Há quem nasça com uma vocação traçada. Quem desde pequeno diga, e repita, que quer ser escritor, ator, empreendedor. Há quem nasça no seio de uma família com longa tradição profissional e saiba desde o berço que o futuro passa pela Medicina ou pelo Direito. Há quem se vá inclinando ao longo do percurso para as Letras, para as Ciências, Artes ou Economia, e chegue ao momento de decidir o curso já com um plano bem delineado. Há quem seja prático e escolha a licenciatura com base na empregabilidade e nos salários. E há quem, a menos de um mês de fazer uma das grandes escolhas da sua vida, ainda esteja cheio de dúvidas. Afinal, como escolher um curso superior?
“Os estudantes que estão a decidir o seu futuro académico enfrentam um cenário complexo e em constante evolução. A minha principal recomendação é que não se foquem apenas nas tendências do momento, mas sim nas competências que serão perenes. Devem ter em conta que o curso que escolhem é um ponto de partida, não um ponto final. É crucial que identifiquem as suas paixões, aptidões e áreas de interesse, pois a motivação intrínseca é um motor poderoso para a aprendizagem contínua e a adaptação”, aconselha Helena Correia, docente e diretora adjunta para as Licenciaturas na Católica Porto Business School, prosseguindo: “Além disso, é fundamental que investiguem a empregabilidade dos cursos, não só no presente, mas com uma visão de futuro, procurando áreas que permitam o desenvolvimento de competências transferíveis e que sejam menos suscetíveis à obsolescência.”
A visão da responsável da CPBS é partilhada por Inês Casaca, business manager da Grafton, agência de recrutamento integrada no Gi Group Holding. “Mais do que escolher o curso certo, o fundamental é perceber que há muitos caminhos possíveis e não há um único percurso que garanta sucesso. O mais importante é escolher uma área que faça sentido para o jovem, que desperte interesse e na qual possa desenvolver competências úteis e transferíveis para o mundo do trabalho”, considera Inês Casaca, acrescentando que, para quem está indeciso, analisar o mercado e as suas perspetivas de futuro é imprescindível. “Para quem segue o ensino superior, é importante analisar bem os dados sobre empregabilidade, oportunidades de estágio, qualidade da formação e evolução do setor.” Critérios que podem ajudar – e muito – na tomada de decisão.
“A entrada no ensino superior é uma fase emocionante e repleta de oportunidades”, salienta a docente Helena Correia, deixando alguns conselhos que considera essenciais para aqueles que agora vão começar o seu percurso na universidade. “Em primeiro lugar, na escolha do curso e da escola, como já referi, guiem-se pelas vossas paixões e aptidões, mas também sejam estratégicos. Investiguem as opções, falem com estudantes, ex-estudantes e profissionais da área. Visitem as faculdades, sintam o ambiente e a cultura académica. Uma boa escolha é aquela que vos desafia, inspira e oferece as ferramentas para desenvolverem o vosso potencial”, assegura, lembrando o equilíbrio essencial entre fazer o que se gosta sem descurar as perspetivas de futuro.
Futuro esse que, segundo Helena Correia, deve ser pensado de forma global. “Relativamente ao planeamento do vosso futuro, o meu conselho é que vejam a vossa jornada académica como algo mais do que apenas a obtenção de um diploma. Envolvam-se ativamente na vida universitária: participem em projetos, associações, atividades desportivas e culturais. Construam relações com os vossos colegas e professores e procurem oportunidades de estágio e experiências internacionais. Estas vivências extracurriculares são tão importantes quanto a aprendizagem em sala de aula para o vosso desenvolvimento pessoal e profissional.”
E são essas mesmas vivências que as empresas procuram na hora de recrutar, salienta André Rocha, expert manager em Finance, HR, Tax & Legal, da área profissional da Randstad Portugal: “Os nossos clientes destacam a importância de ter proatividade, autonomia e capacidade de resolução de problemas. Em processos de recrutamento, é comum valorizarem jovens que tenham participado em projetos extracurriculares, associações académicas ou iniciativas empreendedoras. As empresas querem profissionais que aprendam rápido e que se consigam integrar bem em equipas multidisciplinares.”
Para Helena Correia, é essencial que, uma vez escolhida a escola e a licenciatura, os alunos saibam tirar partido dos desafios que vão encontrar para crescerem e desenvolverem as soft skills, hoje um dos maiores requisitos colocados pelas empresas ao contratar. Os maiores desafios que enfrentarão, assegura, prendem-se com “a necessidade de autodisciplina e gestão do tempo, uma vez que o ensino superior exige um grau de autonomia muito maior”. “A adaptação a novos métodos de ensino e a um ritmo mais intenso também pode ser um desafio”, alerta, continuando: “No entanto, estas são também as vossas maiores oportunidades. A universidade é um espaço de descoberta e crescimento, onde terão a liberdade de explorar novas ideias, desenvolver o pensamento crítico, e construir uma rede de contactos que vos acompanhará ao longo da vida. Aproveitem para desenvolver a vossa capacidade de adaptação e resiliência, competências cruciais para o mercado de trabalho do século XXI. Lembrem-se de que o sucesso não se mede apenas pelas notas, mas pela vossa capacidade de aprender, crescer e fazer a diferença no mundo.”