Guerra comercial com a China trava a fundo atividade nos portos norte-americanos
Imposição de tarifas de 145% sobre produtos chineses está a levar a uma diminuição significativa no número de contentores a dar entrada no mercado norte-americano. Porto de Los Angeles é o mais afetado, com uma diminuição de cerca de um terço no número dos contentores chineses a chegar aos EUA.
A escalada na guerra comercial entre os Estados Unidos e a China já está a causar danos na atividade económica norte-americana. Os operadores de portos do outro lado do Atlântico relatam quedas acentuadas nas reservas de contentores para transporte de mercadorias vindas da China, depois de a Administração Trump ter avançado com a introdução de tarifas de 145% sobre produtos chineses.
A diminuição das reservas de contentores é notória sobretudo no porto de Los Angeles, que é a principal porta de entrada de mercadorias da China nos Estados Unidos. Os grupos de logística que operam naquele que é um dos maiores portos em todo o mundo revelam que, na próxima semana, está prevista a chegada de menos cerca de um terço dos contentores que costumam chegar regularmente da China nesta altura do ano.
Em causa está a política protecionista agressiva do presidente norte-americano, Donald Trump, que anunciou taxas aduaneiras "recíprocas" para os países com os quais os Estados Unidos têm um elevado défice comercial e que afetaram de forma particularmente intensa a China. Após a retaliação da China, a Administração Trump aumentou ainda mais as taxas sobre produtos chineses, para 125%, às quais se adicionam a outras de 20% que já existiam, e que tinham sido impostas como penalização pela facilitação da entrada fentanil no país.
Este é o valor mais elevado desde a década de 1930 e está levou já a um arrefecimento das trocas comerciais da China para os Estados Unidos. Em abril, as reservas de contentores-padrão saídos da China para dar entrada no mercado norte-americano foram já 45% inferiores às do ano anterior e a previsão é de que a diminuição possa ser maior nas próximas semanas.
No conjunto de todos os portos dos Estados Unidos, foram reservados menos 400 mil contentores para fazer as tradicionais rotas de transporte de mercadorias entre a Ásia e a América do Norte no próximo mês. O número corresponde a uma queda de 25% em relação ao número de contentores de transporte de mercadorias que estavam programados para dar entrada em território norte-americano no início de março, ainda antes do anúncio das tarifas "recíprocas" de Donald Trump.
Só o porto de Los Angeles espera 20 "viagens em branco" no próximo mês, o que significa que foram canceladas 20 viagens previamente programadas de navios de transporte de mercadorias da Ásia para lá. Isso traduz-se em menos 250 mil contentores a dar entrada por esta via nos Estados Unidos. Em abril, apenas seis contentores vindos da Ásia não deram entrada devido a cancelamento.
Trata-se de uma queda acentuada em comparação com o número de contentores asiáticos que deverão entrar no país esta semana. Aliás, esta semana, verificou-se uma subida a pique na chegada de contentores aos Estados Unidos, de 56% face ao ano anterior. Esse aumento deveu-se, em grande medida, à antecipação de exportações, nomeadamente do Camboja e Vietname, que estão a aproveitar a "pausa" de 90 dias nas tarifas.
Os preços dos contentores estão também a refletir as mudanças nas cadeias de abastecimento. Segundo o Freightos, o preço de um envio de um contentor médio para fazer a rota Vietname-Estados Unidos aumentou 15%, enquanto a rota China-Estados Unidos registou uma diminuição de 27% no preço dos fretes.
Mais lidas