Troika preocupada com atraso nas reformas e subida do salário mínimo na Grécia

Os atrasos registados na implementação de medidas acordadas e o aumento de 11% do salário mínimo causaram motivos de preocupação na segunda avaliação pós-programa. Grécia arrisca não receber mil milhões de euros.
jean-claude juncker alexis tsipras
Reuters
David Santiago 01 de Fevereiro de 2019 às 17:42

Depois dos elogios que marcaram os últimos meses do programa de assistência financeira à Grécia, fechado no verão passado, as instituições credoras mostram agora preocupação face ao menor ímpeto das autoridades helénicas na implementação das medidas acordadas entre Atenas e a troika para o período posterior ao final da intervenção externa. Temem ainda que medidas como o aumento de 11% do salário mínimo coloquem em causa a consolidação das contas públicas.

PUB

A segunda missão trimestral pós-programa – a Grécia está sob monitorização reforçada desde o final do terceiro e último resgate – terminou há uma semana e, sabe o Negócios, a troika ficou preocupada com o atraso na execução das políticas acordadas em 2018.

As instituições credoras deram indicações ao governo liderado por Alexis Tsipras para, nas próximas semanas, acelerar a resolução dos problemas identificados, designadamente no que diz respeito à redução do nível elevado de créditos malparados e ao atraso nos pagamentos do Estado a fornecedores, dossier para o qual foi destinada uma verba específica e que a Comissão Europeia esperava por esta altura ver já resolvido. Apesar de o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, ter relevado o facto de os bancos helénicos terem melhorado substancialmente o respetivo nível de capitalização, o problema do malparado continua por resolver. 

PUB

Também o quadro macroeconómico no médio e longo prazo gerou apreensão, em particular depois de esta semana Tsipras ter anunciado um aumento de 11% do salário mínimo nacional para 650 euros. Um grupo de trabalho composto por especialistas havia aconselhado a que o aumento do salário mínimo não fosse além dos 6%. Ainda assim, a troika considera que a meta de 3,5% para o saldo primário em 2019 está em condições de ser cumprida, pelo que a preocupação prende-se com os próximos anos.

Segundo o diário grego Kathimerini, uma fonte da Comissão Europeia admite que este aumento do rendimento mínimo até pode dar um impulso positivo à economia com o reforço da procura interna, contudo "a competitividade e o crescimento [económico]" deverão ser penalizados.

PUB

Ao Negócios, um porta-voz deste órgão executivo da União Europeia frisa que Bruxelas nada teve a ver com esta decisão: "o governo definiu o salário mínimo na sequência de consultas feitas aos parceiros sociais e com base na opinião de um grupo de especialistas". Este porta-voz acrescenta que o "impacto" deste aumento será analisado no relatório da segunda avaliação trimestral pós-programa, que é publicado a 27 de fevereiro.

Atenas corre o risco de não receber quase mil milhões

PUB

Na reunião do Eurogrupo de junho do ano passado que deu luz verde à última tranche prevista no programa helénico, ficou definido que a Grécia receberia ainda pagamentos até 2022 mediante a execução de reformas que, em grande medida, consistem nas 16 ações prioritárias exigidas há um ano para finalizar o resgate.

Os atrasos agora verificados poderão colocar em causa o recebimento de cerca de 600 milhões de euros dos lucros do BCE que são distribuídos aos países da área do euro, verba que só será atribuída à Grécia depois de as reformas estarem em pleno no terreno.

PUB

Acrescem ainda mais de 300 milhões de euros que podem ser libertados com vista à redução da dívida grega e cuja libertação está também dependente da execução daquilo a que a Comissão chama de compromissos políticos.

Atenas terá de acelerar o passo para, na reunião do Eurogrupo agendada para 11 de março, apresentar avanços concretos nas reformas exigidas pela troika, em especial na questão da redução dos níveis de malparado e dos pagamentos aos fornecedores. O prazo definido pela troika para ver estas medidas no terreno termina em meados de fevereiro.

PUB

Será também neste encontro dos ministros das Finanças da Zona Euro que vai ser discutido o relatório da supervisão reforçada relativo à missão trimestral que decorreu entre 21 e 25 de janeiro.  

A Grécia vive uma fase de normalização, para o que contribuiu, esta semana, o regresso autónomo aos mercados de dívida. Também a subida do salário mínimo consistiu na primeira e simbólica medida no âmbito desta normalização, isto por parte de um primeiro-ministro que chegou ao poder em 2015 com a promessa de acabar com a austeridade.

PUB
Pub
Pub
Pub