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Dez anos para redesenhar os transportes

Eletrificação, mobilidade suave, renovação de frotas, evolução da tecnologia. O futuro dos transportes tem muitos caminhos possíveis e a descarbonização e transição energética são temas centrais. A próxima década vai ser de mudança.

15:58
Assinala-se hoje o Dia Mundial do Transporte Sustentável
Assinala-se hoje o Dia Mundial do Transporte Sustentável

Assinala-se hoje o Dia Mundial do Transporte Sustentável. Criado em 2023, este dia tem como objetivo sensibilizar a população para a importância de sistemas de transporte seguros, económicos, acessíveis e sustentáveis para o crescimento económico, bem-estar social e comércio internacional. Numa sociedade em que a mobilidade assume um papel central, como garantir que essas deslocações são feitas com o mínimo impacto possível no planeta?

Os transportes são um dos setores que mais contribuem para o total de emissões de gases de efeito de estufa. Aliás, segundo os números partilhados pela Associação Zero, são efetivamente os transportes os responsáveis por 34% de todas as emissões de CO2 do país – mais do que a agricultura, a indústria ou a produção de eletricidade.

Com a meta europeia de neutralidade climática para 2050 – e a redução de 90% das emissões até 2040 –, como vai o setor dos transportes responder? É que a dez anos as metas são claras: redução de 65% nas emissões de CO2 para veículos pesados novos a partir de 2035, ano depois do qual todos os veículos ligeiros novos deverão ter emissões nulas, assim como 100% dos autocarros urbanos. Mas como irá responder a isto o setor automóvel? É que é este o responsável pela maior fatia de emissões de gases de efeito de estufa. Portanto, será aí que se focará o trabalho para a sua redução. É que se 71% das emissões dos transportes vêm do setor rodoviário, destas, 60,6% são provenientes dos automóveis. E, como salienta Rita Prates, responsável da Zero, esse número não se deve ao facto de serem veículos particularmente poluentes, mas ao facto de serem em número muito elevado.

Em Portugal, o processo de transição energética tem sido motivo de orgulho, sobretudo no que toca à adoção de novos veículos elétricos. Segundo Pedro Faria, presidente da UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos, em outubro, pelo segundo mês consecutivo, as vendas de novos veículos elétricos superaram as vendas de novos veículos a combustão, indicando que o parque automóvel já está a mudar. E exponencialmente.

Com incentivos para as empresas, mas poucos apoios para os particulares, e com um parque automóvel envelhecido, são vários os desafios que se apresentam ao sucesso desta transição. A mobilidade suave, que, de acordo com Rita Prates, é fulcral para o sucesso do cumprimento das metas, parece uma miragem num país onde uma grande percentagem da população ainda utiliza exclusivamente o automóvel próprio como meio de deslocação.

Se para a responsável da Zero a solução tem obrigatoriamente de passar pela redução substancial de automóveis na estrada, para muitos a solução reside na eletrificação destes automóveis. E é nesse sentido que está a trabalhar o setor, com as marcas a responderem com gamas 100% elétricas cada vez mais extensas. E com preços e autonomias cada vez mais competitivos. Falta, porém, garantir que a infraestrutura da rede de carregamentos consegue acompanhar todo este crescimento, assegurando que nenhum veículo fica parado por falta de energia – ou que sejam necessárias horas para o carregar.

Além do automóvel, a sustentabilidade dos transportes passa, necessariamente, pelo transporte de mercadorias – essencial para uma economia forte e competitiva. Para Gustavo Paulo Duarte, CEO do grupo Paulo Duarte, para esta mudança ocorrer é preciso não só modernizar frotas e tornar as operações cada vez mais eficientes como é necessária uma evolução da tecnologia e da qualidade das infraestruturas. Tudo isto exige um grande investimento por parte das empresas. “Para que o setor dos transportes possa cumprir o seu papel na construção de uma economia mais moderna, resiliente e sustentável, é essencial haver um compromisso político, que garante estabilidade e previsibilidade. Precisamos de decisões estruturais”, diz Gustavo Paulo Duarte.

Também Helder Pedro, presidente do ACAP, partilha esta visão. “A renovação das frotas profissionais e logísticas é um eixo decisivo da descarbonização no setor dos transportes”, mas os constrangimentos são claros: “O custo elevado dos veículos elétricos, a falta de soluções adaptadas a operações específicas e as limitações existentes na rede de carregamentos. Pequenas empresas, em particular, enfrentam maiores obstáculos, o que pode acentuar desigualdades na mobilidade sustentável.”

Mobilidade suave e eletrificação

Por onde passará, então, o transporte do futuro? Para Rita Prates, passará, necessariamente pela mobilidade suave e pelo uso de transportes públicos eletrificados. E, portanto, para a responsável da Zero, “é fundamental que as câmaras tenham a mobilidade sustentável na sua visão, pois são as únicas capazes de agir na infraestrutura e nos condicionamentos de trânsito. Têm de perceber que é esta a mudança que os cidadãos querem”.

Para responsáveis do setor, porém, como é o caso de David Albós, diretor-geral da CUPRA em Portugal, a resposta passa pela eletrificação dos veículos. E, portanto, acredita “que uma revisão orientada do quadro fiscal para maior neutralidade tecnológica, estímulo à aquisição de elétricos e apoio a empresas que descarbonizam as suas frotas teriam impacto imediato. O país tem condições para liderar a mobilidade elétrica, um enquadramento fiscal mais competitivo e previsível só iria potenciar essas condições.”

Pedro Faria, responsável da UVE, também considera que o futuro dos transportes passa pela eletrificação. E, embora esteja otimista, “é preciso fazer muito no que toca ao transporte de mercadorias. O pacote de incentivos não funciona. É preciso encontrar nesse campo metas de sucesso.”

Com a cimeira da COP30 a deixar de lado metas claras para eliminar o recurso a combustíveis fósseis, vai caber aos países unirem-se neste esforço comum.  Que a indústria e o setor estão a mudar é inegável. Para onde e com que velocidade irá esse caminho ser percorrido são as questões que ficam no ar. Mas, de uma forma ou de outra, o percurso já está a ser feito.       

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