BCE: Contratação colectiva destrói empregos nas recessões
Investigação produzida pelos economistas do Banco Central Europeu (BCE) conclui que, na Europa, entre 2010 e 2013, "as instituições de negociação colectiva contribuíram para a rigidez dos salários na Europa e podem ter exacerbado as perdas de emprego durante a recessão", lê-se no primeiro Boletim Económico do BCE de 2017.
PUB
O trabalho usa dados microeconómicos ao nível de cada empresa e trabalhador em 25 Estados-membros da União Europeia, e mostra que, em média, cerca de 75% dos trabalhadores da Zona Euro estão abrangidos por acordos colectivos de salários. Portugal está abaixo da média, com pouco mais de 60%, e nos extremos estão, numa ponta, Irlanda e Estónia, com menos de 10% dos trabalhadores abrangidos por acordos deste tipo; e na outra a Espanha e Itália com quase 100% em 2013.
A equipa de economistas de Frankfurt estuda depois como reagem os salários nas empresas face a aumentos e reduções de encomendas, e analisam os resultados tendo em conta o nível de abrangência da contratação colectiva. Os resultados apontam para que a probabilidade de um corte salarial face a redução de procura seja menor que a probabilidade de um aumento salarial quando a empresa tem mais procura. Aliás, os salários tendem até ficar imutáveis quando as empresas sofrem choques negativos de procura; enquanto aumentos de procura tendem a resultar em valorizações salariais. As reacções são tanto maiores quanto maior for a percentagem de trabalhadores cobertos por acordos de contratação colectiva, mostram ainda os dados trabalhados pelo BCE.
PUB
Os autores admitem que a rigidez de salários em baixa possa resultar de outros factores, como o facto de os empregadores temerem que cortes salariais possam reduzir a motivação dos trabalhadores e prejudicar a produtividade. Embora referida, esta dimensão não é no entanto considerada no estudo. O que é certo, continuam, é que a rigidez de salários contribui para destruir empregos durante as recessões.
"De uma perspectiva de políticas, os acordos colectivos parecem contribuir para a rigidez de salários que, por sua vez, pode exacerbar as perdas de emprego durante as recessões", lê-se no texto, que lembra que, durante a crise, e já depois de 2013, alguns países introduziram reformas que procuraram estimular a negociação salarial ao nível da empresa afastanda de acordos colectivos que associem as empresas a acordos de dimensão nacional, regional ou sectorial.
PUB
Sobre essas alterações, os economistas do BCE avançam que os primeiros resultados parecem apontar para uma maior flexibilidade salarial, nomeadamente no caso espanhol, o que leva o banco central a defender que "mais reformas nesta direcção podem ser benéficas para os países da Zona Euro e poderiam ter o potencial de reduzir a perda de empregos em futuras recessões".
Mais lidas
O Negócios recomenda