Alemanha autoriza abate de drones em plena corrida da UE para erguer muro aéreo

À medida que a UE tenta consolidar a sua segurança aérea, Berlim antecipa medidas que poderão servir de modelo para a futura defesa comum europeia.
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João Silva Jesus 08 de Outubro de 2025 às 22:52

A Alemanha deu um passo inédito ao autorizar as forças policiais a abater drones considerados uma ameaça séria à segurança aérea, numa decisão que surge em plena escalada das tensões com Moscovo e num contexto de alerta europeu para uma nova forma de “guerra híbrida”.

, o governo aprovou esta quarta-feira uma legislação que concede às polícias o poder de neutralizar drones recorrendo a armas de fogo, lasers ou interferência de sinal sempre que houver risco “grave” para a segurança pública. A lei, ainda dependente de aprovação parlamentar, permite agir contra drones em terra, no ar ou sobre a água “sempre que outras medidas se revelem inúteis ou significativamente dificultadas”.

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A decisão segue-se a uma série de perturbações em aeroportos alemães, sobretudo em Munique, onde incursões de drones levaram ao cancelamento ou desvio de dezenas de voos, afetando mais de dez mil passageiros. Segundo dados da Deutsche Flugsicherung (DFS) citados pela Reuters, a Alemanha registou 172 incidentes com drones entre janeiro e setembro, acima dos 129 registados no mesmo período de 2024.

O chanceler alemão, , afirmou que Berlim “parte do princípio de que a Rússia está por trás da maioria dos voos de drones observados”, embora sublinhe que nenhum dos aparelhos identificados estava armado, tratando-se, sobretudo, de missões de reconhecimento.

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As autoridades justificam a medida com a necessidade de responder a uma ameaça crescente e difícil de conter com os métodos convencionais de defesa aérea, como radares e bloqueadores de sinal. Nos mais recentes exercícios militares em Hamburgo, o exército alemão demonstrou novas técnicas de neutralização, incluindo o uso de um drone de maior dimensão para lançar uma rede sobre o intruso e a intervenção de um robô terrestre para detetar eventuais explosivos.

A Alemanha já havia proposto, em janeiro, que as suas forças armadas pudessem abater drones suspeitos junto de infraestruturas críticas, e criou entretanto um centro nacional de defesa contra drones para coordenar operações entre autoridades federais e regionais.

O endurecimento da política alemã ocorre num momento em que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, alertou para um aumento preocupante de drones não identificados no espaço aéreo europeu, descrevendo o fenómeno como “uma campanha coerente e em escalada para desassossegar os nossos cidadãos, testar a nossa determinação, dividir a União Europeia e enfraquecer o apoio à Ucrânia”.

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É tempo de chamar isto pelo seu nome: esta é uma guerra híbrida”, afirmou Von der Leyen no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, e o .

A presidente da Comissão detalhou que combater esta nova ameaça “não é apenas uma questão de defesa tradicional”, mas também de “software para drones, peças sobresselentes para gasodutos, equipas de ciber-resposta rápida e campanhas públicas de informação”, sublinhando que “é necessária uma nova mentalidade para todos nós”.

Nas últimas semanas, foram registadas incursões semelhantes na Polónia, Roménia, Noruega e . Também a NATO lançou o programa “Eastern Sentry” para colmatar lacunas nas defesas aéreas do flanco oriental da Aliança.

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Perante esta vaga de incidentes, Bruxelas discute agora a , uma rede integrada de sensores, sistemas de neutralização e comunicação entre estados-membros para reforçar a proteção aérea europeia. A iniciativa, que faz parte do projeto “Eastern Sentry”, é apoiada pelos países de leste, mas enfrenta dúvidas quanto à sua viabilidade técnica, custo e coordenação jurídica.

, Von der Leyen defende que o sistema deve ter uma abordagem de “360 graus”, capaz de proteger também o flanco sul da Europa e responder a outras ameaças, como desastres naturais, migração irregular e crime organizado, uma reivindicação apoiada por Espanha, Itália e Grécia.

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A proposta, que conta com o apoio dos principais grupos no Parlamento Europeu, é vista por Bruxelas como um passo essencial para defender “o céu e o futuro” da Europa.

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