Lisboa acusa Governo de querer "nacionalizar" o vinho leve
Ministério diz que ainda não há decisão final, mas lembra que os produtores de outras regiões também querem ter no rótulo o menor teor alcoólico e calórico.
Segundo disse ao Negócios o presidente da direcção da Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa, Vasco d’Avillez, o Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) prepara-se para retirar o exclusivo e "abrir a todo o País" a designação "vinho leve", que é detida desde 1993 apenas pelas regiões de Lisboa e do Tejo (anteriormente designadas de Estremadura e Ribatejo), além dos vinhos licorosos do Porto e Madeira.
O responsável da CVRL questiona “por que motivo se quer alterar uma coisa que é boa e funciona bem”, quais os motivos e “quem vai beneficiar com esta desgraça que impõem à Região Lisboa e Tejo”. Avillez teme a perda deste exclusivo e, em consequência, daquilo que em marketing se designa por “Unique Selling Proposition” (USP).
O vinho leve é produzido em terrenos pobres com grande presença debrisa marítima, em geral encostados a uma elevação. Na maior parte brancos, caracterizam-se por um baixo grau alcoólico (entre 9% e 10%) e uma acidez elevada, até 4,5 gramas por litro, sendo ideais para acompanhar pratos de peixe e marisco. Por serem pouco agressivos, são cada vez mais procurados, sobretudo ao almoço.
Ainda de acordo com o líder da CVR de Lisboa, o assunto foi levantado numa primeira reunião com o IVV a 5 de Dezembro, de onde saíram convencidos que a ideia iria ser abandonada. No entanto, na reunião seguinte, a 10 de Janeiro deste ano, a interlocutora do IVV, Edite Azenha, voltou a colocar o tema em cima da mesa “para recolher opiniões favoráveis ao que agora pretendem”. “É trazido à má fila e a seguir dão o dito por não dito”, acusa Avillez.
Todos os anos são produzidas cinco milhões de garrafas de vinho leve, na maior parte feitas por “três ou quatro” adegas cooperativas, que são “um tipo de unidades de negócio que precisa de maior ajuda, atenção e carinho porque representam, cada uma delas, centenas de produtores”. No total, a CVR Lisboa representa 30 mil hectares de vinha e um milhão de hectolitros de vinho.
Ministério admite alteraçãoQuestionado pelo Negócios, fonte oficial do Ministério da Agricultura respondeu que “a portaria que deverá regular as normas de rotulagens do vinho para Portugal decorre da aplicação de normas comunitárias” e está actualmente em discussão pelos agentes do sector, “o que significa que ainda não existe uma decisão final sobre o seu conteúdo”.
Sobre o eventual alargamento da designação “vinho leve”, a mesma fonte explica que “o assunto volta a colocar-se apenas porque estamos em fase de discussão das normas de rotulagens nacionais complementares às normas comunitárias”
“As tendências de mercado, que levam os consumidores a preferir vinhos mais leves e com menos calorias, fazem com que os produtores das outras regiões pretendam utilizar esta menção na rotulagem estando actualmente impedidos de o fazer”, reconhece o Executivo.
O Ministério sublinha ainda que caso esta designação não seja alargada os outros produtores, eles “terão de utilizar a designação ‘light’, indicação do âmbito das alegações nutricionais que vai acarretar custos acrescidos para os operadores”.
A designação “vinho leve” ou “baixo grau” foi criada por legislação de 1985, através da Portaria nº 547/85, de 6 de Agosto e era aplicável a todo o País em determinadas condições. Com a aplicação da legislação comunitária e com o aparecimento dos vinhos regionais em Portugal, esta aplicação geral foi revogada e ficou prevista apenas para a região da Estremadura e Ribatejo e também para o vinho licoroso Porto e Madeira.
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