Tillerson quer que a Rússia repense apoio ao "parceiro não confiável" Assad
À preocupação americana a Rússia responde com outra preocupação. Os Estados Unidos estão apreensivos com a situação na Síria e mostram-se cada vez mais empenhados em retirar do poder o presidente sírio, Bashar al-Assad. Já a Rússia mantém o apoio ao aliado Assad e mostra-se "realmente preocupada" com as intenções de Washington em relação à Coreia do Norte.
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É este o panorama que enquadra a chegada, esta terça-feira, 11 de Abril, do secretário de Estado americano, Rex Tillerson (na foto), à Rússia, na primeira cimeira bilateral entre altos responsáveis dos dois países desde a tomada de posse de Donald Trump como presidente em Janeiro último.
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Ainda em Itália, onde hoje terminou um encontro dos ministros dos Negócios Estrangeiros do G7, Tillerson lamentou que a Rússia mantenha o apoio a Assad, que classifica como um "parceiro não confiável", e garantiu que essa aliança "não vai servir os interesses russos no longo termo".
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O chefe da diplomacia americana sugeriu ainda que Moscovo poderá "desempenhar um papel importante" na resolução da crise síria se deixar cair Assad, cujo regime "está a chegar ao fim" e em que a questão passa por "saber como acaba". Nesse sentido, Tillerson considera que a forma como decorrer a necessária "transição" de regime será crucial para o futuro do país.
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O antigo CEO da Exxon Mobil reiterou ainda as críticas já feitas numa entrevista televisiva transmitida no passado domingo, considerando que o continuado recurso do exército sírio a armamento químico demonstra que Moscovo "falhou na sua responsabilidade de assegurar o cumprimento do acordo de 2013".
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Acordo esse que previa a destruição do arsenal químico do regime sírio e que se seguiu à crise desencadeada nesse Verão pelo uso sistemático de agentes químicos pelo exército leal a Assad, que ignorou mesmo a "linha vermelha" traçada pelo então presidente americano, Barack Obama.
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No encontro do G7 que decorreu na localidade de Lucca, na Toscânia, os ministros dos Estrangeiros não chegaram a acordo para o estabelecimento de sanções adicionais contra a Rússia e a Síria.
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"Não houve consenso", admitiu no final o ministro dos Estrangeiros italiano, Angelino Alfano. Na segunda-feira, Reino Unido e Canadá tinham sinalizado a possibilidade de um reforço das sanções impostas a Moscovo na sequência da anexação da Crimeia e das acções russas no Leste da Ucrânia se o Kremlin continuasse a suportar o regime de Assad.
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Os Estados Unidos consideram ter sido o exército sírio a levar a cabo um ataque com armas químicas no norte do país e que causou dezenas de mortes. Em resposta, Washington retaliou com o disparo, a partir de contratorpedeiros ao largo do Mediterrâneo, de uma salva de 59 mísseis de cruzeiro contra a base aérea de Al-Shayrat, de onde terão partido os aviões responsáveis pelo bombardeamento.
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Apesar de poucos dias antes desse ataque a Casa Branca ter confirmado que retirar Assad do poder deixara de ser uma prioridade da sua política externa, o recurso a armas químicas mudou tudo. Tal como pretendido durante a era Obama, Washington quer promover uma "mudança de regime" na Síria porque "não há nenhuma solução política com Assad no poder", sustentou esta segunda-feira Nikki Haley, embaixadora americana nas Nações Unidas.
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Rússia responde com a Coreia do Norte
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A Rússia, que juntamente ao Irão e ao libanês Hezbollah apoia o combate do exército sírio, mantém intacta a aliança a Assad. E aos avisos vindos de Washington, o Kremlin respondeu esta terça-feira com a demonstração de apreensão relativamente à Coreia do Norte, temendo que os Estados Unidos ajam unilateralmente contra o regime norte-coreano.
Demonstrando preocupação quanto à política americana para a Líbia, Síria e Iémen, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov, disse que a Rússia está "preocupada com aquilo que Washington tem em mente para a Coreia do Norte depois de ter sinalizado a possibilidade de uma cenário militar unilateral".
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Em comunicado divulgado antes da cimeira que hoje começa com o seu homólogo, Lavrov afirmou ser fundamental agir no "âmbito de obrigações colectivas", o que é uma chamada de atenção ao ataque americano à base síria, uma decisão que não passou pela ONU, nem pelo Conselho de Segurança da organização e nem sequer pelo Congresso americano.
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No passado sábado, o dia seguinte ao final da cimeira entre os presidentes dos EUA e da China, Donald Trump e Xi Jinping, respectivamente, Washington deslocou um porta-aviões para a península norte-coreana, decisão justifica pelo "comportamento provocatório" das autoridades lideradas por Kim Jon-un. Já esta terça-feira, Trump disse, via Twitter, que Pyongyang "está à procura de problemas".
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North Korea is looking for trouble. If China decides to help, that would be great. If not, we will solve the problem without them! U.S.A.
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Se a nomeação de Rex Tillerson para a diplomacia americana foi inicialmente entendida como mais um sinal de proximidade da administração liderada por Trump a Moscovo e ao presidente russo, Vladimir Putin, as últimas semanas mostram um esfriar das relações, em especial devido aos mais recentes desenvolvimentos na Síria.
O Kremlin considerou o ataque americano como "ilegal" e avisou que novas acções poderiam merecer outra resposta no terreno, onde a Rússia combate, desde Setembro de 2015, com recurso à força aérea os inimigos de Assad: grupos rebeldes considerados moderados e também grupos terroristas como o Daesh.
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Contudo a Casa Branca também já avisou que um novo ataque químico do regime de Assad merecerá uma resposta "proporcional" do exército americano. A conversa entre Tillerson e Lavrov acontece numa fase de tensão entre Washington e Moscovo que poucos acreditavam ser possível há escassas duas semanas.
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