Para a Associação Automóvel de Portugal (ACAP), “a eletrificação está a consolidar-se como uma das principais tendências do mercado automóvel nacional, ganhando cada vez mais peso nas escolhas dos consumidores portugueses”, afirma Helder Pedro, secretário-geral daquela organização.
Efetivamente, e segundo os dados divulgados recentemente pela Associação, a mobilidade elétrica e híbrida mantém um dinamismo elevado em 2025. Em agosto, foram matriculados 8.621 automóveis ligeiros de passageiros eletrificados — que incluem elétricos a bateria, híbridos plug-in e híbridos —, um crescimento de 30,9% face ao mesmo mês do ano anterior.
No acumulado de janeiro a agosto, o mercado atingiu 90.137 unidades, traduzindo-se num aumento de 35,1% face a igual período de 2024. No caso específico dos veículos 100% elétricos (BEV), registaram-se 3.074 novas matrículas em agosto (+23,8%), num total de 31.723 unidades desde o início do ano (+26,8%).
Renovar parque automóvel
Apesar dos sinais positivos, o responsável da ACAP lembra que subsistem desafios estruturais para descarbonizar o parque automóvel. “Em Portugal circulam mais de 1,6 milhões de veículos com mais de vinte anos, um número que evidencia a urgência de medidas estruturais que permitam acelerar a substituição de viaturas antigas por modelos mais eficientes e seguros”, alerta.
Para a ACAP, neste contexto, a política de incentivos é crucial para acelerar a renovação do parque circulante, mas precisa de ser repensada. “A procura recorde verificada em 2025 mostra que os apoios existentes são eficazes, mas também que carecem de reforço”, afirma Helder Pedro. Na sua opinião, “é muito limitativo que os atuais incentivos ao abate se apliquem exclusivamente à aquisição de veículos elétricos”. “Defendemos que esses apoios devem igualmente abranger veículos com motor de combustão interna, desde que cumpram critérios de emissões”, explica.
Fiscalidade e rede de carregamento
Um outro ponto crítico é a fiscalidade automóvel, que a ACAP considera desajustada e pouco promotora da transição energética. A associação defende uma revisão do quadro fiscal, que permita alinhar incentivos e eliminar barreiras à adoção de soluções de transporte mais sustentáveis. Por outro lado, é necessário expandir e tornar mais fiável a rede de carregamento. “A rede precisa de crescer em todo o território e oferecer maior previsibilidade e conveniência para dar resposta ao aumento da procura”, sublinha o secretário-geral da ACAP.
Contexto europeu e estabilidade regulatória
A associação lembra ainda que o enquadramento europeu é determinante para o futuro do setor. As decisões tomadas em Bruxelas para reforçar a competitividade da indústria automóvel, bem como as tensões geopolíticas internacionais, terão impacto direto em Portugal. Neste contexto, a ACAP compromete-se a continuar a cooperar com o Governo e com as instituições europeias para promover políticas fiscais e de incentivo mais consistentes, atrair investimento e fomentar a inovação no setor automóvel.
Se a evolução do mercado confirma que a mobilidade elétrica é cada vez mais relevante na escolha dos consumidores portugueses, o caminho para a descarbonização plena continua dependente de políticas públicas consistentes. A ACAP considera que 2025 pode ser um ponto de viragem, desde que se acelerem as medidas de renovação do parque automóvel, se corrijam distorções fiscais e se assegure a expansão da rede de carregamento em todo o território.