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Debate: Ventura obrigou Gouveia e Melo a pôr a cabeça de fora

Líder do Chega repisou nos temas de sempre. Almirante, muito mais à vontade em debates, assumiu posição sobre perda de nacionalidade

Gouveia e Melo e André Ventura num ringue para as presidenciais de 2026
Gouveia e Melo e André Ventura num ringue para as presidenciais de 2026 DR
15 de Dezembro de 2025 às 22:45

Como o moderador disse no início, e bem, era um dos debates mais aguardados, se não o mais. Foi também um dos melhores e mais civilizados, muito por culpa da pose séria e institucional de Gouveia e Melo, que obrigou André Ventura a ser mais contido (só o vimos assim há cinco anos, a debater com Marcelo Rebelo de Sousa). A ausência de currículo político-partidário do militar também destrunfava Ventura, que só tinha duques para pôr na mesa, desde o apoio de José Sócrates a Gouveia e Melo até ao alegado apoio do PS.

Ventura repetiu todos os chavões que tão bons frutos lhe têm dado, dos ciganos aos subsídios, da vitimização ao Bangladesh, aos “murros na mesa” e à “conversa de chacha”. Gouveia e Melo centrou-se numa mensagem de independência do face aos partidos e de união como única via para o progresso do país. Deixou também claro que o houve imigração "sem controlo, desregulada, e acabámos por ter mais imigrantes do que conseguíamos absorver de forma a integrá-los bem. e hoje temos um problema".

O assunto veio à baila porque Ventura estava presente, porque é esse o ar dos tempos e porque na ordem do dia estava o chumbo pelo Tribunal Constitucional da chamada Lei da Nacionalidade.

André Ventura insistiu ao longo do debate que Gouveia e Melo “quer agradar a toda a gente”. O ataque faz sentido e houve uma altura em que Ventura insistiu com o ex-militar para que se decidisse e dissesse qualquer coisa de concreto. Deu o exemplo de alguém que adquire a nacionalidade e depois é condenado por violação. Concorda ou não que deve perder a nacionalidade?

“Não concordo”, respondeu Gouveia e Melo. “Tal como um português [de nascimento] não perde. Nós é que decidimos os critérios para dar a nacionalidade a alguém passados 10 anos.” Ventura respondeu que “nós não sabíamos que ele ia cometer um crime”. “E o senhor consegue dizer que nunca vai cometer um crime no futuro?” O almirante chegou a sugerir ao líder do Chega que o melhor será ir para a Assembleia da República defender que não se dá a nacionalidade a ninguém. e se quisesse seguir o modelo de outros países, que retiram a nacionalidade, que mudasse a Constituição.

Ventura acabou por dizer que não dar a nacionalidade a ninguém não era isso que defendia. Este contragolpe de Gouveia e Melo mostrou bem como está muito mais à vontade e expedido a debater.

O embaraço

Não houve propriamente golos na própria baliza de cada um dos debatentes. Talvez a jogada mais embaraçosa tenha sido quando Ventura quis colar Gouveia e Melo a Mário Soares (fazendo o contraponto consigo, que diz ter como modelo Ramalho Eanes), dizendo que ter o socialista como referência “é uma traição às Forças Armadas e aos retornados”. Ou seja, fazia uma referência ao papel de Soares na descolonização. Azar dos Távoras, e Gouveia e Melo lembrou-o logo disso, tinha à sua frente um retornado e militar das forças armadas. “O doutor André Ventura fala de retornados, mas ele não é, eu sou. E estive nas forças armadas, e seu muito bem o que os partidos impuseram aos políticos na altura. Sem eles teríamos um governo comunista, de extrema esquerda, e se calhar o dr. André Ventura não poderia estar aqui.”

O KO

Mais uma vez, a lei da Nacionalidade. Ventura repisou o tema do Bangladesh e Gouveia e Melo sugeriu que não aceita lições nessa matéria porque “toda a vida” defendeu a bandeira a e Constituição. “Mais uma vez o meu adversário diz tudo para agradar a toda a gente”, ripostou Ventura, o que provocou o seguinte diálogo:

Gouveia e Melo: “Sabe quem ganhou mais a nacionalidade? Não foi o Bangladesh…”

André Ventura: “Foi Israel…”

Gouveia e Melo: “Ah, bom, é bom que o diga. E como é que foi? Comprando muitas vezes a nacionalidade…”

André Ventura: “Eu estou contra a compra, sejam eles do Brasil, Bangladesh, Israel…”

Gouveia e Melo: “Então já estamos os dois do mesmo lado…”

Provavelmente o almirante sabia que André Ventura é um dos políticos portugueses mais pró-Israel, uma espécie de Ted Cruz português.

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