China diz que pode viver sem produtos americanos. UE e Reino Unido desafiam Trump
Pequim acredita que produção doméstica e outras fontes não americanas serão suficientes para responder à procura interna. Londres e Bruxelas preparam declaração conjunta em resposta às tarifas de Trump.
É uma declaração com duplo sentido dos responsáveis chineses, mas com um destinatário: os Estados Unidos. Esta segunda-feira, o vice-presidente da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma – responsável pelo planeamento económico do país – afirmou que, além de manter a previsão de crescimento de 5% para este ano, havia capacidade para sobreviver sem importações de produtos agrícolas e energéticos dos Estados Unidos.
Para tal, Pequim pretende aumentar a produção doméstica de determinados produtos e recorrer a outros fornecedores, evitando os EUA. Zhao Chenxin disse que a produção agrícola e energética nacional, juntamente com as importações de fontes não americanas, seriam mais do que suficientes para satisfazer a procura. "Mesmo que não compremos cereais e sementes oleaginosas aos Estados Unidos, isso não terá grande impacto no abastecimento de cereais do nosso país", afirmou Zhao, citado pelo Financial Times.
Esta garantia foi deixada durante uma conferência de imprensa em que os responsáveis políticos chineses traçaram um retrato bastante positivo sobre o estado da segunda maior economia mundial, com promessas de mais apoios para mitigar os efeitos da guerra comercial iniciada por Donald Trump.
O bloqueio chinês a produtos norte-americanos representaria um duro golpe para os agricultores dos EUA. Em 2024, a China importou cerca de 29,25 mil milhões de dólares de produtos agrícolas norte-americanos, uma queda de aproximadamente 13% face a 2023. Pequim importou petróleo e gás natural num montante de cerca de 13 mil milhões de dólares.
Numa primeira fase, o Brasil e a Argentina são os países melhor posicionados para fornecer produtos agrícolas, em concreto soja e milho.
As declarações de altos responsáveis chineses são mais um sinal de que Pequim demonstra pouca vontade de encetar negociações com os EUA sobre as tarifas impostas por Washington e que tiveram resposta idêntica da China, estando agora com taxas aduaneiras acima dos 100%.
Bruxelas e Londres procuram união
Também do ocidente surgem novos sinais de que ninguém quer fraquejar perante as sucessivas ameaças de Trump com tarifas adicionais, com os seus avanços e recuos. De acordo com o jornal digital Politico, o Reino Unido e a União Europeia preparam-se para assinar uma declaração formal em que se comprometem a manter um "comércio livre e aberto" entre os dois blocos, num claro desafio a Trump.
Um documento de trabalho a que o jornal teve acesso promete uma "nova parceria estratégica" entre Londres e Bruxelas baseada na "manutenção da estabilidade económica global e no compromisso mútuo para com o comércio livre e aberto."
O projeto de acordo faz parte de um conjunto mais vasto de documentos que estão a ser elaborados antes da cimeira de 19 de maio, que é vista como um momento-chave na redefinição das relações pós-brexit. Em cima da mesa estão acordos sobre defesa e segurança, pescas e energia.
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