Notícia
Os olhos de Kirchner aos olhos do mundo
A nacionalização da YPF na Argentina e um elefante morto no Botswana dominaram a semana. Mas houve ministros a falar inglês e bancos a negociar capital. Entre outras coisas.
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A semana que agora acaba ficou marcada por uma intensa agenda noticiosa, em vários quadrantes. E o noticiário internacional desta vez dominou a actualidade também em Portugal. O Negócios analisa alguns dos principais temas da semana, permitindo ao leitor a leitura de dezenas de notícias originais dos últimos dias.

Argentina: a nação e a nacionalização
A notícia da expropriação de 51% da petrolífera YPF pela Argentina caiu como uma bomba esta semana. Não por que a notícia fosse totalmente inesperada (há alguns dias que se falava dessa possibilidade: ver aqui a cronologia de uma expropriação anunciada), mas pela sua magnitude. A decisão foi logo considerada "um gesto de hostilidade" contra Espanha e teve repercussões imediatas nas acções em Bolsa. Mas também na percepção nos mercados de dívida: a Argentina passou a ser o terceiro país com mais risco do mundo. O primeiro é Chipre, o segundo é... Portugal.
Leia aqui o Editorial de Pedro Santos Guerreiro sobre a "nacionalização" da YPF, publicado na quarta-feira
Se para as empresas portuguesas as relações comerciais são relativamente pequenas, assim não acontece com as empresas espanholas. O "El País" prevenia no dia seguinte: o inferno para as empresas espanholas na Argentina vai começar.
As reacções desencadearam-se. A UE cancelou uma reunião destinada a renovar ajudas financeiras à Argentina. O presidente do Governo espanhol, Mariano Rajoy, endureceu o discurso, afirmando que a "nacionalização" da petrolífera YPF "rompe o bom entendimento que sempre existiu" entre a Argentina e o "país vizinho". Espanha estuda retaliações comerciais e o presidente do Banco Mundial vem considerar a nacionalização "um erro". E até o humor teve espaço para respirar, com a publicação de imagens com uma montagem em que Rajoy "reage" a Kirchner fazendo de Messi refém. Mas como analisou o Negócios, nacionalizar até é fácil. Os custos vêm depois.

A Argentina defendeu-se. Primeiro, recusou pagar a indemnização de oito mil milhões que a Repsol exigiu. Depois, disse que não teme represálias. Começou a procurar parceiros alternativos para a empresa. E a presidente Cristina Kirchner justificou a nacionalização no FMI e no Banco Mundial com "unhas e dentes". E declarou, referindo-se ao falecido presidente Néstor Kirschner, que era seu marido: "Ele sempre sonhou recuperar a YPF para a Argentina, sempre, sempre".
Mas as decisões na Argentina foram apenas uma das razões pelas quais Espanha esteve em tantos títulos. A crise financeira que agora está a cercar o nosso "país vizinho" foi outra...

A queda do Touro e... o tiro no elefante
Em Espanha, à tempestade financeira sobreveio a tempestade política, causada pela polémica da caçada do rei, Juan Carlos, que em plena crise foi caçar elefantes para o Botswana. A revelação aconteceu depois de um acidente que obrigou Juan Carlos a caminhar de canadianas. Mas desamparo maior terá sido o escândalo. O rei terminou a semana pedindo desculpa e prometendo que tal não se repetiria.
O que pode repetir-se é o calor dos mercados financeiros sobre a dívida espanhola. Logo na segunda-feira, as taxas de juro da dívida espanhola a dez anos passaram a barreira dos 6%, arrastando a bolsa de Madrid para uma perda acumulada no ano já superior a 15%. O ministro espanhol Luis de Guindos desdobrou-se em intervenções tentando acalmar os mercados, sem grande sucesso. O líder do PSOE, Rubalcaba, anuiu: "Não há perspectiva de que seja necessário um resgate". O ministro das Finanças alemão acrescentou: "Espanha não precisa de um resgate". E assim repetiram vários economistas contactados pela Reuters. E ainda o comissário Olli Rehn. E a vice-presidente da Comissão Europeia, Viviane Reding.
Na terça-feira, o nível de risco de Espanha nos mercados financeiros era idêntico ao de Portugal... 15 dias antes do pedido de intervenção externa. As más notícias sobre o aumento do malparado continuam a sair. As previsões do crescimento económico a cair.E as previsões do défice orçamental a levantar dúvidas.
Mais que espanhol, o problema é europeu. Uma análise do Negócios à situação mostra que a Europa só tem bóias para uma Espanha. E no dia mais esperado da semana, quinta-feira, Espanha emitiu dívida pública, conseguindo colocar todo o montante pretendido, mas a uma taxa de juro mais elevada.

FMI contra a cegueira alemã da austeridade
O título é de interpretação livre, mas essa interpretação foi relativamente consensual. Porque o que o Fundo Monetário Internacional disse e publicou esta semana, nomeadamente no World Economic Outlook 2012, foram interpretados como um "puxão de orelhas" a Angela Merkel.
A instituição liderada por Lagarde veio pedir que a Europa crie urgentemente Eurobonds e defendeu uma consolidação orçamental menos agressiva. As previsões para a economia mundial são um pouco melhores do que antes e o FMI previu ainda uma recessão menos cavada para a Zona Euro.

Vá para dentro lá fora
Embalados pela notícia de que Portugal foi o quarto país da UE onde as exportações mais cresceram, Passos Coelho foi a Londres e Vítor Gaspar a Washington. O primeiro-ministro escreveu no "Financial Times" que "Portugal vai mostrar que os cépticos estão enganados", embora tenha admitido que podemos precisar de "ajuda adicional". Um dia depois, a Troika diz que Portugal precisará de mais 16 mil milhões até 2014.
Nos Estados Unidos, o ministro das Finanças tenta cativar os investidores estrangeiros para uma boa imagem de Portugal. Vítor Gaspar afirma que Portugal "serve de lição" para quem defende políticas expansionistas e depois diz, em entrevista à Bloomberg, que não vai pedir condições mais brandas para o ajustamento. Mas a Morgan Stanley é lapidar: Portugal vai precisar de pedir novo pacote de ajuda até Setembro.
Por cá, a OCDE diz que Portugal está entre os países que menos têm de fazer para reduzir a dívida a 50% do PIB. Quem terá de tratar de futuro das emissões de dívida pública é o novo presidente do IGCP: João Moreira Rato. Quem já tomou posso foi António Ramalho, novo presidente da Estradas de Portugal.

Banca ao rubro. Ou seja, no vermelho
Nas empresas, várias notícias marcaram a semana, começando pela novela da OPA sobre a Cimpor. E, para contrariar o pessimismo, a revelação de que "2012 vai ser um novo ano recorde" para a Continental Mabor.
Mas é na banca que há grandes movimentações. O BCP prepara-se para pedir ao Estado dois mil milhões de apoio público - e não quer Estado como seu accionista. Fica a saber-se que os bancos deverão aplicar todo o dinheiro estatal em dívida pública, o que significa que esse dinheiro não chegará às empresas. Os espanhóis do Caixabank anunciam que vão "estreitar" a sua relação com o BPI, o que é entendido como uma boa notícia para o banco português. Mas a banca continua a desvalorizar-se em Bolsa: o Banif perdeu um terço do seu valor nos últimos três meses.
Entretanto, a operação de aumento de capital do BES avançou pela semana adentro, ajustando-se o valor das acções. Para informações completas, pode consultar aqui a calculadora para o aumento de capital do Banco Espírito Santo e aqui as suas datas.
A semana acabou com a publicação de contas do BPI. E com o presidente da Caixa a explicar a "operação Cimpor" no Parlamento.
BPI? La Caixa resolve
A semana fechou com o o BPI a revelar os seus resultados do primeiro trimestre do ano, num regresso aos lucros: 39,9 milhões de euros, menos 13% do que em igual período homólogo. Na conferência de imprensa de apresentação de resultados, Fernando Ulrich disse que enquanto accionista viria com bons olhos uma OPA sobre o BPI, mas que enquanto gestor não tinha conhecimento de qualquer intenção de um investidor para avançar com uma oferta de compra. O banqueiro sabia mais do que dizia, mas o que disse era verdade.
Pouco mais de uma hora depois de Fernando Ulrich ter feito estas declarações o La Caixa informou que detém 48,97% do capital do BPI, depois de ter comprado uma posição detida pelo Itaú. Esta participação não obriga ao lançamento de uma OPA, garante o La Caixa, depois de ter recebido a confirmação da CMVM. A justificar esta decisão está, entre outras questões, o facto dos direitos de voto no BPI estarem blindados a 20%.
Outros destaques:
. IRS: Menos 800 euros de reembolso
. Funcionário público alemão diz ter feito "nada" nos últimos 14 anos
. Manuel Vicente e Kopelipa accionistas de empresa investigada nos EUA
. Calculadora dos dividendos de 2011
. Bancos dinamarqueses "despedem" a Moody’s
. Simulador: Quem vai ser o campeão nacional de futebol?

Argentina: a nação e a nacionalização
A notícia da expropriação de 51% da petrolífera YPF pela Argentina caiu como uma bomba esta semana. Não por que a notícia fosse totalmente inesperada (há alguns dias que se falava dessa possibilidade: ver aqui a cronologia de uma expropriação anunciada), mas pela sua magnitude. A decisão foi logo considerada "um gesto de hostilidade" contra Espanha e teve repercussões imediatas nas acções em Bolsa. Mas também na percepção nos mercados de dívida: a Argentina passou a ser o terceiro país com mais risco do mundo. O primeiro é Chipre, o segundo é... Portugal.
"Adorar o Estado, idolatrar Cristina"

Se para as empresas portuguesas as relações comerciais são relativamente pequenas, assim não acontece com as empresas espanholas. O "El País" prevenia no dia seguinte: o inferno para as empresas espanholas na Argentina vai começar.


"Eva Péron foi santa e, ao mesmo tempo, motivo de desdenha para Jorge Luís Borges. Cristina Kirchner tem sangue latino". Leia aqui o perfil da presidente da Argentina pela pena de Fernando Sobral.
A Argentina defendeu-se. Primeiro, recusou pagar a indemnização de oito mil milhões que a Repsol exigiu. Depois, disse que não teme represálias. Começou a procurar parceiros alternativos para a empresa. E a presidente Cristina Kirchner justificou a nacionalização no FMI e no Banco Mundial com "unhas e dentes". E declarou, referindo-se ao falecido presidente Néstor Kirschner, que era seu marido: "Ele sempre sonhou recuperar a YPF para a Argentina, sempre, sempre".
Mas as decisões na Argentina foram apenas uma das razões pelas quais Espanha esteve em tantos títulos. A crise financeira que agora está a cercar o nosso "país vizinho" foi outra...

A queda do Touro e... o tiro no elefante
Em Espanha, à tempestade financeira sobreveio a tempestade política, causada pela polémica da caçada do rei, Juan Carlos, que em plena crise foi caçar elefantes para o Botswana. A revelação aconteceu depois de um acidente que obrigou Juan Carlos a caminhar de canadianas. Mas desamparo maior terá sido o escândalo. O rei terminou a semana pedindo desculpa e prometendo que tal não se repetiria.
O que pode repetir-se é o calor dos mercados financeiros sobre a dívida espanhola. Logo na segunda-feira, as taxas de juro da dívida espanhola a dez anos passaram a barreira dos 6%, arrastando a bolsa de Madrid para uma perda acumulada no ano já superior a 15%. O ministro espanhol Luis de Guindos desdobrou-se em intervenções tentando acalmar os mercados, sem grande sucesso. O líder do PSOE, Rubalcaba, anuiu: "Não há perspectiva de que seja necessário um resgate". O ministro das Finanças alemão acrescentou: "Espanha não precisa de um resgate". E assim repetiram vários economistas contactados pela Reuters. E ainda o comissário Olli Rehn. E a vice-presidente da Comissão Europeia, Viviane Reding.
Na terça-feira, o nível de risco de Espanha nos mercados financeiros era idêntico ao de Portugal... 15 dias antes do pedido de intervenção externa. As más notícias sobre o aumento do malparado continuam a sair. As previsões do crescimento económico a cair.E as previsões do défice orçamental a levantar dúvidas.
Mais que espanhol, o problema é europeu. Uma análise do Negócios à situação mostra que a Europa só tem bóias para uma Espanha. E no dia mais esperado da semana, quinta-feira, Espanha emitiu dívida pública, conseguindo colocar todo o montante pretendido, mas a uma taxa de juro mais elevada.

FMI contra a cegueira alemã da austeridade
O título é de interpretação livre, mas essa interpretação foi relativamente consensual. Porque o que o Fundo Monetário Internacional disse e publicou esta semana, nomeadamente no World Economic Outlook 2012, foram interpretados como um "puxão de orelhas" a Angela Merkel.
A instituição liderada por Lagarde veio pedir que a Europa crie urgentemente Eurobonds e defendeu uma consolidação orçamental menos agressiva. As previsões para a economia mundial são um pouco melhores do que antes e o FMI previu ainda uma recessão menos cavada para a Zona Euro.

Vá para dentro lá fora
Embalados pela notícia de que Portugal foi o quarto país da UE onde as exportações mais cresceram, Passos Coelho foi a Londres e Vítor Gaspar a Washington. O primeiro-ministro escreveu no "Financial Times" que "Portugal vai mostrar que os cépticos estão enganados", embora tenha admitido que podemos precisar de "ajuda adicional". Um dia depois, a Troika diz que Portugal precisará de mais 16 mil milhões até 2014.
Nos Estados Unidos, o ministro das Finanças tenta cativar os investidores estrangeiros para uma boa imagem de Portugal. Vítor Gaspar afirma que Portugal "serve de lição" para quem defende políticas expansionistas e depois diz, em entrevista à Bloomberg, que não vai pedir condições mais brandas para o ajustamento. Mas a Morgan Stanley é lapidar: Portugal vai precisar de pedir novo pacote de ajuda até Setembro.
Por cá, a OCDE diz que Portugal está entre os países que menos têm de fazer para reduzir a dívida a 50% do PIB. Quem terá de tratar de futuro das emissões de dívida pública é o novo presidente do IGCP: João Moreira Rato. Quem já tomou posso foi António Ramalho, novo presidente da Estradas de Portugal.

Banca ao rubro. Ou seja, no vermelho
Nas empresas, várias notícias marcaram a semana, começando pela novela da OPA sobre a Cimpor. E, para contrariar o pessimismo, a revelação de que "2012 vai ser um novo ano recorde" para a Continental Mabor.
Mas é na banca que há grandes movimentações. O BCP prepara-se para pedir ao Estado dois mil milhões de apoio público - e não quer Estado como seu accionista. Fica a saber-se que os bancos deverão aplicar todo o dinheiro estatal em dívida pública, o que significa que esse dinheiro não chegará às empresas. Os espanhóis do Caixabank anunciam que vão "estreitar" a sua relação com o BPI, o que é entendido como uma boa notícia para o banco português. Mas a banca continua a desvalorizar-se em Bolsa: o Banif perdeu um terço do seu valor nos últimos três meses.
Entretanto, a operação de aumento de capital do BES avançou pela semana adentro, ajustando-se o valor das acções. Para informações completas, pode consultar aqui a calculadora para o aumento de capital do Banco Espírito Santo e aqui as suas datas.
A semana acabou com a publicação de contas do BPI. E com o presidente da Caixa a explicar a "operação Cimpor" no Parlamento.
BPI? La Caixa resolve
A semana fechou com o o BPI a revelar os seus resultados do primeiro trimestre do ano, num regresso aos lucros: 39,9 milhões de euros, menos 13% do que em igual período homólogo. Na conferência de imprensa de apresentação de resultados, Fernando Ulrich disse que enquanto accionista viria com bons olhos uma OPA sobre o BPI, mas que enquanto gestor não tinha conhecimento de qualquer intenção de um investidor para avançar com uma oferta de compra. O banqueiro sabia mais do que dizia, mas o que disse era verdade.
Pouco mais de uma hora depois de Fernando Ulrich ter feito estas declarações o La Caixa informou que detém 48,97% do capital do BPI, depois de ter comprado uma posição detida pelo Itaú. Esta participação não obriga ao lançamento de uma OPA, garante o La Caixa, depois de ter recebido a confirmação da CMVM. A justificar esta decisão está, entre outras questões, o facto dos direitos de voto no BPI estarem blindados a 20%.
Outros destaques:
. IRS: Menos 800 euros de reembolso
. Funcionário público alemão diz ter feito "nada" nos últimos 14 anos
. Manuel Vicente e Kopelipa accionistas de empresa investigada nos EUA
. Calculadora dos dividendos de 2011
. Bancos dinamarqueses "despedem" a Moody’s
. Simulador: Quem vai ser o campeão nacional de futebol?