pixel

Negócios: Cotações, Mercados, Economia, Empresas

Notícias em Destaque

CFP vê economia a cair 9,3% este ano e défices até 2024

O CFP avisa que será preciso esperar até 2024 para o país regressar ao nível de atividade real pré-pandemia. E mesmo quando lá chegar, terá ainda um défice de 2,7% do PIB e uma dívida pública de 130,1% por resolver.

Lusa
17 de Setembro de 2020 às 15:00

Já nenhum dos principais organismos que acompanham a economia portuguesa espera uma recessão económica este ano inferior a 9%. O Conselho das Finanças Públicas (CFP) atualizou esta quinta-feira as suas projeções macroeconómicas, antecipando agora uma contração de 9,3% do PIB. A degradação das expectativas ficou a dever-se a uma contração maior das exportações do que o esperado em junho.

Há dois meses, o CFP trabalhava ainda com uma projeção de recessão na ordem dos 7,5%. Agora, mesmo com os resultados encorajadores da atividade económica da zona euro no terceiro trimestre – como foi recentemente sublinhado pela presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde – o organismo liderado por Nazaré da Costa Cabral piorou significativamente as suas expectativas para a economia portuguesa.

A projeção do CFP, divulgada no relatório de Perspetivas Económicas e Orçamentais 2020-2024, aproxima-se dos valores que já tinham sido avançados pela OCDE, Banco de Portugal e Comissão Europeia, que esperam contrações de 9,4%, 9,5% e 9,8%, respetivamente.

No documento, os peritos em macroeconomia explicam que as exportações sofreram uma quebra maior do que o previsto, antecipando-se agora uma contração de 22,5% das vendas ao exterior, mais 1,9 pontos percentuais do que o esperado.

"Na sequência da contração económica verificada nos principais parceiros comerciais portugueses registou-se, após o mês de março, um declínio acentuado das exportações nacionais de bens com destino a Espanha, Alemanha e França", sublinha o relatório, explicando que como consequência a procura externa dirigida a Portugal deverá encolher este ano 17,4%.

Mais emprego destruído

Com uma recessão mais profunda, o CFP reviu também as suas expectativas para o mercado de trabalho. Agora espera uma queda de 4% do emprego, mais um ponto percentual do que o que admitia em junho. Ainda assim, a taxa de desemprego não reflete este agravamento, antevendo-se que fique em 10%.

Com menos emprego, o rendimento das famílias fica ainda mais prejudicado, baixando as expectativas sobre o consumo privado, que deverá contrair 8,9% apesar dos apoios do Estado. Além disso, espera-se que a elevada incerteza provocada pela crise promova o aumento da poupança, lê-se no relatório.

10%desemprego
A taxa de desemprego deverá ficar em 10% este ano. O emprego deverá baixar 4%.

Recuperação será lenta e nível pré-Covid só em 2024

Apesar do maior pessimismo sobre a atividade económica, o CFP continua a projetar uma recuperação da economia, a partir de 2021. No próximo ano deverá registar-se um crescimento de 4,8%, seguido de um novo aumento da atividade económica, de 2,8%. Esta projeção assenta no pressuposto de que o choque é transitório.  

A subida do PIB deverá verificar-se através do consumo privado e do investimento, com um contributo também significativo das exportações, "ainda que se admita uma perda de quota de mercado em 2021

e a normalização no sector do turismo apenas em 2022", explica o CFP. Depois, o ritmo de crescimento deverá abrandar para valores em torno de 1,7%, demorando até 2021 para se recuperar o nível de PIB real pré-pandemia.

137%Dívida
Adívida pública vai agravar-se este ano para 137,6% do PIB, reduzindo-se depois progressivamente nos anos seguintes, mas chegando a 2024 ainda em 130,1%.

Cinco anos de défice orçamental

As projeções do CFP admitem um período de, pelo menos, cinco anos seguidos sempre com défices orçamentais. Para este ano, os peritos pioram as suas expectativas e duvidam da meta definida pelo Executivo (de 6,3%), antecipando um desequilíbrio na casa dos 7,2%. 

Face à sua projeção de junho, o valor agora apresentado representa uma degradação do saldo na ordem dos 0,8 pontos percentuais. "Esta revisão reflete principalmente a incorporação do apoio financeiro às empresas de transporte aéreo, TAP e SATA, e a atualização do impacto anual das medidas excecionais de resposta à crise pandémica", justifica o CFP.

No próximo ano o défice deverá diminuir, mas vai manter-se acima do limite de 3% que consta do Pacto de Estabilidade e Crescimento (mas que por enquanto está suspenso, através da cláusula de salvaguarda acionada pela Comissão Europeia). A projeção é de um défice de 3,2% em 2021, de 3% em 2022 e de 2,7% do PIB tanto em 2023 como em 2024.

Como consequência, a dívida pública vai agravar-se este ano para 137,6% do PIB, reduzindo-se depois progressivamente nos anos seguintes, mas chegando a 2024 ainda em 130,1%.

O CFP sublinha que as projeções macroeconómicas e orçamentais apresentadas estão repletas de incerteza, havendo vários riscos no sentido negativo (desde a pandemia e as medidas que contenção possam vir a ser necessárias, passando pelos elevados níveis de endividamento das famílias empresas, ou mesmo do risco de instabilidade das condições financeiras, entre outros) e apenas um único positivo – o Plano de Recuperação Europeu, cujos detalhes ainda não estão definidos.

CFP vê economia a cair 9,3% este ano e défices até 2024
Ver comentários
Publicidade
C•Studio