Portugueses são os que menos se identificam como classe média
A maioria das famílias dos países da OCDE identifica-se como classe média, mas isso não acontece em Portugal, onde apenas duas em cada cinco famílias diz ter um rendimento mediano.
Portugal é um dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico(OCDE) onde as famílias de classe média menos se identificam como tal.
Num estudo dedicado à evolução da classe média nas últimas três décadas, divulgado nesta quarta-feira, 10 de abril, a entidade afirma que a maioria da população nos países da OCDE se identifica como estando na classe média.
A identificação é maior nos países nórdicos, na Holanda, no Luxemburgo e na Suíça, onde quatro em cinco pessoas dizem ser da classe média. "Em contraste, apenas duas em cinco pessoas ou menos se identificam na classe média em Portugal, no Brasil, no Chile e no Reino Unido".
Portugal é mesmo o país onde menos famílias de classe média se identificam como tal, já que apenas 32% diz ser da classe média. Em contraste, 82% da população na Holanda diz ser da classe média.
Segundo a OCDE, esse "preconceito com a classe média" pode ser explicado em parte pelo nível mínimo que as famílias consideram corresponder à classe média, que é, tendencialmente, "substancialmente inferior para pessoas da classe baixa e notávelmente mais alto para pessoas mais ricas".
O que é a classe média?
Neste estudo, a OCDE define a classe média como "a classe de rendimento médio", sendo que insere-se num intervalo entre os 75% e os 200% do rendimento mediano da população. Consulte um simulador interativo da OCDE e veja qual é a posição relativa dos seus rendimentos.
Segundo a OCDE, 60,1% da população portuguesa está na classe média, 16,8%, têm um rendimento baixo (entre 50% e 75% da mediana), 12,4% é pobre e 10,6% tem rendimentos altos.
Ao longo das últimas três décadas, a classe média encolheu, no conjunto dos países da OCDE, de 64% para 61%, cerca de um 1% por década. "Desde meados da década de 1980, os rendimentos médios cresceram significativamente menos do que os rendimentos mais altos e a crise financeira global exacerbou esta tendência ainda mais", afirma a organização liderada por Ángel Gurría.
Entre 2007 e 2016, a taxa de crescimento real (excluindo a inflação) dos salários medianos foi de 0,3% na média da OCDE, comparando com a subida de 1% entre meados de 1980 e de 1990 e de 1,6% entre meados de 1990 e de 2000.
Embora a entidade sediada em Paris não disponibilize dados sobre Portugal para as duas décadas anteriores, a taxa de crescimento dos rendimentos das famílias da classe média em Portugal também foi de 0,3%. Isto quer dizer que os salários mantiveram-se praticamente estagnados nos últimos dez anos, também em Portugal.
Mais lidas