Índia e Rússia reforçam "laços" com acordo de 100 mil milhões de dólares

A aproximação acontece num momento em que as relações da Índia com os Estados Unidos atravessam forte turbulência.
Índia e Rússia reforçam 'laços' com acordo de 100 mil milhões de dólares em cinco anos
Rajanish Kakade/AP
João Silva Jesus 21 de Agosto de 2025 às 12:00

A Índia e a Rússia estão a traçar um plano ambicioso para reforçar os laços económicos e expandir o comércio bilateral para 100 mil milhões de dólares anuais nos próximos cinco anos. A meta, que representa um crescimento de cerca de 50% face aos atuais níveis, foi anunciada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros indiano, Subrahmanyam Jaishankar, durante a sua visita oficial a Moscovo.

No discurso no Fórum Empresarial Índia-Rússia, Jaishankar destacou a urgência em “remover barreiras não tarifárias e reduzir obstáculos burocráticos” para que a cooperação comercial possa fluir de forma mais eficaz. Recordou ainda que “os nossos líderes mantêm-se em contacto próximo e regular”, sublinhando que os dois países precisam de parceiros “confiáveis e estáveis” num mundo marcado por incertezas geopolíticas crescentes, de acordo com a Bloomberg.

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Atualmente, a Rússia ocupa o quarto lugar entre os maiores parceiros comerciais da Índia, enquanto a Índia é já o segundo maior parceiro de Moscovo. O ministro indiano defendeu que, para manter essa dinâmica, será fundamental diversificar o leque de trocas, apostar em joint ventures entre empresas e criar mecanismos financeiros que evitem entraves nos sistemas de pagamento.

A reaproximação entre Nova Deli e Moscovo acontece num momento em que as relações com Washington atravessam forte turbulência. O presidente norte-americano, Donald Trump, impôs já a partir de 27 de agosto. Uma decisão deste tipo poderá colocar em causa os cerca de 85 mil milhões de dólares que a Índia exporta anualmente para os Estados Unidos, tornando esses bens menos competitivos no mercado norte-americano.

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Além das tarifas, a Casa Branca tem criticado o facto de a , uma das principais fontes de receita de Moscovo. Para Washington, essa escolha ajuda a financiar a ofensiva militar russa na Ucrânia. Nova Deli, no entanto, rejeita a acusação e insiste que tem o direito de comprar energia onde for mais vantajoso. O petróleo russo, vendido com descontos generosos, tem sido crucial para controlar a inflação interna e manter os preços acessíveis para a população.

A visita de Jaishankar a Moscovo insere-se no diálogo bilateral anual e deverá abrir caminho para a deslocação do presidente Vladimir Putin à Índia ainda este ano. Do lado indiano, o primeiro-ministro Narendra Modi tem intensificado contactos com líderes do grupo BRICS, apresentando alternativas às dinâmicas comerciais dominadas pelo Ocidente.

Modi falou esta semana com Putin, a quem descreveu como “amigo”, e prepara-se para realizar a sua primeira visita oficial à China em sete anos, para se reunir com o presidente Xi Jinping. Este movimento diplomático sugere que Nova Deli está a diversificar alianças estratégicas num contexto em que a política comercial de Trump ameaça erodir décadas de aproximação com os Estados Unidos.

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