Carlos Gomes da Silva: Os factos no centro de qualquer decisão

A crise sanitária sem precedentes que enfrentamos ditou o fim abrupto da normalidade a que nos habituámos: desde os simples gestos entre amigos ou familiares até aos mais complexos modelos económicos, tudo foi posto em causa.
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Carlos Gomes da Silva 15 de Abril de 2020 às 11:30

Em momentos como este, quando a vida parece suspensa e as convicções nos tremem, sobressai a importância dos referenciais de estabilidade. Rodeados de incertezas e de volumes massivos de informação e contrainformação, nunca como hoje os factos foram tão importantes para construir soluções e dissipar o nevoeiro no horizonte.

Daí a minha proposta: o livro "Factfulness", do sueco Hans Rosling, um médico, professor de Saúde Internacional, orador em prestigiados fóruns internacionais, e que morreu meses antes da edição desta obra.

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É um exercício literário fascinante, que põe os factos no centro de qualquer decisão ou reflexão séria. Vai mais além: ensina-nos a compreender o mundo tal como ele verdadeiramente é, não como o percecionamos (muitas vezes de forma errada).

Num registo sistematizado e com factos inelutáveis, o autor confronta-nos com a dimensão generalizada da nossa ignorância. Desafia o conforto preguiçoso das opiniões baseadas em preconceitos que toldam os nossos racionais. Nossos e de todos em redor, incluindo a elite política e intelectual.

O livro educa ainda o sentido de nunca descurar o contexto macro que não cabe na agenda mediática. Mesmo admitindo que há um longo caminho a percorrer em áreas fundamentais, é importante reter esta ideia: "As coisas podem ser más e estar a melhorar." Não é um "soundbite" vazio, é facto.

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Mesmo hoje, quando tudo parece mau - porque uma pandemia exponencia um dos nossos mais fortes instintos, o medo - a obra, de 2017, mantém uma pertinência que impressiona.

Senão vejamos: "Os factos alargados e a imagem alargada têm de esperar que o perigo passe. Mas, nessa altura, temos de atrever-nos a estabelecer de novo uma visão do mundo baseada em factos. Temos de arrefecer o cérebro (…). Não podemos deixar que seja o medo a guiar essas prioridades."

Poderia ser escrito hoje.

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