“Despesa na Saúde não pode continuar a crescer 10% ao ano”

Ministro das Finanças recusa que haja corte de despesa na Saúde em 2026, justificando a quebra na aquisição de bens e serviços com questões metodológicas e uma nova reserva orçamental. Mas Sarmento quer mais “eficiência e rigor” e diz que despesa não pode manter ritmo de crescimento atual.
“Despesa na Saúde não pode continuar a crescer 10% ao ano”
Susana Paula e Rosário Lira 02 de Novembro de 2025 às 21:30

O ministro das Finanças recusa que a despesa efetiva na Saúde diminua em 2026, explicando que, além de questões metodológicas, parte da despesa que antes estava dedicada à aquisição de bens e serviços está agora numa “reserva orçamental” na mão da ministra da Saúde que deve ser usada com critério. Miranda Sarmento defende “eficiência e rigor” e diz que não é sustentável que a despesa na Saúde continue a crescer a dois dígitos ao ano.

Explique-nos como é que será possível reduzir a despesa na saúde quando assistimos a sinais contrários, como a contratação de mais pessoas e a maiores necessidades de atendimento.

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Há três equívocos.

É o que está previsto na proposta de OE, há um corte de 1,6% na despesa corrente e de 10,1% na aquisição de bens e serviços.

Primeiro, a despesa do Programa de Saúde total aumenta [1,5% segundo a proposta de OE]. O que diminui de 2025 para 2026 é a aquisição de bens e serviços. Mas a forma como isto foi abordado é um equívoco. A quebra de despesa na aquisição de bens e serviços resulta de dois fatores. Primeiro, em 2025, tem nesta rubrica um valor extraordinário para pagamento de dívidas a fornecedores, que depois não se repete em 2026.

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De que valor?

Superior a 700 milhões de euros. Depois, a alteração metodológica que nós fizemos, para deixar de ter cativos e passar a ter uma reserva orçamental, significa que uma parte da despesa com aquisição de bens e serviços está numa rubrica designada de outras despesas correntes – que aumenta imenso, mais que triplica. E depois há um aumento de despesa com o pessoal, porque nós queremos reduzir o número de tarefeiros, que é uma componente muito importante da aquisição de bens e serviços, e reforçar o serviço de pessoas no Serviço Nacional de Saúde (SNS). E, portanto, não há qualquer redução de despesa na Saúde. A despesa na Saúde vai continuar a crescer. Mas não pode crescer como cresceu nos últimos anos. Em 2024 e 2025, cresceu muito influenciada por duas decisões do governo do PS no final de 23 absolutamente desastrosas, a dedicação plena e a criação das ULS [Unidades Locais de Saúde].

Pode garantir que não vai dizer à ministra da Saúde para não usar os montantes nessa reserva orçamental?

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As pessoas quando vão aos hospitais têm de ser tratadas. Isso para mim é um princípio sagrado. O SNS é o instrumento mais eficaz que o Estado tem de correção das desigualdades e de apoio àqueles que têm menores rendimentos. Agora nós não podemos continuar a ter a despesa a crescer 10% como aconteceu em 2024 e em 2025. E parte substancial desse crescimento resulta de duas decisões absolutamente desastrosas tomadas no final de 2023 pelo PS. A dedicação plena e a criação das ULS.

Vai haver um controlo apertado na Saúde?

Vão haver medidas para melhorar a eficiência, não só na Saúde, em todas as áreas. Nós iniciamos também neste Orçamento do Estado um exercício de revisão da despesa. E nós temos que ser muito criteriosos e muito eficientes em toda a despesa pública, em todos os ministérios.

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Portanto, a notícia de que a direção executiva do SNS teria dado indicação para os hospitais cortarem...

Eu não estive nessa reunião. Não sei que indicações há.

E suas para o Ministério da Saúde? Perante este OE?

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O que o Ministério das Finanças diz à Saúde e a cada ministério são duas coisas: este é o plafond de despesa e, portanto, as prioridades, os objetivos, as medidas têm de ser dentro deste plafond. E, naturalmente, procurar ser o mais eficiente possível na utilização dessa despesa.

Isso não significa fornecer menos serviços? Prejudicar quem precisa de atendimento?

Não significa menos serviços, não significa menos capacidade instalada.

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Mas quão possível será cumprir com os limites orçamentados? O Conselho das Finanças Públicas fala em suborçamentação. Não vai haver derrapagem?

Nós estamos focados em que o SNS possa melhorar a sua qualidade, possa resolver os muitos problemas que tem e a situação muito difícil em que estava quando chegámos em abril de 2024. Isto na certeza de que a despesa cresceu muito em 2023, 2024, mas sobretudo em 2024 e 2025, e que não é sustentável continuar a crescer a dois dígitos. E por isso nós temos de ser eficientes, temos de ser rigorosos. Mas, naturalmente, que as pessoas vão ter cada vez melhores cuidados de saúde e [vamos], sobretudo, resolver os problemas graves que há nas urgências, na obstetrícia e ginecologia, nas listas de espera, etc.

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