EUA exigem que Europa feche torneira ao gás russo para endurecer sanções contra Putin

O braço-de-ferro energético entre Washington e Bruxelas intensifica-se numa altura em que a União Europeia tenta conciliar sanções à Rússia, metas de neutralidade carbónica e segurança no abastecimento.
Sergey Dolhzenko/EPA
João Silva Jesus 08 de Setembro de 2025 às 17:19

Os Estados Unidos voltam a pressionar a União Europeia a cortar de forma definitiva as importações de gás e petróleo russos, sob pena de não avançarem com novas sanções contra Moscovo. O alerta foi deixado pelo secretário da Energia norte-americano, Chris Wright, que defendeu que os fluxos de energia continuam a alimentar “a máquina de guerra de Putin” e a travar os esforços para encerrar o conflito na Ucrânia.

Wright foi claro ao afirmar que, se os países europeus “traçassem uma linha” e deixassem de comprar gás e petróleo russos, Washington estaria disposto a endurecer a sua posição contra o Kremlin. Em contrapartida, os EUA querem que o bloco europeu aumente significativamente as importações de gás natural liquefeito, gasolina e outros produtos energéticos norte-americanos, num esforço para cumprir o acordo comercial que prevê 750 mil milhões de dólares em compras de energia até 2028, de acordo com o Financial Times.

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A pressão de Washington surge num momento em que Bruxelas prepara o 19.º pacote de sanções contra a Rússia, que poderá abranger bancos, empresas de energia, sistemas de pagamento e até plataformas de criptomoedas. O objetivo é fragilizar ainda mais a economia russa e forçar Moscovo a negociar. Para isso, a União Europeia pretende , mas a administração Trump tem evitado aplicar restrições adicionais sem compromissos europeus mais firmes. O secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, reforçou no domingo que os EUA “estão prontos para aumentar a pressão sobre a Rússia, mas esperam que a Europa acompanhe”.

Apesar de os fluxos de petróleo russo para a União Europeia terem caído de forma expressiva desde 2022, os números revelam que a dependência em relação ao gás natural permanece significativa. Dados do “think tank” Ember mostram que o gás russo representou 14% das importações europeias em 2024, menos do que os cerca de 40% registados no início da guerra, mas ainda assim acima de 2023, devido ao aumento das compras de gás natural liquefeito, recorda o Financial Times. O compromisso europeu é eliminar totalmente a dependência de petróleo e gás russos até 2028 mas países como Hungria e Eslováquia continuam a opor-se, dada a forte dependência do fornecimento mais barato por gasoduto.

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No plano comercial, a relação entre UE e Rússia também sofreu uma viragem. , resultado da queda acentuada das importações de energia russa. Enquanto as compras de petróleo recuaram de forma drástica, as despesas com gás mantiveram-se praticamente inalteradas face a 2021. Houve, no entanto, um aumento nas importações de fertilizantes, enquanto setores como o farmacêutico e a maquinaria continuam a liderar as exportações europeias para o mercado russo, de acordo com os dados do Eurostat.

Mas o debate não se limita ao tema energético. Wright deixou críticas duras à política climática europeia, considerando que a estratégia de neutralidade carbónica para 2050 representa um “colossal desastre humano e económico”. Para o responsável, regulamentos como o Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira, a regulação sobre emissões de metano e a diretiva de sustentabilidade empresarial criam “enormes riscos legais” para as exportações norte-americanas, ameaçando todo o acordo comercial transatlântico, refere o Financial Times. Wright acusou Bruxelas de seguir uma “visão exagerada e ativista” sobre as alterações climáticas, que estaria a fragilizar a competitividade industrial europeia e a afastar o continente dos EUA.

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Estas declarações antecedem um encontro marcado para quarta-feira, em Bruxelas, entre Chris Wright e o comissário europeu da Energia, Dan Jørgensen, onde estará em discussão a estratégia de redução da dependência da energia russa e o aumento das importações de energia dos EUA

No imediato, a União Europeia enfrenta o dilema de conjugar três objetivos que nem sempre caminham lado a lado: garantir segurança energética, endurecer a pressão económica sobre Moscovo e cumprir os compromissos de transição climática. Para Washington, a prioridade passa por reforçar as sanções e abrir mais espaço ao fornecimento energético norte-americano. Já Bruxelas procura equilibrar a agenda geopolítica com a ambiental, consciente de que o corte total com o gás russo continua a ser um dos pontos mais sensíveis para a coesão interna do bloco.

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