Portugal não melhora no ranking da corrupção. Mas também não piora.
Em 2015, a posição do país no ranking elaborado pela Transparency International manteve-se idêntica ao ano anterior. A descida de três lugares ficou a dever-se apenas a uma redução do número de países observados. A pontuação, essa ficou na mesma.
Portugal ocupa a 28.ª posição no ranking de percepção da corrupção de 2015, elaborado pela Transparency Internacional (TI), com uma pontuação de 63, a mesma de 2014, mais um do quem em 2013 e novamente a mesma quando comparando com 2012. Em 2014, o país ficou na 31.ª posição, mas isso ficou a dever-se ao facto de entretanto terem saído países da lista – nesse ano foram avaliados 175 países e no ano passado foram 168.
O índice de percepção da corrupção da Transparency International baseia-se em opiniões especializadas sobre a corrupção do sector público e é feito com base em inquéritos a estrangeiros (nomeadamente homens de negócios) não incluindo, portanto, os nacionais. A posição é tanto melhor, quanto mais elevada for a nota, que vai de zero (mais corruptos) a 100 (menos corruptos). Ao todo, dois terços dos 168 países listados no índice de 2015 têm uma pontuação abaixo de 50.
O topo da tabela é ocupado pela Dinamarca, com 91 pontos, logo seguida da Finlândia (com 90) e da Suécia (89). Os Estados Unidos estão no 16.º lugar do ranking e o Japão no 18.º. Espanha ficou pior classificada do que Portugal (36.ª posição, 58 pontos) e o Brasil registou a maior queda, perdendo cinco pontos e descendo sete posições, para o 76.º lugar.
No lado oposto da tabela estão a Somália, Coreia do Norte e Afeganistão, apontados como os países onde a percepção da corrupção é a maior em todo o mundo.
Entre os estados africanos, o Botswana é o melhor classificado, na mesma posição e com os mesmos 63 pontos que Portugal. Segue-se Cabo Verde, na 40.ª posição, com 55 pontos, mas que tem vindo a descer nos últimos anos – em 2012 obtivera nota 60. Já Moçambique e Angola estão muito pior, ambos na segunda metade da tabela. O país liderado por José Eduardo dos Santos está no lugar 163, com 15 pontos, e tem vindo a piorar nos últimos anos (em 2013 tinha 23). Moçambique ocupa o lugar 112 com 31 de pontuação, que se tem mantido constante desde 2012.
Portugal "sem margem para melhorar"
Luis de Sousa, Associação Transparência e Integridade
Como se explica que em Portugal o nível de percepção de corrupção se mantenha mais ou menos constante numa altura em que o país está a braços com o maior número de investigações judiciais de sempre em que os envolvidos estão, de alguma forma, relacionados, precisamente, com a área da corrupção?
Luís de Sousa, que lidera em Portugal a associação cívica Transparência e Integridade, avança com uma explicação: "os processos judiciais em curso até podiam ter feito descer a pontuação, dando às pessoas a ideia de que há menos corrupção no país porque as autoridades estão mais atentas. No entanto, isso nem sempre acontece e os casos mediáticos podem ter tido, para outras pessoas, o efeito perverso de chamar mais a atenção para a corrupção". Um efeito e outro poderão ter-se anulado, fazendo com que não houvesse reflexos no índice, explica o especialista.
Para Luís de Sousa, em Portugal "não há margem para alterações no 'ranking', nomeadamente para melhorias". O investigador lembra, aliás, um recente inquérito do Eurobarómetro, elaborado pela Comissão Europeia e divulgado em Outubro de 2015, de acordo com o qual 49% dos inquiridos considerou que a corrupção é um problema para a sua empresa quando efectua negócios em Portugal (neste inquérito foram ouvidos tanto nacionais como estrangeiros).
Há "pontos de esperança" diz a organização
Em países como a "Guatemala, o Sri Lanka e Gana, activistas individuais e em grupo trabalharam arduamente para afastar os corruptos, passando uma mensagem forte que deveria encorajar mais pessoas a ter iniciativas decisivas em 2016", destaca a Transparency International no seu relatório. E, se 2015 mostra ainda que "a corrupção continua a ser uma praga em todo o mundo", os dados entretanto reunidos também mostram que há cada vez mais pessoas preocupadas e a protestar contra este fenómeno.
A organização destaca que os países com melhor desempenho compartilham características chave, como sejam, um "alto nível de liberdade de imprensa; acesso a informação sobre orçamento público – para que a população saiba de onde vem e como é gasto o dinheiro; altos níveis de integridade entre as pessoas no poder; e sistemas judiciários que não diferenciam ricos e pobres, e que são realmente independentes das outras esferas do governo".
Já entre os países que mais corrupção apresentam, o cenário é frequentemente de conflitos e guerras, com "fraca governança, instituições públicas débeis – como a polícia e o judiciário" e uma grande "falta de independência da comunicação social".
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