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Projeto-piloto da semana de quatro dias no Reino Unido foi um “êxito retumbante”

Alguns dos benefícios mais importantes da redução do horário de trabalho foram encontrados no bem-estar dos empregados. Por exemplo, os dados “antes e depois” mostram que 39% dos empregados sentem-se menos stressados, com 71% a manifestarem níveis reduzidos de burnout no final do piloto.

escritório, trabalho, contas, mediador de recuperação, executivos
escritório, trabalho, contas, mediador de recuperação, executivos Istockphoto
04 de Março de 2023 às 13:00

É o maior estudo sobre a semana de quatro dias, cujo piloto foi experimentado no Reino Unido e que envolveu 61 empresas e aproximadamente 2900 trabalhadores, tendo tido lugar entre junho e dezembro de 2022. Das empresas participantes, 92% adotaram já este horário semanal reduzido, com vários benefícios assinalados a comprovarem uma melhor performance empresarial. No que respeita aos trabalhadores, 90% afirmaram taxativamente que o seu desejo é continuar no regime de quatro dias semanais, com 15% dos mesmos a assegurar que nenhuma quantia de dinheiro os fará aceitar trabalhar para uma organização que mantenha os cinco dias de trabalho tradicionais

O mais longo projeto-piloto da semana de quatro dias foi desenvolvido pela organização sem fins lucrativos 4 Day Week Global – uma plataforma que defende a ideia da semana de 4 dias como parte integrante do futuro do trabalho – em parceria com o think tank Autonomy, o qual assegura que uma semana mais curta de trabalho deverá constituir um pilar central do nosso futuro económico, contando igualmente com o Boston College e a Universidade de Cambridge.

Durante os últimos cinco anos, a semana de quatro dias passou de uma ideia "absurda" para uma possibilidade real, emergindo como uma das mais estimulantes políticas laborais a ser adotada por várias organizações em todo o mundo. A ideia central – diminuir o horário de trabalho sem perda de remuneração – pode ter tido uma "ajuda" da cultura de burnout dominante – a qual assentava na crença de que trabalhar mais significava trabalhar melhor -, mas na sequência do sucesso de projetos-piloto em todo o mundo, dos resultados extremamente positivos de várias investigações e das mudanças sociais impulsionadas pela Covid, a redução do tempo de trabalho parece ser cada vez mais uma abordagem de "senso comum" aplicada ao mundo do trabalho. Frustrados pelo complexo equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, e mais acostumados aos padrões de trabalho flexíveis trazidos pela pandemia, para muitos empregados e empregadores, a semana de quatro dias acabou por se transformar numa perspetiva mais popular e aliciante no universo empresarial. 

Igualmente significativa é a transição de uma política considerada desejável, para uma política que parece eminentemente realizável. À medida que as vozes de apoio, os programas de investigação e os profissionais no terreno se expandiram, um futuro em que todos nós poderemos trabalhar menos começou a parecer cada vez mais credível. Vários fatores interligados estão a minar o ceticismo existente no que respeita à semana mais curta de trabalho, e o que não passava de uma alternativa atrativa e ideal, mas abstracta, assume-se agora como uma possibilidade plausível e exequível em toda a economia.

De acordo com um editorial publicado no The Guardian há já quatro anos, Will Stronge, um dos fundadores da Autonomy, escreve que os estudos feitos até à altura deitavam por terra dois mitos dominantes: que trabalhar mais horas equivale necessariamente a uma maior produtividade e que o trabalho é necessariamente bom para a sua saúde mental. E, como acrescenta no artigo em causa, "as estratégias para aumentar a produtividade devem enfrentar a realidade de que esta depende não só do número de horas trabalhadas, mas também do bem-estar e da saúde geral da força de trabalho".

Os resultados do estudo agora publicado fazem eco das conclusões de Stronge, para além de apontarem vários outros benefícios relacionados com a semana de 4 dias. Em 2017, o VER dedicou um artigo ao tema, já experimentado em outros países, bem como em 2022, altura em que o governo português anunciou igualmente um projeto-piloto para a redução dos dias semanais de trabalho. 

Relativamente ao estudo do Reino Unido, o projeto-piloto incluiu dois meses de preparação prévia para os participantes, com workshopscoaching, mentores e apoio por parte de empresas que já utilizam este modelo. Adicionalmente, as empresas que participaram no estudo, de diversos setores e dimensões, não foram obrigadas a implementar um tipo específico de redução do tempo de trabalho ou uma semana de quatro dias, desde que a remuneração fosse mantida a 100% e os empregados tivessem uma redução "significativa" das horas trabalhadas. 

Os resultados do relatório baseiam-se em dados administrativos e dos inquéritos feitos aos empregados, juntamente com uma série de entrevistas realizadas durante o período piloto, fornecendo pontos de medição/avaliação no início, meio e fim da experiência. De acordo com o relatório recentemente publicado, o projeto-piloto foi um sucesso retumbante. Das 61 empresas que participaram, 56 continuarão a "testar" a semana de quatro dias (92%), sendo que 18 confirmam que a política de mudança agora adotada é permanente. Alguns dos benefícios mais importantes da redução do horário de trabalho foram encontrados no bem-estar dos empregados. Por exemplo, os dados "antes e depois" mostram que 39% dos empregados sentem-se menos stressados, com 71% a manifestarem níveis reduzidos de burnout no final do piloto.

Da mesma forma, os níveis de ansiedade, fadiga e problemas de sono diminuíram, enquanto a saúde mental e física melhoraram. Por seu turno, as medidas de equilíbrio entre trabalho e vida pessoal e familiar também progrediram ao longo do período do projeto. Os empregados consideraram ser mais fácil equilibrar o seu trabalho com os compromissos familiares e sociais – para 54%, foi mais fácil equilibrar o trabalho com as lides domésticas – e os empregados também ficaram mais satisfeitos com o estado das suas finanças, com os seus relacionamentos e também com a gestão do seu tempo. Adicionalmente, 60% dos empregados afirmaram ter sentido uma maior capacidade de combinar o trabalho remunerado com as responsabilidades no que respeita a cuidar de descendentes ou ascendentes, com 62% dos inquiridos a declarar ser mais fácil combinar trabalho com vida social.

Para além destes resultados animadores, outras métricas importantes mostraram sinais positivos relativamente a esta carga horária semanal mais reduzida, nomeadamente para os empregadores. As receitas das empresas, por exemplo, mantiveram-se praticamente as mesmas durante o período experimental, aumentando em média 1,4% entre as organizações inquiridas. E, comparativamente com períodos semelhantes em anos anteriores, as organizações reportaram aumentos de receitas na ordem dos 35% – o que indica um crescimento consideravelmente saudável durante este período de redução do tempo de trabalho. 

O relatório indica igualmente que o número de funcionários que deixaram as empresas participantes foi significativamente reduzido, com o turnover a diminuir em 57% durante o período experimental. Como se pode ler na introdução do estudo, para muitos, os efeitos positivos de uma semana de quatro dias valeram mais do que o seu "peso" em ouro, com 15% dos empregados participantes a afirmarem que nenhuma quantidade de dinheiro os induziria a aceitar o regresso a um horário semanal "normal", ou seja, de cinco dias, depois dos quatro dias de trabalho a que entretanto se acostumaram.  Atentemos nos principais resultados do projeto-piloto, os quais comprovam um enorme sucesso desta experiência.

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