Pacote habitacional do Governo é "insuficiente" para os inquilinos, diz associação
As propostas entregues pelo Governo no parlamento "têm efeitos positivos, mas insuficientes" para resolver a crise da habitação, considera o vice-presidente da Associação dos Inquilinos Lisbonenses (AIL), Luís Mendes, em declarações à agência Lusa.
"São medidas que podem desbloquear o mercado de arrendamento, se tiverem a adesão dos senhorios, mas são pouco estruturadas para conter a crise habitacional. Deviam ter mais fôlego e um caráter mais estrutural", disse.
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Ao determinar benefícios fiscais para a venda de habitações de até 648 mil euros, ou para arrendamento de até 2.300 euros mensais, o pacote legislativo do Governo "abrange 95% do mercado", mas pode acabar por ser "um convite" aos senhorios para que aumentem as rendas até valores próximos do teto que o executivo definiu como renda moderada.
"O viés não é o mais correto, pode ter um efeito perverso e dar origem a um aumento ainda maior das rendas, pelo menos numa fase inicial", explicou.
Considerando que a informalidade no mercado da habitação "é elevada e distorce os preços", o vice-presidente da AIL defende a criação de um registo nacional do arrendamento para tornar obrigatório o registo dos contratos e combater a evasão fiscal, aumentar a transparência e fazer baixar os preços.
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O responsável acredita que a redução de 25% para 10% da taxa de IRS sobre as rendas não é suficiente para acabar com a informalidade no setor. "Sem fiscalização, tudo o que se fizer pode não produzir efeitos", adianta.
Além da criação de um registo do arrendamento, Luís Mendes sugere uma inventariação do património público com vocação residencial, de modo a poder ser colocado no mercado a custos controlados.
"Estas duas medidas são fundamentais para combater a crise da habitação. Não é com construção nova que se resolve o problema. Os períodos em que mais se construiu em Portugal foram também aqueles em que os preços de venda mais subiram, porque o acesso ao crédito bancário estava facilitado", adianta.
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Por isso, defende também "algum controlo dos preços nas áreas mais procuradas", para que o valor das rendas praticadas não ultrapasse um terço do rendimento médio por habitante, à semelhança do que afirma estar a ser feito noutros países.
"Ao contrário do que diz o pensamento neoliberal, mais construção não vai baixar os preços, porque dependem do custo dos solos, que é elevado, e do custo da mão-de-obra, que é escassa", assinala.
"Sendo geógrafo, costumo dizer que há três fatores com muito peso na formação dos preços: localização, localização, localização", conclui.
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As propostas entregues pelo Governo na Assembleia da República correspondem a uma autorização legislativa que permite ao executivo de Luís Montenegro alterar o Código do IVA, o Código do IRS, o Estatuto dos Benefícios Fiscais e o Código do IMT com o objetivo de fomentar a oferta de habitação a preços mais reduzidos.
A proposta de lei para reduzir o IVA na construção de casas para venda ou arrendamento a preços moderados dá ao fisco 150 dias para devolver a diferença entre o IVA de 23% e 6%, se os proprietários construírem ou reabilitarem imóveis destinados à habitação e venderem a casa até 648 mil euros ou se arrendarem o imóvel praticando uma renda mensal não superior 2.300 euros mensais.
Com o objetivo de aumentar a oferta habitacional, o executivo propõe que os proprietários que vendam uma casa fiquem isentos de IRS sobre as mais-valias prediais se reinvestirem os ganhos em imóveis para arrendamento habitacional.
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Também se prevê uma redução da taxa de tributação autónoma de IRS que se aplica sobre os rendimentos obtidos, até 2029, com contratos de arrendamento e subarrendamento habitacional.
Em vez da atual taxa de 25%, o executivo pede autorização ao parlamento para 10%, se a renda ficar dentro do limite enquadrado como preço moderado pelo executivo (2.300 euros mensais).
No caso de os imóveis serem detidos por empresas, o executivo prevê que só metade dos rendimentos prediais conte para a tributação em IRC.
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