BCE e Alemanha rejeitam participação do BCE no perdão da dívida grega
"Indecente". Foi assim que a Alemanha classificou a proposta do BCE participar no perdão da dívida grega, feita ontem presidente do IFI, Charles Dallara. O BCE também já rejeitou esta hipótese.
Charles Dallara, presidente do Instituto Financeiro Internacional (IFI), pediu ontem a participação dos bancos centrais e outros institutos públicos no perdão à dívida grega, numa altura em que os responsáveis políticos europeus pedem maiores concessões aos credores privados.
"Não consigo imaginar como é que os políticos europeus permitiram que terceiros fizessem um pedido tão indecente ao nosso banco central", disse Michael Meister, político do partido União Democrata Cristã de Angela Merkel, numa entrevista telefónica hoje. "Isso contradiz a nossa filosofia", acrescentou o político.
No entanto, Meister adianta que os planos de redução da dívida grega para 120% do PIB podem ainda ser alcançados com a ajuda voluntária dos credores privados. Alargar o envolvimento do chamado sector privado para incluir o BCE não é nem necessário nem permitido politicamente, disse Meister.
"O Reino Unido e os Estados Unidos têm uma filosofia ligeiramente diferente mas nós consideraríamos tal movimento como indecente", continuou Meister. No entanto, "é do interesse dos credores privados de obrigações gregas aceitarem os termos do perdão da dívida", concluiu.
Também o BCE se manifestou contra a solicitação de perdão da dívida. De acordo com duas fontes informadas das conversações, que preferiram manter o anonimato devido à natureza confidencial das negociações, o BCE continua a opor-se firmemente a qualquer reestruturação das suas obrigações gregas dado que a dívida foi adquirida para fins de políticas monetárias.
Enquanto o BCE enfrentar a pressão para se juntar aos investidores do sector privado e aceitar perdas na dívida grega, o banco central vê a actual situação como um potencial dano à confiança na instituição caso esta participasse no pedido, declararam as fontes anónimas informadas das negociações.
A líder do FMI, Christine Lagarde, disse hoje que os governos europeus e outros credores públicos da dívida grega poderão ter de aumentar o apoio se os credores privados não forem longe o suficiente.
"Mais uma vez, os líderes políticos saem da sala e esperam que o BCE entre e actue no seu lugar", disse Thomas Costerg, economista do Standard Chartered Bank , à Bloomberg.
"O risco de colocar o BCE no terreno, como o FMI pede, é de que a situação poderá resultar num recomeço do zero das negociações de troca de dívida, o que poderá significar um atraso adicional a um calendário que já está actualmente sobrecarregado", acrescentou o analista.
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