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Virgolino Faneca escreve o auto da barca de Trump

Virgolino Faneca usa Gil Vicente para recriar uma reunião na sala oval entre o presidente eleito dos EUA e o seu séquito. O resultado não ficará muito aquém da realidade teatral dos últimos dias

18 de Novembro de 2016 às 17:00

Caro Gil 

Espero que esta te encontre bem na casa de repouso celestial dos escritores. Perdoa a ousadia de incomodar o teu descanso eterno, mas acontece que resolvi utilizar um dos teus autos para arremedar uma reunião na sala oval entre o Presidente eleito dos Estados Unidos e o seu séquito, que envio em anexo para obter a tua aprovação. 

Cena I (e única)

Donald Trump: À sala oval, à sala oval, houlá!

Que temos gentil catering!

Ora venha o meu caro genro à ré! 

Jared Kushner: Feito, feito!

Donald Trump: Bem está! 

e despeja aquele banco

Pera a Melania que vinrá.

Oh! Que tempo de partir,

Louvores ao Klu Klux Klan!

Jarerd Kusnher: Em boa hora! Feito, feito!

Donald Trump: Abaxa má-hora esse cu!

Jared Kusnher: Pera vossa fantasia

mui estreita é esta barca!

Louvores a Berzebu!

Em boa hora! Feito, Feito!

Melania Trump: Esta barca onde vai ora,

que assi está apercebida?

Donald Trump: Vai para ilha perdida

E há-de partir logo ess'ora.

Entra, tolaço júnior enuco,

Que se nos vai a maré!

Donald Trump Jr.: Aguardai, aguardai, houlá!

E onde havemos nós d'ir ter?

Donald Trump: Ao México, construir um muro,

filho de grande aleivosa!

Tua mulher é tinhosa

E há-de parir um sapo

Chentado no guadenapo!

Ò poderoso Giuliani,

Cá vindes vós? Que cousa é esta?

Rudolph Giuliani: É um botão vermelho

Para o mundo estourar!

Donald Trump: Ò botão, ò botão, senhores!

Oh! que maré tão de prata!

Um ventezinho que mata

E valentes remadores!

Jared Kusnher: Hi, hi hi hi hi hi hi hi!

E tu viveste o teu prazer,

Cuidando cá guarecer

Porque rezem lá por ti?

Vós ireis mais espaçoso

com fumosa Melania,

cuidando na tirania

do pobre povo queixoso.

Donald Trump: Vinde vós Melania neste navio,

Vai mas vazio que essoutro,

a cadeira entrará 

e o rabo caberá

e toda vossa senhoria.

Jared Kusnher: Ora entrai nos negros fados!

Irês ao lago dos cães

e verês os escrivães

como estão tão prosperados.

Donald Trump: Para el Deu, que te sacuda

Co'a beca nos focinhos?

Fazes burla dos meirinhos?

Dize, filho da cornuda?

E é mais ou menos isto. Talvez menos, porque o clã Trump não é lá grande coisa a versejar, ou talvez mais, porque o inferno deles é mais do que teatro.

Aguardo comentários e reparos.

Um abraço deste admirador,

Virgolino Faneca

Quem é Virgolino FanecaVirgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.
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