimundo Pereira, até que se chega à pergunta: posso identificá-lo? "Por nada deste mundo" apela, num registo de quase súplica.
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A conversa, que teve lugar na terça-feira, revela o clima de medo e a ameaça permanente de retaliação que se instalou entre os guineenses. O golpe de Estado na Guiné-Bissau, ocorrido na passada semana, veio dar razão aos que defendem a tese de que se está perante um país inviável. As motivações dos militares nunca foram tornadas públicas, mas a perda de poder e o facto do Governo querer uma força militar internacional no terreno, terão sido o rastilho da revolta. Esta quarta-feira, os militares e alguns partidos chegaram a um acordo para estabilizar o país e prometem eleições presidenciais para 2014. De fora ficou o PAIGC, o maior partido. A União Africana e a ONU criticam esta solução. E este parece ser o interlúdio de algo que ainda está para vir. A instabilidade vai continuar. A descrença também.1. Um obstáculo com uniformeDesejada por uns, olhada com desconfiança por outros, a missão técnico-militar de Angola presente na Guiné-Bissau terá sido um dos factores que pesou na balança quando chegou a hora da revolta dos militares. A missão angolana deveria ter 200 homens mas, segundo uma fonte contactada pelo Negócios, estariam na Guiné-Bissau cerca de 600 soldados, que começaram a criar bases e a abrir estradas. A Missang (Missão Militar Angolana na Guiné-Bissau) entrou neste último país em Março do ano passado e começou a sua retirada cinco dias antes do golpe de Estado, que teve lugar a 12 de Abril. O seu objectivo prioritário era o da reforma das Forças Armadas guineenses, mas estas viam a iniciativa como uma forma de lhes retirar poder. "O exército na Guiné-Bissau é baseado em etnias. Os novos pressupostos em que terá de funcionar serão os de um exército nacional, formado por pessoas de todos os grupos étnicos" sustentou o ministro angolano das Relações Exteriores, George Chikoti, em Fevereiro deste ano, durante uma palestra na Chatham House, um "think tank" inglês.
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