EUA exigem que Europa feche torneira ao gás russo para endurecer sanções contra Putin
Os Estados Unidos voltam a pressionar a União Europeia a cortar de forma definitiva as importações de gás e petróleo russos, sob pena de não avançarem com novas sanções contra Moscovo. O alerta foi deixado pelo secretário da Energia norte-americano, Chris Wright, que em entrevista ao Financial Times defendeu que os fluxos de energia continuam a alimentar “a máquina de guerra de Putin” e a travar os esforços para encerrar o conflito na Ucrânia.
Wright foi claro ao afirmar que, se os países europeus “traçassem uma linha” e deixassem de comprar gás e petróleo russos, Washington estaria disposto a endurecer a sua posição contra o Kremlin. Em contrapartida, os EUA querem que o bloco europeu aumente significativamente as importações de gás natural liquefeito, gasolina e outros produtos energéticos norte-americanos, num esforço para cumprir o acordo comercial que prevê 750 mil milhões de dólares em compras de energia até 2028, de acordo com o Financial Times.
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A pressão de Washington surge num momento em que Bruxelas prepara o 19.º pacote de sanções contra a Rússia, que poderá abranger bancos, empresas de energia, sistemas de pagamento e até plataformas de criptomoedas. O objetivo é fragilizar ainda mais a economia russa e forçar Moscovo a negociar. Para isso, a União Europeia pretende coordenar medidas com os EUA, mas a administração Trump tem evitado aplicar restrições adicionais sem compromissos europeus mais firmes. O secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, reforçou no domingo que os EUA “estão prontos para aumentar a pressão sobre a Rússia, mas esperam que a Europa acompanhe”.
Apesar de os fluxos de petróleo russo para a União Europeia terem caído de forma expressiva desde 2022, os números revelam que a dependência em relação ao gás natural permanece significativa. Dados do “think tank” Ember mostram que o gás russo representou 14% das importações europeias em 2024, menos do que os cerca de 40% registados no início da guerra, mas ainda assim acima de 2023, devido ao aumento das compras de gás natural liquefeito, recorda o Financial Times. O compromisso europeu é eliminar totalmente a dependência de petróleo e gás russos até 2028 mas países como Hungria e Eslováquia continuam a opor-se, dada a forte dependência do fornecimento mais barato por gasoduto.
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No plano comercial, a relação entre UE e Rússia também sofreu uma viragem. No segundo trimestre de 2025, o bloco europeu registou pela primeira vez um excedente comercial com Moscovo, resultado da queda acentuada das importações de energia russa. Enquanto as compras de petróleo recuaram de forma drástica, as despesas com gás mantiveram-se praticamente inalteradas face a 2021. Houve, no entanto, um aumento nas importações de fertilizantes, enquanto setores como o farmacêutico e a maquinaria continuam a liderar as exportações europeias para o mercado russo, de acordo com os dados do Eurostat.
Mas o debate não se limita ao tema energético. Wright deixou críticas duras à política climática europeia, considerando que a estratégia de neutralidade carbónica para 2050 representa um “colossal desastre humano e económico”. Para o responsável, regulamentos como o Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira, a regulação sobre emissões de metano e a diretiva de sustentabilidade empresarial criam “enormes riscos legais” para as exportações norte-americanas, ameaçando todo o acordo comercial transatlântico, refere o Financial Times. Wright acusou Bruxelas de seguir uma “visão exagerada e ativista” sobre as alterações climáticas, que estaria a fragilizar a competitividade industrial europeia e a afastar o continente dos EUA.
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Estas declarações antecedem um encontro marcado para quarta-feira, em Bruxelas, entre Chris Wright e o comissário europeu da Energia, Dan Jørgensen, onde estará em discussão a estratégia de redução da dependência da energia russa e o aumento das importações de energia dos EUA.
No imediato, a União Europeia enfrenta o dilema de conjugar três objetivos que nem sempre caminham lado a lado: garantir segurança energética, endurecer a pressão económica sobre Moscovo e cumprir os compromissos de transição climática. Para Washington, a prioridade passa por reforçar as sanções e abrir mais espaço ao fornecimento energético norte-americano. Já Bruxelas procura equilibrar a agenda geopolítica com a ambiental, consciente de que o corte total com o gás russo continua a ser um dos pontos mais sensíveis para a coesão interna do bloco.
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