PS e maioria vão negociar publicação de dados e relatórios do Estado
O diploma apresentado pelo PS, que prevê a publicação de uma série de documentos da administração pública, baixou sem votação. Os partidos têm 30 dias para negociar que dados serão ou não publicados de forma sistemática.
Os partidos da maioria (PSD, CDS) e o PS vão negociar nos próximos trinta dias o conteúdo do diploma que prevê a publicação de uma série mais vasta de dados da administração pública. A proposta do PS baixou à comissão sem votação, com base num entendimento alcançado depois de o PSD ter admitido votar contra a proposta.
"Baixou à comissão sem votação" com o objectivo de "se chegar a um texto de consenso", disse ao Negócios José Magalhães, o deputado do PS que nos últimos dias tem defendido a proposta.
O "compromisso político" implicará que o diploma "torne evidente que ninguém quer violar o segredo de Justiça ou os dados de saúde do deputado A ou B, tal como decorre da lei de acesso aos documentos administrativos", acrescentou o deputado.
José Magalhães refere-se às reservas apresentadas pelos outros partidos, ao longo dos últimos dias, sobre o conteúdo de um projecto que prevê a publicação sistemática e organizada de uma série de dados da administração pública, num formato que possa ser tratado pelo utilizador.
A proposta do PS – que agora será negociada na especialidade – prevê que o Estado disponibilize de forma permanente e actualizada os principais relatórios de gestão, o orçamento anual e sua execução, a lista de transferências a título de subsídio ou subvenção; as orientações, instruções, circulares e respostas a consultas de cidadãos; os projectos de regulamentos; as características de todos os contratos (incluindo o número de concorrentes e a identidade dos vencedores); as subvenções; os relatórios de auditoria; e documentos que descrevam a remuneração recebida anualmente pelos funcionários, entre outras informações. A competência pela monitorização da lei é atribuída à Comissão de Acesso aos Dados Administrativos (CADA), que também manteria ainda as suas actuais funções.
PSD reconsidera posição em nome de "princípios louváveis"
Nos últimos dias, o PSD teceu fortes críticas a esta proposta, sublinhando que o texto original viola garantias constitucionais, permitindo a exposição de dados pessoais e até segredos de Estado, partilhando as reservas da Comissão Nacional de Protecção de Dados.
Esta terça-feira, os deputados admitiam o voto contra mas não esclareceram a sua posição até esta quarta-feira, dia em que Paulo Rios afirmou que o PSD votaria contra a proposta, tal como o Negócios noticiou esta quinta-feira.
Esta manhã, o deputado explicou ao Negócios que devido ao acordo alcançado "após uma discussão que começou ontem, a maioria propôs que [o diploma] baixasse sem votação".
"Os princípios são louváveis. Rejeitar uma proposta destas sobre a forma excessiva como aborda o tema não retira o mérito do princípio", justifica. "O reconhecimento desse mérito justifica que façamos um esforço para procurar pontos de contacto", acrescenta.
Nos próximos trinta dias, o PSD vai insistir em "limitações" ao diploma. "Sem prejuízo de existirem já diplomas que regulam essas limitações, deve [a proposta] conter salvaguardas que garantam que outros direitos constitucionais não possam ser violados por recurso à aplicação cega do diploma".
"Que interesse tem saber se o carro de determinada pessoa foi rebocado e se teve duas multas de trânsito? Com que direito é que alguém vai controlar as entradas e saídas do hospital? Não podemos permitir que à boleia da transparência se entre no voyeurismo", conclui.
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