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IRS Jovem e descida do IRC podem levar ao défice já em 2025
Se o Governo avançar com o IRS Jovem ou corte do IRC nos moldes iniciais, o excedente de 2025 pode passar a défice. FMI deixa avisos na véspera de nova reunião entre Governo e PS sobre OE. Executivo diz que não pretende alterar propostas.
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IRS jovem é caro e de eficácia duvidosa
O FMI começa por defender que a receita com IRS não devia baixar mais. Referindo-se implicitamente ao IRS Jovem, o FMI afirma: "as taxas preferenciais baseadas na idade são caras e levantam dúvidas de equidade e a sua eficácia para reduzir a emigração é incerta".
Apoios diretos para travar a emigração
Para o FMI, o argumento de que o IRS Jovem vai travar a fuga de cérebros não colhe. A equipa de missão defende que seria mais eficaz recorrer a apoios sociais direcionados a quem precisa (mediante condição de recursos) e diz que há margem para o fazer.
Prioridade deve ser derrama e não taxa
"Em vez de reduzir a taxa nominal, a prioridade devia ser dada à redução progressiva da derrama e da derrama municipal", frisa o FMI. Para o fundo, descer as derramas ia ajudar a alinhar a taxa de IRC média com a Zona Euro e "incentivar o crescimento das empresas". É que, para a equipa de missão, a progressividade neste imposto tem um incentivo perverso: trava o crescimento das empresas. Na resposta, o Governo diz que que "a prioridade não é essa, é reduzir o IRC para todas [as empresas], de forma transversal".
FMI pede Prudência orçamental
Para compensar as medidas com caráter permanente de redução de receita ou aumento de despesa, o FMI defende que o Governo deve ter uma política orçamental prudente, e que serão necessárias medidas adicionais" que compensem para alcançar os objetivos e para criar "espaço adicional" para o investimento em infraestruturas e no capital humano.
Menos despesa fiscal
O FMI recorda que a despesa fiscal, ou seja, a receita que não entra nos cofres do Estado por causa dos benefícios fiscais, representa 6% do PIB (bem acima da média europeia, de 4%). Nesse sentido, diz que há margem para reduzir esta despesa.
Reforma das pensões, governo afasta
Para o FMI, conter as pressões na despesa com as pensões - que estima aumentem ao ritmo de 0,14% do PIB por ano) continua a ser uma prioridade. Nesse sentido, defendem "mais ajustamentos" ao sistema de pensões, incluindo a ligação da idade mínima de reforma à esperança média de vida. No entanto, ao FMI, o Governo disse que "não planeia, nesta fase, avançar com uma reforma nas pensões".
Menos regulamentação na habitação
Para o FMI, continua "a ser crucial" aumentar a oferta de habitação para resolver os problemas no setor e, nesse sentido, pede menos regulamentação - a nível nacional e local - para a construção. O Fundo entende que "subsídios e subvenções para vários grupos demográficos seriam úteis se fossem devidamente direcionados para famílias vulneráveis".
O ligeiro excedente de 0,2% do PIB estimado para 2025 pode passar a défice se o Governo avançar com a redução do IRS Jovem ou com o corte do IRC nos moldes iniciais, admite o Fundo Monetário Internacional (FMI) numa análise sobre a economia portuguesa publicada esta quarta-feira e na qual se foca, entre outras questões, na política orçamental.
Horas mais tarde, na conferência de imprensa que se seguiu à reunião do Conselho de Ministros, o ministro da Presidência rebateu as críticas, afirmando que “não está no plano do Governo alterar propostas”. Uma das propostas do FMI passa por um corte na derrama estadual, algo que Leitão Amaro disse que não está em cima da mesa. Já em relação à política orçamental, considerou que o FMI “confirma que a estratégia do Governo é de equilíbrio orçamental”.
A equipa de missão, liderada por Jean-Francois Dauphin, estima um excedente de 0,2% este ano e no próximo – em linha com o Governo. Nestas previsões, o FMI está a incluir as medidas com impacto orçamental decididas no Parlamento à revelia do Governo (como as alterações no IRS e a redução do IVA da eletricidade), mas não está a considerar medidas que foram apenas anunciadas. Ora, considerando estas medidas, que, nos moldes iniciais custariam mil milhões (no IRS Jovem) e 500 milhões (na redução em dois pontos do IRC), os números do Fundo sinalizam que não seria possível manter o excedente em 2025.
Segundo as estimativas da instituição para o PIB nominal do próximo ano, o excedente passaria a um défice de 0,1% apenas com o IRS Jovem, a um saldo nulo com o IRC e a um défice de 0,3% com as duas medidas.
Também o Conselho das Finanças Públicas estima que o IRS Jovem leve as contas públicas ao défice, mas apenas em 2026. No entanto, a instituição portuguesa parte de ponto de partida superior (um excedente de 0,7% este ano).
FMI apela a consensos
O aviso do FMI surge em vésperas de mais uma reunião entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos, para negociar a viabilização do Orçamento do Estado (OE) para 2025 – com o IRS Jovem e a descida transversal do IRC a traçarem uma divisão entre ambos.
Nos últimos dias, o Executivo tem dado sinais de alguma abertura. No acordo de rendimentos deixou de prever uma descida de dois pontos no IRC em 2025 (falando antes de uma redução progressiva até 2028) e no caso do IRS Jovem deixou de se referir à redução de taxas. Montenegro garantiu que a redução da carga fiscal sobre as empresas “é para cumprir”, mas sublinhou que vai avançar nas negociações sobre o OE “com espírito de cedência”.
E para o FMI o principal risco interno para a economia portuguesa, no curto como no médio prazo, é o da incerteza política. “O novo Governo pode enfrentar dificuldades em implementar políticas, incluindo a consolidação orçamental e as reformas estruturais necessárias para suportar o crescimento económico”. Nesse sentido, deixa um único conselho: “Construir consensos políticos”.
Medidas têm de ser compensadas
Num “briefing” com jornalistas, Jean-Francois Dauphin não se comprometeu com o impacto das duas bandeiras do Governo nas contas públicas. Questionado sobre se seria possível acomodar um excedente em 2025 avançando com o IRS Jovem e com o IRC, o chefe de missão disse que, por um lado, seria necessário atualizar a receita fiscal (que pode estar ainda mais acima do previsto) e, por outro, perceber como é que a medida seria definida. “É preciso garantir que as medidas calibradas alcançam o objetivo”, defendeu.
Depois, focou-se no médio prazo. “Mas isso é importante não só no próximo ano, mas de maneira sustentável. Se há medidas com impacto permanente, que reduzam a receita ou aumentem a despesa de forma permanente, então [o Governo] deve garantir que são compensadas com medidas permanentes”, afirmou Jean-Francois Dauphin. “Não devem ser financiadas com medidas cíclicas”.
Entre as medidas defendidas pelo FMI está a redução da despesa com os benefícios fiscais, a atualização da taxa de carbono e uma revisão da despesa pública.
No entanto, parte destas recomendações não colheram frutos. Segundo o FMI, “o Executivo acredita que mais produtividade, receitas fiscais mais elevadas dos lucros das empresas, a reversão das reduções nos impostos energéticos e algum aumento na taxa de carbono devem ser suficientes para alcançar as metas orçamentais no médio prazo”.
Tome nota
Os recados do FMI para o próximo Orçamento do Estado
Críticas ao IRS Jovem e à descida do IRC, mais prudência orçamental, menos despesa fiscal, mexida nas pensões... eis algumas das recomendações que o FMI deixa nas vésperas de entrega de proposta de Orçamento do Estado para 2025 ao Parlamento.