Quem recruta executivos de topo já percebeu que não basta encontrar profissionais com experiência consolidada em gestão. O que está hoje em causa é a capacidade de adaptação, o domínio de competências emergentes e a visão estratégica para enfrentar um mercado em constante disrupção. É neste cenário que a formação executiva ganha um peso determinante, não apenas como investimento individual, mas sobretudo como fator diferenciador para as organizações que disputam talento ao mais alto nível.
David Ferreira, country director da Robert Walters Portugal, sublinha que “a formação executiva está cada vez mais orientada para o desenvolvimento de competências estratégicas e resiliência, incluindo programas focados em liderança transformacional, gestão da mudança e tomada de decisões baseadas em dados”.
Para os responsáveis de recursos humanos e para os conselhos de administração, este alinhamento torna-se fundamental, uma vez que o que está em causa é preparar líderes para navegar em ambientes de incerteza económica, avanços tecnológicos acelerados e crises reputacionais amplificadas pelas redes sociais.
Áreas críticas para o futuro
A inteligência artificial assume-se como a tendência mais transformadora. O impacto é transversal e afeta processos, modelos de negócio e a própria forma de liderar. Para David Ferreira, esta pressão redefine também o papel das escolas de negócios e dos recrutadores, cuja missão não passa apenas por avaliar currículos, mas identificar quem está realmente apto a tomar decisões estratégicas sustentadas em dados.
Do lado das consultoras de executive search, a visão é clara e há quatro áreas que estão a marcar o futuro da liderança. José Morais da Silva, partner da Stanton Chase, identifica IA & dados, ESG, Digitalização & Transformação e Liderança Multigeracional como os pilares que já orientam o investimento das empresas em programas executivos.
A literacia em dados, a integração de métricas ESG nos indicadores de desempenho, a condução de projetos de transformação digital e a capacidade de atrair talento da Geração Z estão hoje no centro do perfil desejado para qualquer líder.
A liderança multigeracional ganhou relevância inesperada, e atrair e reter jovens quadros exige competências de employer branding e estratégias de pertença, aspetos que passam a estar incluídos em programas de formação para executivos. Num contexto em que as novas gerações escolhem empregadores tanto pelo propósito como pela carreira, a liderança eficaz tem de ser capaz de gerir essa complexidade.
O peso da escola de negócios
Se no plano das competências a exigência é cada vez maior, no que diz respeito ao prestígio das escolas a realidade portuguesa revela algumas nuances. David Ferreira reconhece que “o fator diferencial costuma ser o prestígio” e que, em muitos casos, instituições internacionais consolidadas oferecem uma visão global mais valorizada no mercado. No entanto, reforça que há programas de escolas nacionais que “não ficam atrás das escolas europeias”.
José Morais da Silva acrescenta que mercados mais maduros, como o Reino Unido ou a Alemanha, dão maior relevância aos MBA e a programas modulares de referência, onde o networking internacional é um ativo fundamental. Frequentar escolas como a INSEAD, a London Business School ou o IMD - International Institute for Management Development, permite um contacto direto com líderes de diferentes geografias e setores, expondo os participantes a práticas e contextos que dificilmente se replicam em ambientes exclusivamente locais. O “selo” internacional continua a abrir portas, mas o que pesa cada vez mais é a demonstração prática de competências em IA, ESG, digitalização e liderança multigeracional.
Ainda assim, a realidade portuguesa mostra sinais de equilíbrio. Se por um lado continua a existir uma valorização da formação internacional de topo, sobretudo em setores altamente globalizados como a tecnologia ou a indústria farmacêutica, por outro a formação executiva nacional ganha reconhecimento quando se mostra alinhada com as necessidades específicas do mercado. “O conteúdo e a aplicabilidade do programa são muitas vezes mais relevantes do que a origem geográfica”, sustenta José Morais da Silva.
Este equilíbrio entre prestígio internacional e relevância local está a redefinir o modo como empresas e executivos encaram a aprendizagem ao longo da vida. Para quem ocupa ou ambiciona funções de topo, a mensagem é clara: a aprendizagem contínua é a chave para permanecer competitivo e relevante.