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Negócios: Cotações, Mercados, Economia, Empresas

Um ativo estratégico

A formação de executivos em Portugal há muito que deixou de ser apenas uma mais-valia curricular. Hoje, é vista como um catalisador de investimento estratégico para a competitividade das empresas e para a modernização da economia.

18 de Setembro de 2025 às 15:52
Executivos em formação consideram a estratégia como investimento para empresas em Portugal
Executivos em formação consideram a estratégia como investimento para empresas em Portugal

Se, durante anos, a atualização de competências de gestores de topo era vista como um complemento, hoje transformou-se num ativo essencial para enfrentar riscos geopolíticos, mudanças tecnológicas e exigências de sustentabilidade. O movimento é evidente tanto nas grandes empresas como nas PME, refletindo a consciência de que só uma aprendizagem contínua pode sustentar a transformação empresarial.

Rafael Alves Rocha, diretor-geral da CIP – Confederação Empresarial de Portugal, destaca que a colaboração entre instituições académicas e empresas tem avançado a passos largos, sendo que a ligação entre universidades, escolas e empresas tem evoluído de forma significativa. E a CIP tem tido um papel relevante nesse caminho. Na verdade, programas como o Promova, o Progrida e o Liderança para Associações foram cocriados pela CIP em estreita colaboração com escolas de negócios, demonstrando que esta aproximação é uma realidade.

Os números demonstram o impacto. O Promova, criado em parceria com a Nova SBE e focado em mulheres em funções de liderança de topo, já soma seis edições, 180 participantes de mais de 90 empresas e uma taxa de progressão de carreira de 53%. O Progrida, dirigido a mulheres em cargos de gestão intermédia, é desenvolvido com a Porto Business School e conta já com duas edições, envolvendo 60 participantes de 26 empresas. Já o Liderança para Associações, também com a Nova SBE, abrangeu 60 dirigentes e quadros do movimento associativo.

Apoios à medida de cada projeto

Apesar destes avanços, há ainda um longo caminho a percorrer. Como nota Rafael Alves Rocha, “a grande maioria dos programas continua a nascer sobretudo da lógica académica, sem o diálogo contínuo com as empresas a propósito dos seus desafios reais”. O futuro, defende este responsável, está na cocriação de programas que incluam universidades, empresas, associações e centros de investigação, permitindo formatos flexíveis e adaptados a diferentes setores. “Somente assim conseguiremos criar escala com real impacto”, sublinha, acrescentando que a CIP quer assumir-se como “ponte que une estes dois mundos, académico e empresarial, promovendo uma visão de futuro: a transformação do conhecimento em ação que gera crescimento económico”.

O desafio é particularmente relevante para as pequenas e médias empresas, que representam a maioria do tecido económico português. Carla Branco Santos, vogal do Conselho Diretivo do IAPMEI, lembra, no entanto, que existem instrumentos de capacitação já direcionados para estas realidades. “Paralelamente, o IAPMEI promove e apoia iniciativas que visam a qualificação e modernização empresarial, nomeadamente através de projetos colaborativos, como a Formação Empresarial Conjunta, Clusters e a Formação Empresarial Conjunta, Comércio e Serviços, que potenciam a inovação e a competitividade em setores estratégicos da economia nacional”, acrescenta Carla Branco Santos.

No plano individual, a gestora explica que os apoios diferem: “Os apoios diretos a indivíduos seguem outras vias e entidades públicas (como os instrumentos do IEFP ou iniciativas transversais de política pública), devendo os interessados consultar os respetivos programas.”

Executivos em formação consideram a estratégia como investimento para empresas em Portugal
Rafael Alves Rocha, diretor-geral da CIP

Cooperar para crescer

A pressão sobre os executivos portugueses direciona-os para liderarem em ambientes incertos, digitalizados e com crescente escrutínio social, o que exige novas competências. Rafael Alves Rocha considera que o executivo português do futuro terá de eleger um líder com visão multidimensional. “Capaz de integrar a IA como aliada estratégica, não apenas como ferramenta operacional, mas também quer com consciência ética, quer com capacidade de governação; responsável pela sustentabilidade, incorporando as dimensões ambiental, social e de governação no centro da estratégia empresarial; ágil e resiliente num cenário geopolítico incerto, preparado para lidar com riscos ao mesmo tempo que identifica oportunidades em novos mercados; facilitador de aprendizagem dentro da própria empresa, promovendo a partilha de conhecimento entre equipas no cenário de valorização da aprendizagem contínua”, explica o diretor-geral da CIP.

Este perfil exige que a formação executiva seja pensada não como um curso pontual, mas como uma plataforma permanente de criação de valor. Como sublinha o diretor-geral da CIP, a formação executiva é, em si mesma, um ativo estratégico para as empresas, para a economia e para o país. O seu papel é transformar mentalidades, alargar horizontes e fomentar uma cultura em que aprender ao longo da vida seja natural, instintivo e desejado. “Mais do que transmitir competências, a formação deve criar comunidades de aprendizagem, em que executivos, colaboradores e empresas cooperam para crescer”, destaca Rafael Alves Rocha.

A visão destes responsáveis é clara e Portugal pode consolidar-se como referência europeia na formação de executivos se souber articular inovação, gestão estratégica e desenvolvimento humano, e se continuar a investir nesta aprendizagem contínua como forma de sobrevivência e crescimento.

Mais do que transmitir competências, a formação deve criar comunidades de aprendizagem, em que executivos, colaboradores e empresas cooperam para crescer. Rafael Alves Rocha, diretor-geral da CIP
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