EUA e China. Tarifas são "vetor na competição pela hegemonia mundial"
O acordo temporário entre os Estados Unidos e a China para baixar, durante 90 dias, as tarifas alfandegárias adicionais impostas mutuamente, criou grandes expectativas nos investidores e levou a que os mercados reagissem de forma positiva. O economista Filipe Garcia afirma que não seria possível manter o nível tarifário anterior porque "inviabilizava todo e qualquer comércio bilateral entre os Estados Unidos e a China".
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"Obviamente que isso traria efeitos muito perniciosos para a economia mundial, mas sobretudo para essas duas economias", defende em declarações ao Negócios no NOW.
Questionado sobre este pode ser um sinal do fim da guerra comercial, o economista e especialista em mercados financeiros, sublinha que "esta guerra insere-se dentro de um conflito que é mais lato e que tem a ver com aquilo que, por um lado, ideologicamente os EUA consideram como sendo essencial, que é ter algum protecionismo sobre a sua economia, e depois um outro conflito, esse muito mais complicado, muito mais longo e de difícil resolução, que é a competição entre os Estados Unidos e a China pela hegemonia mundial em todos os campos". "A guerra comercial acaba por ser um dos vetores dessa guerra, na busca pelo domínio tecnológico, militar, económico, e de alguma maneira isso não está propriamente resolvido, nem vai estar resolvido nos próximos tempos", indica.
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No entanto, acrescenta Filipe Garcia, para já Donald Trump não teve os efeitos pretendidos. "Do ponto de vista do balança comercial propriamente dita, o que teve foi exatamente o resultado oposto, ou seja, o défice aumentou porque houve uma antecipação das importações provenientes da China e de outros locais, como por exemplo a Europa, para prevenir estas tarifas ou tarifas ainda mais altas".
Por outro lado, Trump "tem uma vitória internamente por dar ao seu eleitorado aquilo que tinha prometido e mostrar uma posição de força. Tem sido internamente propagada a mensagem de que está a cumprir o que prometeu e a defender os interesses norte-americanos". Já do ponto de vista internacional, "a credibilidade de Donald Trump, por um lado, mas em sentido mais lato, da Casa Branca e dos EUA como um todo, está colocada em causa, as relações com os seus principais aliados estão claramente prejudicadas".
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Por fim, do ponto de vista económico, Filipe Garcia acredita que "os danos de confiança aos agentes económicos, inclusivamente dos Estados Unidos, vão ser muito difíceis de recuperar. Estamos a falar das empresas, mas estamos também a falar das famílias, nas suas decisões de consumo, poupança, investimento, etc. Tudo isso está bastante alterado".
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