Este ano, Portugal atingiu um patamar de consolidação no que respeita à mobilidade elétrica, defende Manuel Reis, vice-presidente da UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos. Para este responsável, “2025 é um ano de crescimento sustentado nas vendas de veículos elétricos”.
A tendência, de acordo com os dados disponíveis, é clara: os veículos 100% elétricos (BEV) estão a ganhar protagonismo face aos híbridos plug-in (PHEV), registando uma quota de mercado de 17,5% até agosto, contra 11,6% para os PHEV. Esta evolução acompanha a de países mais avançados na eletrificação, como a Noruega, observa Manuel Reis.
No entanto, e se a mobilidade elétrica de passageiros começa a consolidar-se, o transporte de mercadorias surge já como a próxima prioridade. Manuel Reis sublinha que “é cada vez mais premente a aposta na descarbonização do transporte de mercadorias, tanto na distribuição como na longa distância”. Neste contexto, nos últimos anos, a oferta de veículos ligeiros de mercadorias elétricos expandiu-se, e está a crescer também a gama de pesados elétricos disponíveis no mercado. Por isso, a associação considera essencial o desenvolvimento de uma rede de carregamento de muito alta potência, dedicada especificamente a veículos pesados, para garantir que os operadores de transportes possam investir na mobilidade elétrica com confiança.
Rede de carregamento e políticas públicas
Outro desafio crítico é garantir que a infraestrutura de carregamento acompanha o ritmo de crescimento do parque automóvel eletrificado. Na perspetiva da UVE, o novo Regime Jurídico da Mobilidade Elétrica (NRJME) foi um passo positivo, mas é necessário fazer mais. “É necessário acelerar os prazos de licenciamento e de ligação à rede, e criar incentivos para a instalação de postos em regiões afastadas dos grandes centros urbanos”, defende o responsável. Estas medidas, considera a associação, são fundamentais para que Portugal continue a cumprir os objetivos do regulamento europeu AFIR, que estabelece metas obrigatórias para a potência instalada em função do número de veículos elétricos em circulação.
Europa debate metas para 2035
Uma outra questão que pode vir a ser importante para o desenvolvimento da mobilidade elétrica é o facto de estar a decorrer em Bruxelas a consulta pública “Revision of the CO2 emission standards for cars and vans”. A UVE alerta para o risco de um eventual abrandamento dos prazos para o phase-out dos motores de combustão, atualmente definido para 2035, com metas intermédias.
Para Manuel Reis, do ponto de vista da UVE, “seria altamente negativo baixar as metas de 2035, pois prolongaria as emissões de CO2 e reduziria a competitividade da indústria automóvel europeia”, face a fabricantes de outras geografias, nomeadamente os chineses. A associação vai contribuir para a consulta pública, cujo prazo termina a 10 de outubro, e incentiva cidadãos e empresas a manifestarem a sua posição.
Mobilizar e esclarecer
A UVE tem procurado, de várias formas, mobilizar a sociedade para a causa da mobilidade elétrica. Um dos exemplos mais visíveis é o Encontro Nacional de Veículos Elétricos, o maior evento nacional dedicado ao tema, que terminou ontem em Oeiras. Esta edição contou com mais de 30.000 m² de exposição de veículos, carregadores e serviços associados, além de múltiplas atividades gratuitas para todas as idades. Em dezembro, a associação assinalará o seu 10.º aniversário com um programa comemorativo que será divulgado em breve.
Para dar maior transparência e permitir uma monitorização rigorosa do setor, a UVE lançou em 2025 o Observatório da Mobilidade Elétrica, no qual é possível consultar estatísticas detalhadas sobre matrículas, infraestrutura e tendências de utilização.
Para a UVE, Portugal ocupa hoje uma posição de destaque na transição para a mobilidade elétrica, mas o caminho para a descarbonização total do transporte rodoviário exige novos avanços. A aposta na eletrificação do transporte de mercadorias, o reforço da rede de carregamento e a manutenção de metas ambiciosas a nível europeu serão determinantes para que o país continue a liderar a mudança e a contribuir para a neutralidade carbónica até 2050.