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Portugal e Angola já não têm irritante. Falta ganhar a confiança

A diplomacia portuguesa está a trabalhar para que António Costa visite Angola ainda este ano. As empresas passaram ao lado do congelamento das relações políticas entre os dois Estados.

27 de Maio de 2018 às 22:00

"Não posso dizer que as relações económicas vão melhorar porque, na verdade, não pioraram". É assim que o líder de uma organização empresarial, sob anonimato, responde à pergunta: a transferência do processo Manuel Vicente vai ajudar a melhorar o ambiente de negócios bilateral?

O desfecho do caso do antigo vice-presidente angolano teve, contudo, um efeito imediato. Tanto Portugal como Angola querem recolocar as relações entre Estados num plano de normalidade, sendo expectável que o primeiro-ministro, António Costa, visite Luanda ainda este ano, como adiantou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, ao Negócios.

Um outro factor pode até ajudar a um melhoramento das trocas económicas, resultante de algum desafogo dos cofres do Estado angolano. O Governo de João Lourenço elaborou o Orçamento para 2018 com base numa cotação média do petróleo de 50 dólares, sendo que actualmente esta matéria-prima está a cotar nos 80 dólares. Este cenário abre espaço para um potencial aumento das compras públicas que pode ser aproveitado pelas exportadoras nacionais.

Desconfiança vai manter-se

O Presidente  da República de Angola, João Lourenço, sabe que o investimento estrangeiro (IDE)  e a introdução de critérios de transparência na avaliação dos projectos são decisivos para relançar a economia do país. Daí a aprovação de uma lei que coloca um ponto final na obrigatoriedade de sócios nacionais terem uma posição de pelo menos 35% no capital social das empresas e também nos limites ao IDE. Em Agosto, está prevista a entrada em vigor de uma nova pauta aduaneira que irá isentar tarifas para a importação da generalidade dos factores de produção, em particular máquinas.

No plano teórico, o caminho de aproximação bilateral parece desimpedido. Mas a realidade é substantivamente diferente. "Vai haver um período inicial de alguma desconfiança e é preciso vencer essa percepção", afirma um empresário português há muito radicado em Luanda. Segundo o mesmo interlocutor existe sempre no ar a possibilidade de um novo "irritante" (palavra que Augusto Santos Silva usou para classificar o caso Manuel Vicente) e por isso João Lourenço tem "várias alternativas" a Portugal em matéria de relações preferenciais. Por outro lado, adianta, "houve uma parte em Angola que não gostou que a crise tivesse acabado". Oficialmente,  o fim do imbróglio Manuel Vicente é visto como a abertura de um "novo capítulo" nas relações bilaterais, segundo o futuro embaixador de Angola em Portugal, Carlos Alberto Fonseca.

Em paralelo, o chefe do Estado angolano tem já marcadas visitas oficiais  a França e Espanha, dois países nos quais deposita grandes esperanças em termos de captação de investimento estrangeiro. 

"A situação desanuviou. Vamos ver o que  os portugueses vão fazer com isso", remata um outro empresário nacional instalado em Angola. Um primeiro teste a esta aproximação deverá acontecer em Julho, durante a realização da FILDA – Feira Internacional de Luanda, onde os empresários deverão marcar presença em força acreditando que a diplomacia abriu caminho para um novo começo. 

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