Aliança de governo no Japão à beira do colapso

A saída do partido Komeito do Executivo ameaça desfazer uma coligação que há décadas garante estabilidade ao Japão e deixa Sanae Takaichi perante o desafio de governar com uma base parlamentar enfraquecida.
Yuichi Yamazaki Lusa/EPA
João Silva Jesus 09:04

A coligação que sustenta o poder político no Japão durante mais de um quarto de século está à beira do colapso. , o partido Komeito decidiu abandonar a parceria com o Partido Liberal Democrata (PLD), liderado por Sanae Takaichi, pondo fim a uma aliança que garantiu estabilidade governativa quase ininterrupta desde 1999. A decisão, noticiada pela emissora pública NHK, representa um duro golpe para Sanae Takaichi, que ainda nem foi formalmente eleita primeira-ministra.

, o líder do Komeito, Tetsuo Saito, comunicou pessoalmente a Takaichi a decisão de encerrar a coligação durante uma reunião esta sexta-feira. O impasse nas negociações terá resultado de um desacordo em torno das regras de financiamento partidário, um ponto que acabou por fazer ruir a relação entre os dois parceiros. A saída do Komeito deixa o PLD sem a maioria parlamentar que detinha nas duas câmaras, agravando a vulnerabilidade política de Takaichi logo à entrada em funções.

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Segundo a Bloomberg, o PLD, partido de centro-direita que domina o cenário político japonês há décadas, tem atualmente 296 assentos nas duas câmaras do Parlamento, enquanto o Komeito controla 45 lugares. Apesar de o PLD continuar a ser a maior força política, a perda do apoio do Komeito deverá complicar a aprovação de orçamentos e legislação, especialmente num momento em que o país enfrenta um crescimento económico anémico e desafios orçamentais crescentes.

A Reuters recorda que a coligação PLD-Komeito foi responsável pela governação do Japão em praticamente todo o período desde o final dos anos 1990, com exceção de um breve interregno entre 2009 e 2012, quando o Partido Democrático assumiu o poder. O Komeito, de inspiração budista e ligado ao movimento Soka Gakkai, tem funcionado como uma força moderadora dentro do governo, travando algumas das propostas mais nacionalistas e militaristas de líderes conservadores do PLD, incluindo políticas de defesa mais assertivas e revisões constitucionais.

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Com este divórcio político, Saito afirmou que o seu partido não apoiará Takaichi na votação parlamentar que decidirá o próximo chefe de Governo. Segundo a Bloomberg, mesmo com essa resistência, Takaichi deverá conseguir reunir votos suficientes para ser nomeada primeira-ministra, mas enfrentará dificuldades para governar de forma eficaz.

A reação dos mercados foi imediata. Ainda segundo a Bloomberg, o iene chegou a valorizar-se frente ao dólar, atingindo brevemente 152,39 ienes por dólar após a notícia da rutura, antes de devolver parte dos ganhos. A instabilidade política reforçou a incerteza sobre o rumo económico do país e .

De acordo com a Reuters, a própria escolha de Takaichi para a liderança do PLD tinha inicialmente reforçado o apetite dos mercados por risco, com as bolsas japonesas a subir e o iene a enfraquecer. No entanto, a saída do Komeito inverteu parcialmente esse cenário, ao lançar dúvidas sobre a capacidade da futura primeira-ministra em concretizar a agenda económica que tem defendido.

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Segundo a Bloomberg, resta agora saber se Takaichi procurará novos aliados, possivelmente entre pequenos partidos centristas, ou se optará por governar em minoria, num cenário que pode prolongar a incerteza política e económica no Japão nas próximas semanas.

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