Fazer o que se gosta é essencial para o sucesso profissional – e bem-estar pessoal. E esse é o maior fator a ter em conta ao escolher um curso superior. Mas há outros critérios que não podem ser excluídos: quais os cursos com maiores taxas de empregabilidade? Quais os que permitem um maior leque de saídas profissionais? Quais as grandes tendências de mercado no futuro que já se podem vislumbrar? Para traçar caminhos e aconselhar os mais jovens num momento tão crítico das suas vidas, falámos com três especialistas na área: André Rocha, expert manager em Finance, HR, Tax & Legal, da área profissional da Randstad Portugal, Inês Casaca, business manager da Grafton, da Gi Group Holding, e Ana Castro Dias, executive manager da Michael Page Portugal.
Como todos sabemos, o mercado está em constante mudança. Neste contexto o que é hoje mais procurado pelas empresas na hora de contratar jovens à saída da faculdade? André Rocha, da Randstad Portugal, começa por explicar que as competências técnicas continuam relevantes, mas há um foco claro em soft skills, como capacidade de adaptação, curiosidade, espírito crítico e vontade de aprender. “O relatório Randstad Talent Trends 2025 mostra que estamos a entrar num modelo skills-first, em que o foco são as competências e não apenas a experiência passada ou o grau académico. Existe uma exigência crescente por capacidade de reskilling, pensamento digital e competências humanas que a tecnologia não consegue replicar. Os nossos clientes destacam ainda a importância de ter proatividade, autonomia e capacidade de resolução de problemas. Em processos de recrutamento, é comum valorizarem jovens que tenham participado em projetos extracurriculares, associações académicas ou iniciativas empreendedoras”, conta André Rocha.
Inês Casaca, da Gi Group Holding, diz que as empresas procuram jovens que vão além da formação académica. “Valorizam competências técnicas alinhadas com a realidade digital, como conhecimentos em dados, programação, cibersegurança ou automatização. Mas também um conjunto de soft skills essenciais: pensamento crítico, comunicação, resiliência e capacidade de aprendizagem contínua”, refere.
Ana Castro Dias, da Michael Page Portugal, diz que, além das competências técnicas, os principais requisitos estão relacionados com as competências comportamentais. “As empresas procuram jovens empáticos, capazes de trabalhar em equipa e com espírito crítico. Num mundo cada vez mais automatizado e individualista, são exatamente estas skills que fazem a diferença nas equipas e nas organizações. As empresas querem jovens capazes de se posicionar ‘nos sapatos’ dos outros, capazes de contribuir para um projeto (mesmo quando aquela não é a sua função) e acima de tudo capazes de pensar por si sem ter de recorrer permanentemente a ferramentas de inteligência artificial”, salienta.
Licenciatura ou instituição de ensino
Há duas escolhas importantes a fazer em articulação: licenciatura e instituição de ensino. O que é mais valorizado pelas empresas? Como escolher? A que se deve dar prioridade?
André Rocha, da Randstad Portugal, responde que “as empresas continuam a olhar para a área de formação como ponto de partida, mas o que mais pesa é o perfil global do candidato: se tem competências práticas, se soube aproveitar oportunidades extracurriculares e se tem experiência real de trabalho ou projeto”. Segundo o estudo “Mitos e Realidades sobre os Jovens” da Randstad, Portugal tem hoje jovens mais qualificados do que nunca, com 41% dos jovens adultos (25-34 anos) a ter formação superior. Mas só 9% tiveram experiência profissional remunerada durante o curso, o que indica um défice prático na formação superior. “Mais do que escolher a melhor faculdade, importa escolher uma área com saídas profissionais reais e aproveitar bem o percurso, combinando formação com experiência prática”, aconselha.
Por sua vez Inês Casaca, da Gi Group Holding, avança que “cada vez mais as empresas olham para o conjunto de competências e experiências do candidato, e não apenas para o nome da instituição onde estudou”. “Claro que a qualidade do ensino e o reconhecimento da escola continuam a ter peso, sobretudo em áreas reguladas, como saúde ou engenharia. Mas em setores mais dinâmicos como tecnologia, comunicação, design ou economia, o que conta verdadeiramente é o que o candidato sabe fazer, como resolve problemas e o que já experienciou”, destaca, acrescentando que, ao escolher um curso, se deve considerar “a taxa de empregabilidade da área, a existência de estágios e de ligações reais com o mercado de trabalho, e o potencial de evolução futura da profissão”. Hoje – finaliza – um curso que permita desenvolver pensamento analítico, competências digitais e literacia transversal tende a “abrir mais portas”. “A prioridade deve ser dada à qualidade da formação, à aplicabilidade dos conteúdos e à possibilidade de continuar a aprender, dentro e fora da sala de aula.”
Já Ana Castro Dias, da Michael Page Portugal, diria que a instituição de ensino é uma das principais escolhas de vida que qualquer pessoa faz. “Quer queiramos, quer não, há em todo o mundo instituições de ensino com mais prestígio ou empregabilidade que outras. No momento de escolher devemos fazer a nossa análise de mercado, perceber de forma criteriosa quais as saídas profissionais que tanto uma licenciatura como determinada universidade podem aportar de valor.” É também importante mencionar que, apesar da importância desta escolha, “uma licenciatura não deverá, a 100%, ditar o nosso futuro, uma vez que a escolha de um mestrado, pós-graduação ou programa executivo é cada vez mais comum como opção para diversificar a carreira ou aprofundar conhecimentos numa determinada área”. Por último, a responsável da Michael Page Portugal realça a importância e a possibilidade de escolha de cursos técnicos, nas mais diversas áreas de atuação, que têm, de forma geral, uma grande aceitação pelo mercado de trabalho. “A título de exemplo, podemos mencionar cursos nas áreas de contabilidade, assessoria financeira ou nas áreas tecnológicas, áreas estas caraterizadas por uma grande escassez de recursos qualificados.”
Os cursos com mais sucesso no mercado
No que diz respeito aos cursos com mais procura por parte do mercado, os que têm mais empregabilidade, André Rocha, da Randstad Portugal, aponta os dados mais recentes (de 2023) da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, segundo o qual “existiam 87 cursos superiores que garantiam empregabilidade a 100% dos diplomados”. “Entre eles estão cursos nas áreas da saúde – como Medicina, Enfermagem, Fisioterapia –, educação e formação de professores e engenharia civil. É importante lembrar que a formação superior continua a valer a pena do ponto de vista salarial.” André Rocha indica um estudo do Centro de Planeamento e Avaliação de Políticas Públicas (Planapp), que aponta a Informática, a Matemática, a Saúde e o Direito como as licenciaturas mais valorizadas no mercado de trabalho português, com um prémio salarial associado superior a 50% em 2021, enquanto a Arquitetura, a Agricultura ou os Serviços de Segurança continuavam a ser as áreas menos valorizadas.
Por seu lado Inês Casaca, da Gi Group Holding, refere que as áreas ligadas à tecnologia continuam no topo da lista. “Engenharia informática, ciência de dados, desenvolvimento de software e cibersegurança são altamente procuradas, com empregabilidade praticamente imediata”, assegura e continua: “Também os cursos de Engenharia (Eletrotécnica, Mecânica, Industrial) mantêm uma forte saída profissional. A saúde é outro setor no qual a procura se mantém elevada. Enfermagem, medicina, fisioterapia e outras áreas clínicas têm desemprego residual e grande mobilidade internacional.” Inês Casaca acrescenta que gestão e economia continuam a ser áreas com boa aceitação no mercado, sobretudo quando acompanhadas por competências em digital, marketing ou análise de dados. “De forma crescente, também os cursos ligados à sustentabilidade, energias renováveis e ambiente começam a ter mais visibilidade e procura, refletindo a transição energética em curso”, conclui.
Quanto a Ana Castro Dias, da Michael Page Portugal, conta que, não sendo novidade, “os cursos de Gestão, Economia, Finanças, Contabilidade, Direito, Engenharia e semelhantes continuam a ter não só muita procura, por parte dos alunos, como uma alta taxa de empregabilidade”, uma vez que correspondem à procura do mercado e às necessidades de contratação das empresas. “Em áreas mais científicas é cada vez mais comum vermos licenciaturas em áreas como as Matemáticas Aplicadas ou as Ciências Biomédicas a terem uma grande procura e integração no mercado de trabalho. Se procurarmos o elo comum de todas estas licenciaturas, conseguimos perceber que, acima de tudo, são áreas de estudos que dotam os seus alunos de competências de raciocínio, sentido crítico e agilidade de pensamento, em linha com o já mencionado acima.”