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Veículos 100% elétricos: um caso de sucesso

Crescimento exponencial das vendas, infraestrutura de carregamentos, duração das baterias. A mobilidade elétrica é uma peça-chave na transição energética em Portugal. E está a correr bem.

15:51
Pedro Faria, presidente do seu conselho diretivo da UVE
Pedro Faria, presidente do seu conselho diretivo da UVE

Já se vendem mais automóveis 100% elétricos do que a combustão. O ponto de viragem aconteceu, segundo a s, no mês passado, com outubro a ser o segundo mês consecutivo em que as vendas de veículos 100% elétricos ultrapassaram o total de vendas de veículos a combustão, na categoria de ligeiros de passageiros, representando 30% das vendas de veículos novos. “Tem sido um crescimento exponencial. Desde que o pacote de incentivos fiscais foi criado que não houve retrocessos. E as perspetivas são de manutenção”, confirma Pedro Faria, presidente do seu conselho diretivo da UVE, salientando: “Nos veículos de passageiros o sucesso é muito significativo. Já no transporte de mercadorias, tanto nos ligeiros como nos pesados, o crescimento é mais lento — o pacote fiscal não é tão atrativo, os incentivos também não. E só recentemente começaram a surgir veículos capazes de realizar a maioria das operações” .

Para Pedro Faria, esta aceleração no crescimento das vendas de 100% elétricos fica a dever-se a, por um lado, terem chegado ao mercado mais modelos de veículos 100% elétricos. Por outro, o ecossistema da mobilidade elétrica em Portugal “está pensado para as empresas, tanto nos incentivos fiscais, como no carregamento na rede pública” e, como o mercado automóvel de veículos novos vive das frotas, com 83% das viaturas elétricas a serem adquiridas por empresas, o sucesso está quase garantido. “Falta-nos dar um grande salto nos particulares. Os incentivos para particulares têm funcionado muito mal, cerca de 60% da dotação orçamental prevista para os particulares ainda não foi atribuída. O outro problema é a necessidade de entregar um veículo com dez anos para abate. Não somos contra isso, mas deve ser usado numa posição de majoração”.

Carregamento cada vez mais otimizado

o falar de particulares, é inevitável referir um dos maiores receios dos consumidores: a dificuldade no carregamento. Pedro Faria salienta que esse é um problema visível, sobretudo, em alturas de grande fluxo, porém, não no dia-a-dia. “A infraestrutura de carregamento cresceu e luta para encaixar todos os meses os novos utilizadores. Mas em dias de grande fluxo — como fins de semana prolongados — vemos filas para os carregamentos nas autoestradas. Há postos livres nas saídas, mas o utilizador não tem de saber isso. Mas no dia-a-dia os problemas são muito localizados. Claro que há postos mais económicos e com maior procura. Mas as dificuldades são pontuais”.

De resto, o ideal é ter acesso a carregamento em casa ou no trabalho, uma vez que aí os valores de carregamento são muito mais baixos. “A transição para mobilidade elétrica é muito facilitada para quem consegue carregar o seu veículo sem recorrer à rede pública”, admite Pedro Faria. Aliás, no site da UVE é possível ter acesso a um comparativo entre os custos para percorrer 100 quilómetros com veículos automóveis 100% elétricos ou com motores de combustão interna. Os resultados? Carregar em casa é claramente a aposta vencedora (o valor pode ser de apenas 2,11 euros na tarifa bi-horária, valor esse que ascende a 9,84 euros para um carro a gasolina). Carregar na rede pública, porém, pode ter um custo superior a um carro a gasóleo (8,01 euros face a 7,41 euros). “Os dados mostram que quem recorre exclusivamente à rede pública para carregar o seu veículo pode ter um custo elevado. Mas quem o faz à partida já encontrou na zona onde habitualmente carrega o carro postos mais baratos e otimiza custos. Tem havido grandes melhorias na competitividade. O valores nunca excedem os de um veículo a combustão” garante Pedro Faria.

Um dos obstáculos, aliás, que se colocam à escolha de um 100% elétrico, assegura o presidente da UVE, são estes os mitos que ainda subsistem. “É preciso educar para esta transição. Ainda temos pessoas a acreditar que a bateria tem de ser substituída no curto prazo – e isso não é verdade, a bateria não acaba, quando muito perde um pouco de autonomia ao fim de cinco ou oito anos”. Segundo Pedro Faria, a tecnologia tem evoluído muito depressa, com os veículos que agora chegam ao mercado a terem baterias com uma vida muito mais longa que as iniciais. “Cada vez os estudos dão mais vida útil à bateria – já apontam para 20 ou 30 anos, e muitos milhares de quilómetros percorridos, com apenas alguma perda de autonomia. Não é expectável que um proprietário tenha de substituir a bateria durante o tempo em que tem o veículo em sua posse".

Com Portugal bem colocado a nível mundial no que toca à transição energética, sendo um “dos poucos países onde os veículos elétricos são considerados de mass market”, Pedro Faria está otimista. Mas, salienta, além de “rever os incentivos a particulares nos ligeiros de passageiros é preciso fazer muito no que toca ao transporte de mercadorias – aí Portugal está alinhado com a Europa”. “O pacote de incentivos não funciona. Os veículos para transporte de mercadorias já estão no mercado há dois anos. É preciso encontrar nesse campo metas de sucesso”, alerta. De resto, o presidente da UVE acredita que podemos cumprir as metas estabelecidas pela União Europeia para 2035 – que proíbem a venda de veículos a combustão a partir dessa data. “É uma meta perfeitamente alcançável. Ninguém tem dúvidas de que é uma questão de tempo. Mas as políticas têm de continuar a forçar essa transição”, conclui.       

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