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César das Neves: "Muitos direitos adquiridos foram irresponsavelmente atribuídos com dinheiro alemão”

César das Neves diz que cortar quatro mil milhões de euros na despesa é apenas um primeiro passo para tornar o país sustentável. Mexer em “direitos adquiridos” é inevitável, até porque muitos não o são de facto. Quem acha que nada de estrutural tem de se mudar está alimentar a fantasia e a irresponsabilidade criminosa.

César Neves
César Neves
Negócios 21 de Janeiro de 2013 às 12:45

“Grande parte dos supostos direitos não foram de todo adquiridos, mas atribuídos irresponsavelmente com dinheiro alemão. Foi bom recebê-los e custa a deixar, mas não há alternativa”. Quem o afirma é João César das Neves, professor de Economia da Universidade Católica, segundo o qual Portugal chegou finalmente à questão decisiva das reformas estruturais, “discutidas há décadas e sempre adiadas”, em que terá de avançar para a etapa seguinte da resolução da crise. “A situação nacional não se resolve só eliminando gorduras. É preciso cirurgia profunda e estrutural”, escreve hoje no Diário de Notícias.

Sobre as reacções ao trabalho técnico  do FMI, César das Neves lamenta que perante um “contributo tão importante para o nosso problema essencial”, a grande maioria das reacções tenha sido “extravagante”. “Todos concordamos que temos uma crise grave e fundamental, que exige medidas profundas. Mas, logo a seguir a este consenso, grande quantidade dos analistas envereda por uma ilusão cómoda, para evitar enfrentar a realidade. Muita gente está plenamente convencida que a crise se deve a um punhado de maus (corruptos, incompetentes, esbanjadores) e, pior, que basta eliminá-los para tudo ficar normal. Nas actuais circunstâncias esta fantasia é irresponsabilidade criminosa", até porque não há corrupções, incompetências e desperdícios que cheguem para justificar que Portugal tenha hoje uma dívida nacional externa bruta total quase duas vezes e meia superior ao produto e uma dívida pública bem acima do PIB.

“Quem fez isso não foram os ricos, políticos, ladrões. Tem de ser a vida comum e os hábitos dos cidadãos honestos a gerá-lo. Muitos nos lembramos como estávamos há 20 anos, e como tudo melhorou tão depressa. Muito disso foi mérito e crescimento sólido, mas a euforia empolou e foi-se para lá do razoável. Agora a situação nacional não se resolve só eliminando gorduras. É preciso cirurgia profunda e estrutural. Não é sina nacional, até porque vimos igual noutras zonas. Mas tem de ser feito”.

O professor de Economia escreve ainda que a maioria das críticas não olha para a situação nacional, mas para os interesses afectados, falando então em “’direitos adquiridos’, sem notar que esse é outro nome da doença”. “Existem direitos básicos que o país tem de garantir a todos. Nesses não se pode tocar, nem ninguém quer que se toque. Mas grande parte dos supostos direitos não foram de todo adquiridos, mas atribuídos irresponsavelmente com dinheiro alemão. Foi bom recebê-los e custa a deixar, mas não há alternativa. Se quisermos um dia lá chegar de forma sustentável”.

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