Reino Unido fecha acordo de 38 mil milhões de libras para construir maior central nuclear em décadas
Projeto Sizewell C arranca após 15 anos de negociações e promete abastecer seis milhões de casas a partir da década de 2030.
O governo britânico anunciou esta terça-feira um acordo histórico com investidores privados para a construção da central nuclear Sizewell C, num investimento superior a 38 mil milhões de libras (mais de 43 mil milhões de euros ao câmbio atual). O projeto, situado na costa de Suffolk, será o maior do género no Reino Unido em mais de duas décadas e deverá garantir eletricidade de baixo carbono a seis milhões de lares.
O consórcio financeiro inclui a francesa EDF, detida pelo Estado francês, a empresa britânica Centrica, o fundo canadiano La Caisse de dépôt et placement du Québec e a gestora Amber Infrastructure. O acordo representa o culminar de 15 anos de esforços para garantir financiamento ao projeto, inicialmente proposto em 2010.
Segundo o governo britânico, a central criará até 10 mil empregos durante o pico da construção e será um pilar central na estratégia energética para reduzir a dependência de combustíveis fósseis e estabilizar os preços da energia. “Este investimento massivo é uma prova do Reino Unido como centro global para a energia nuclear”, afirmou a nova chanceler do Tesouro, Rachel Reeves, citada pelo The Guardian. O secretário da Energia, Ed Miliband, defendeu que a decisão “marca o início de uma nova era dourada para a energia nuclear britânica”.
O custo da Sizewell C quase duplicou desde a proposta inicial e poderá chegar aos 47 mil milhões de libras. Para mitigar os riscos para os investidores, o modelo financeiro adotado permite que os custos comecem a ser pagos já este inverno por meio de um encargo de uma libra mensal nas faturas de todos os consumidores britânicos de energia. Este mecanismo, conhecido como Regulated Asset Base (RAB), protege os investidores de eventuais derrapagens orçamentais, ao contrário do modelo usado no projeto-irmão, Hinkley Point C, que só começará a gerar receitas quando estiver operacional, de acordo com a Reuters.
O novo acordo também altera a participação acionista: o Estado britânico reduzirá a sua fatia de 84% para 44,9%, enquanto a EDF fica com 12,5%, a Centrica com 15%, La Caisse com 20% e a Amber Infrastructure com 7,6%. A China General Nuclear (CGN), que inicialmente estava envolvida, foi afastada por motivos de segurança nacional.
O presidente executivo da Centrica, Chris O’Shea, afirmou que espera retornos de até 11% sobre o investimento, mesmo que os custos atinjam o valor máximo previsto. Garante ainda que a construção será mais rápida do que a de Hinkley Point C, que tem enfrentado atrasos e custos a escalar das 18 mil milhões de libras previstos para mais de 46 mil milhões.
Apesar do entusiasmo do governo, a decisão gerou críticas por parte de grupos ambientalistas e organizações anti-nucleares, que alertam para o impacto direto nas contas dos consumidores e para os riscos financeiros caso ocorram novos atrasos. “As famílias estão a pagar por um projeto que ainda nem saiu do papel”, criticam os opositores, citados pelo The Guardian.
Em contrapartida, o governo estima que, uma vez operacional, Sizewell C permita poupanças de até 2 mil milhões de libras por ano ao sistema elétrico, comparado com outras fontes de energia limpa. O preço estimado da eletricidade gerada rondará entre 60 e 70 libras por megawatt-hora (MWh), abaixo dos subsídios pagos atualmente a outras renováveis (cerca de £89/MWh).
Mais lidas